O casamento perfeito entre a mastectomia e a mamoplastia

Publicado em 28/10/2024 às 06:00.

Felipe Villaça*

A realidade do câncer de mama é um problema que aflige mulheres em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2022 foram diagnosticados 2,3 milhões de casos da doença, gerando a morte de 670 mil pessoas. Os números são globais, mas o panorama brasileiro não é muito diferente quanto à preocupação das autoridades sanitárias.

Por aqui, os dados recentes refletem bem o que promete vir num futuro próximo. Para este ano, a estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de que sejam diagnosticados 73.610 novos casos de câncer de mama – quantidade bastante próxima da projeção anual de 74 mil diagnósticos que a organização projeta entre 2023 e 2025.

Uma das consequências disso é a quantidade de mastectomias realizadas no país. Somente no ano passado, foram 15.768 procedimentos feitos pelo Sistema Único de Saúde (SUS), conforme um estudo que usou como fonte o banco de dados do Sistema de Informação de Câncer (Siscan). A mastectomia é a cirurgia de remoção parcial ou total da mama, e que se converte muitas vezes num caminho inevitável no combate ao tumor.

É preciso compreender que, embora seja essencial para a preservação da vida da mulher com câncer, naturalmente isso a afeta de diversas formas: além de representar um forte impacto em sua autoestima, fisicamente a extração da mama pode resultar em dores e na limitação dos movimentos do braço mais próximo da região operada. É, portanto, um mal necessário.

Por outro lado, os avanços das cirurgias estéticas têm permitido que as mulheres que se submeteram à mastectomia reencontrem a autoestima através de outro procedimento cirúrgico, a mamoplastia. A reconstrução mamária representa um recomeço desse bem-estar, fortalecendo a autoconfiança.

Para as mulheres que se veem diante dessa nova etapa, a mastectomia passa a ser uma condição provisória, que é encerrada na mamoplastia. O câncer, ainda que traga suas consequências nocivas, não precisa ser visto como o fim da linha para quem vence o tumor. Suas marcas podem se converter em um combustível de autoestima e vivacidade, através da restauração.

Assim, há uma aliança bastante adequada entre a mastectomia e a mamoplastia. Mais do que a reparação física, ambas, juntas, promovem o reencontro entre a vida, o bem-estar e a identidade feminina. Uma mulher fisicamente restaurada também se converte em um indivíduo preparado para desfrutar de uma vida com todos os sabores das (re)descobertas.

Esse também é o papel do Outubro Rosa. Não somente de alertar para os riscos do câncer de mama e para a necessidade do diagnóstico precoce, que se inicia com o autoexame, como também para mostrar que as decorrências do tumor não implicam uma realidade definitiva. A mamoplastia é uma intervenção estética, de fato, mas ela atua em aspectos que tendem a se perder durante a batalha pela vida.

Cada pequena vitória sobre o câncer deve ser encarada como um brinde à vida, e a mamoplastia uma recompensa por essa luta. Toda mulher que vence um estágio merece considerar, pela própria vitória, a realização da cirurgia restaurativa como um grand finale à sua conquista.

* Cirurgião plástico

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