O governo João Figueiredo

11/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:50

Aristóteles Drummond*

Os jornais e revistas estão comentando o último livro sobre o período militar de autoria do jornalista Elio Gaspari. Embora se trate de trabalho profundo, rico em informações e tendo como base os arquivos do general Golbery do Couto e Silva, o livro oferece aos mais jovens ou menos informados sobre o presidente João Figueiredo e seu período de governo uma visão preconceituosa, recheada de ironias e até mesmo de deboche.

Procura caricaturar um homem de temperamento difícil, mas preparado, correto, respeitado pelos companheiros de vida militar e chefe de um governo com excelentes resultados, apesar da conjuntura internacional desfavorável. Pode não ter sido, e certamente não foi, um político hábil, mas o saldo foi muito positivo.

A equipe de João Figueiredo foi das de melhor desempenho na história da República. Quem pode questionar o valor de brasileiros como Leitão de Abreu, Camilo Pena, Ernane Galveas, Cesar Cals, Costa Cavalcanti, Nestor Jost, Abi Ackel, Jarbas Passarinho, Delfim Netto, Hélio Beltrão, Murilo Badaró e Saraiva Guerreiro?

A primeira mulher a assumir um ministério de Estado foi a professora Ester de Figueiredo Ferraz, na Educação, e no governo dele. Além disso, Figueiredo prestigiou a Petrobras para que ela triplicasse a produção nacional de petróleo, sem roubalheiras. A Vale executou o Projeto Carajás, a grande mina, a ferrovia e o porto.

O ministro Andreazza foi o grande realizador de casas populares e de obras de saneamento da história do Brasil. Elizeu Resende, nos Transportes, tocou obras rodoviárias de grande importância, como a Rio-Juiz de Fora, a BR-135, ligando o sertão baiano a Belo Horizonte, entre tantas outras. Tocamos Itaipú, construímos Tucuruí.

Grande alcance econômico e social foi a isenção de impostos para os motoristas de táxi. Atendeu a indústria, aos motoristas e aos passageiros, no mesmo pacote. Depois só ajudaram a indústria...

Deve-se a sua determinação a abertura política e uma anistia ampla, total e irrestrita. Na época, até membros da oposição ao regime admitiam que a mesma não atingisse os responsáveis pelos chamados “crimes de sangue”, envolvendo muitos que, anos depois (ou recentemente, se preferir), trocaram o sangue das mãos pela lama da corrupção. Já Figueiredo morreu sem recursos, tendo tido de desativar um modesto sítio em que mantinha dois cavalos, sua grande paixão.

O compromisso democrático herdou do pai, militar de vida pública rica, que conheceu o exílio e viveu a democracia, sendo eleito deputado federal. Família de grandes brasileiros, como os irmãos militares Euclides e Diogo e o escritor Guilherme Figueiredo.

Sábio, João Figueiredo, entre outras previsões acertadas, disse que ainda sentiríamos saudades dele. E os brasileiros que não carregam na alma ressentimentos, idiossincrasias, o veneno ideológico, concordam depois de tudo o que estamos assistindo, no plano ético, moral, da responsabilidade e da mediocridade na gestão do Estado. E no time de gente apagada ou mal falada.

Comparem os homens de Figueiredo e o desempenho da maioria dos anistiados por ele.

(*) Escritor

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por