Ozzy Osbourne será, sempre, a imagem do ‘heavy metal’
Ex-vocalista do Black Sabbath morreu 17 dias depois do último show do grupo; em 57 anos de carreira, “Príncipe das Trevas” influenciou gerações, colecionou clássicos e histórias inacreditáveis

Homero Gottardello*
Criar um estilo musical “na unha”, quebrando os padrões do final dos anos 60 e início dos anos 70, com uma estética ocultista e uma sonoridade para lá de radical, principalmente para a época, é o maior mérito de Ozzy Osbourne, ex-vocalista do Black Sabbath, que morreu hoje, na Inglaterra, aos 76 anos de idade.
Mais do que pai de família esquisitão, que ganhou uma nova leva de jovens fãs no início dos anos 2000, durante as temporadas de “The Osbournes” na MTV, ele foi um pioneiro daquilo que viria a se consolidar como “heavy metal”. Sua voz de timbre único e seu jeito de caminhar no palco como se estivesse em transe, bem como a temática das letras cunhadas pelo baixista Geezer Butler, os riffs do guitarrista Tony Iommi e a batida forte, cadenciada, do baterista Bill Ward, fizeram do grupo formado em 1968 na cidade operária de Birmingham (Inglaterra), um dos mais influentes da música contemporânea.
Ozzy morreu 17 dias depois de um grande show de despedida, que reuniu os pesos pesados do estilo no mesmo palco do Villa Park em que a formação original da banda se reuniu pela última vez.
Além do sucesso fonográfico obtido em nove discos de estúdio com o Black Sabbath e outros 13 de sua carreira solo, Ozzy também lançou duas biografias, se reinventando como contador de histórias hilariantes e até mesmo “consultor” médico. Com seu próprio grupo, foram 17 turnês mundiais, que chegaram a ter mais de 130 apresentações, como a “Bark At The Moon Tour”, de 1983 a 1985, que passou pelo Brasil para dois shows na primeira edição do Rock In Rio.
Musicalmente, a carreira do artista foi dividida em duas partes distintas, apesar de ser sempre fiel à pauleira. Entre 1970 e 78, com o Black Sabbath, Ozzy foi um vocalista clássico, participando pouquíssimo ou quase nunca das composições – apesar de um acordo de cavalheiros entre os quatro membros da banda dar crédito a todos, inclusive ao baterista Bill Ward, pela obra.
A partir de 1980, quando ressurgiu após a expulsão da Sabbath, passou a dividir os créditos com Randy Rhoads e Bob Daisley, até assumir a autoria exclusiva de grande parte de sua obra – o que foi questionado, inclusive na justiça, por músicos que trabalharam com ele, como Phil Soussan. O guitarrista Zakk Wylde e o produtor Kevin Churko podem ser considerados seus últimos grandes parceiros musicais.
Modulação das gravadoras
Em termos profissionais, Ozzy pode ser considerado um homem do "mainstream", já que nunca criou caso com os diretores artísticos das gravadoras com que teve contrato e sempre aceitou a modulação da indústria fonográfica, o que manteve sua música atualizada e seu personagem em voga.
Apesar do culto em relação à sua persona, Ozzy não produziu um disco relevante, musicalmente, a partir dos anos 90, mas se manteve fiel a um estilo que, na ponta do lápis, garantiu bons retornos comerciais e ótimas posições nas principais listas do mercado. Basta ver que seu último lançamento, o sofrível “Patient Number 9”, de 2022, alcançou o segundo lugar das paradas, na Inglaterra, um impressionante terceiro lugar, nos Estados Unidos, mesmo sendo uma obra contestável – para dizer o mínimo.
Também merece destaque sua “ignorância ostentação”, da qual não se sabe ao certo se era a mais pura alienação ou, apenas e tão somente, jogo de cena. Não há como negar que, como um personagem da cultura de massas, Ozzy também teve uma certa influência social, já que muita gente que o conheceu, bem coroa, pela MTV se identificou com seu desleixo e uma espécie de vazio permanente nas suas ações.
Com a partida do “Príncipe das Trevas”, certo é que o aspecto midiático vai se dissolver no tempo, enquanto a música e a voz de Ozzy Osbourne seguirão como marco zero do “heavy metal” e discos como “Black Sabbath”, de 1970; “Sabotage”, de 1975, apenas para citar dois de seis clássicos do Black Sabbath; além de “Bark At The Moon”, de 1983, e “The Ultimate Sin”, de 1986, soarão eternamente - recomendamos todos, enfaticamente. Que estes e outros discos de Ozzy soem muito alto, no “último” volume!!!
*Colaboração para o Hoje em Dia