O sinal do cavalo que subiu no telhado

Publicado em 18/05/2024 às 06:00.

Mauro Condé*

Quer se surpreender?

Então ouça a música “Águas Nativas” do álbum Coração de Gaúcho, de João de Almeida Neto... uma singela homenagem ao bom povo do Rio Grande do Sul, que enfrenta o maior desafio de toda a sua história.

Acabo de voltar de uma viagem rumo ao conhecimento, usando como meio de transporte excelentes palestras sobre Filosofia no Cotidiano.

Elas me levaram para Campinas, em 2014, onde fui recebido por Rubem Alves, a quem fui logo pedindo:

Ensina-me algo que eu ainda não saiba e tenha o poder de mudar a minha vida para melhor.

- Desafie a sabedoria convencional ... aprenda a desaprender tudo o que te ensinaram na vida até hoje... com o intuito de alargar o seu conhecimento e reagir ao desconhecido e inesperado com a sabedoria dos mestres mais preparados para enfrentá-los.

Eu aprendi com o professor Rubem Alves um conceito do Zen Budismo, chamado de Koan, também citado pelo Fernando Gabeira num texto sobre a recente tragédia no Rio Grande do Sul.

O link entre os ensinamentos do escritor e as palavras do intelectual surgiu depois que vi na TV as inacreditáveis cenas de um cavalo... o Caramelo... em cima de um telhado, em Canoas-RS, solitariamente ilhado pelas águas da enchente que tem assolado o Rio Grande nos últimos dias.

A imagem do cavalo em pé no telhado, por um bom tempo, aguardando pelo resgate, viralizou mundialmente e se transformou na metáfora dos tempos modernos.

Tempos de terríveis mudanças climáticas, onde uma onda de calor recorde provoca a alta das águas dos mares e o transbordamento em cidades densamente povoadas.

Aprendi, em uma das últimas palestras do Rubem Alves, que um Koan é composto por narrativas de fatos fabulosos que subvertem a lógica de todo o conhecimento humano, com aspectos não acessíveis à razão.

Os mestres Zen Budistas utilizam os Koans não como instrumento de ensino e aprendizagem, mas de desaprendizagem, para que possamos esquecer o que sabemos, a fim de abrir a nossa mente para que possamos ver o que, de outro modo convencional, não conseguiríamos ver nunca.

Dias antes da tragédia no sul, nem os políticos, nem os técnicos e nem a mídia davam conta antecipada dos riscos iminentes de tamanho desastre, porque quase sempre estão ocupados procurando o futuro escrito no passado.

Um cavalo que sobe no telhado é sinal de uma mexida brusca na lógica de como vemos as coisas, a exemplo dos melhores Koans que desafiam o senso comum.

 *Palestrante, Consultor e Fundador do Blog do Maluco.

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