Patrícia Vilhena*
A inteligência artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta cada vez mais comum em diversas empresas, prometendo aumentar a eficiência, reduzir custos e melhorar a precisão na análise de dados. Nos escritórios de advocacia, ou nos departamentos jurídicos de empresas, é essencial gerir estrategicamente o seu uso, mapeando processos e procedimentos.
A utilização de IA pode incluir desde a automação de tarefas administrativas até a análise preditiva de resultados de processos, assim como a melhora da experiência do cliente. Embora essas inovações possam trazer benefícios significativos, como a redução do tempo gasto em pesquisas e a minimização de erros humanos, elas também levantam preocupações éticas que não podem ser ignoradas.
Um dos principais desafios é a transparência. Os algoritmos que geram resultados não são facilmente compreensíveis. Isso pode dificultar a capacidade de explicar as decisões tomadas com base em análises automatizadas, comprometendo o princípio da responsabilidade profissional. A falta de clareza sobre como as decisões são alcançadas pode levar a um uso indevido da tecnologia. Não por outra razão, empresas de tecnologia já investem em programas que permitam à própria IA explicar a motivação da tomada de determinada decisão.
Outro ponto estratégico essencial na implementação do uso de IA está intimamente relacionado ao compliance. As empresas devem ter conhecimento sobre as normas que regulamentam o assunto, incluindo a legislação comparada, assim como aquelas que não estão diretamente relacionadas à IA, mas a complementam, como, por exemplo, a conformidade com legislações como a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que é imprescindível para assegurar a confiança dos clientes.
Por fim, a responsabilidade ética no uso da IA deve ser uma prioridade. Os advogados têm a obrigação de garantir que a tecnologia seja utilizada de maneira que respeite os direitos dos clientes, fornecedores e a integridade do sistema jurídico. Isso inclui a necessidade de formação contínua sobre as implicações éticas da IA, bem como a promoção de um diálogo aberto sobre as melhores práticas no setor.
Em suma, a inteligência artificial tem o potencial de transformar a prática jurídica, mas seu uso deve ser guiado por princípios éticos sólidos e uma abordagem responsável. Escritórios de advocacia e departamentos jurídicos de empresas que adotem a IA devem fazê-lo com cautela, sempre priorizando a transparência, a imparcialidade, a privacidade e a responsabilidade ética. Dessa forma será possível aproveitar os benefícios dessa tecnologia inovadora, sem comprometer os valores fundamentais da profissão.
*Sócia em Manucci Advogados