O diabo, o desejo e a Black Friday

24/11/2021 às 16:23.
Atualizado em 05/12/2021 às 06:19

Mauro Condé*

“Ser alegre é gostar de viver mesmo quando as coisas não dão certo ou quando a vida nos castiga” Contardo Calligaris

Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes clássicos da Literatura.

Eles me levaram para o ano de 1831, na cidade alemã de Weimar, onde fui recebido por Goethe, a quem fui logo pedindo:

Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

-Seja senhor e não escravo de seus desejos, pois estes nunca se esgotam.

É de Goethe a obra “Fausto”, livro que narra a história de um sábio, astrólogo e alquimista que se encontra, por acaso, com o diabo Mefistófeles, perdido na rua.

O diabo então propõe um pacto – a alma do alquimista em troca da satisfação de seus maiores desejos.

Fausto aceita a proposta, mas impõe a condição de só se entregar se isso o levar a experimentar o nirvana, um estado máximo de felicidade e sabedoria.

A partir daí, vemos o demônio tentando de tudo para possuir a alma do seu novo alvo.

Fausto era culto e inteligente, mas de poucas realizações na vida e além disso se sentia um ser frustrado no amor, sem dinheiro e sem poder.

Enfeitiçado pelo demônio, adquire inteligência e energia ilimitada, pinta de galã e capacidade de realizar qualquer anseio.

Primeiro o diabo atende seu desejo de sabedoria extrema e o transforma no maior leitor de todos os tempos, com acesso a manuscritos raros e antigos.

Porém Fausto se cansa das palavras e manifesta desejo por ação.

O demônio então lhe providencia novos poderes, na tentativa de saciar seus apetites sensuais, mas logo ele vê que não é sexo nem álcool o que deseja, mas sim a beleza e o amor puro e sincero.

E a cada desejo realizado, o insatisfeito Fausto dá uma canseira dos diabos ao proponente do pacto.

Um pouco mais adiante na história, ele chega a transformar Fausto num líder político, mas a oposição se mostra ainda mais infernal.

Desesperado, o demônio então o ajuda a criar um país totalmente novo, com o objetivo de torná-lo o mais bem sucedido de todos os tempos.

E assim Goethe descreve a saga do ser humano que vive preso dentro do vazio de seus infinitos desejos.

Se vivesse hoje, Fausto facilmente seria descoberto em um shopping atrás das promoções da Black Friday.

Desejar é viver, mas condicionar a felicidade à realização de um desejo é pouco em minha opinião, pois, às vezes, a não satisfação do mesmo é que nos ensina e nos educa a viver melhor.

*Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.

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