Por um foco maior à saúde da mulher

Publicado em 07/03/2022 às 06:00.

Meire Rose Cassini*

O Dia Internacional da Mulher remete em geral aos  direitos, à  participação social, onde ocupa papéis múltiplos e nem sempre em pé de igualdade, à  segurança e proteção e à saúde. Mas é preciso incluir nesta lista de prioridades a qualidade da saúde mental.

E há bons motivos para nos preocuparmos. Um estudo realizado pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP entre maio e junho de 2020 revelou que as mulheres haviam sido as mais afetadas psicologicamente pela Covid-19. Do público feminino que participou da pesquisa, 40,5% apresentou sintomas de depressão; 34,9% demonstrou sintomas de ansiedade e 37,3% de estresse.

Mais recentemente, no fim de 2021, resultados preliminares do Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil) confirmaram que a pandemia afetou principalmente as mulheres. Dentre as mais de 5 mil pessoas investigadas em todo o país, 24% das mulheres apresentaram sintomas de depressão, 20% sofreram de ansiedade e 17% revelaram terem se submetido a estresse. Além disso, cerca de 30% das entrevistadas tiveram baixa qualidade de sono nas 30 noites anteriores.

A pesquisa da Elsa-Brasil também mostrou que as mulheres intensificaram os trabalhos domésticos em quatro horas a mais do que os homens. O quadro de tensão gerado pela pandemia e pelo trabalho, ainda que adaptado às limitações do isolamento social, gerou medo de adoecimento e angústia por ter de permanecer mais tempo em casa e de se distanciar de amigos e familiares, sem contar os impactos de quem perdeu pessoas queridas durante a crise sanitária.

A bem da verdade, sobram estatísticas que retratam a gravidade da saúde mental da mulher, independentemente  do período pandêmico. Pesquisas anteriores já denunciavam os problemas femininos, que passam pela pressão da dupla responsabilidade de atender a uma carga horária de trabalho pesada e menos valorizada que a dos homens sem perder de vista os afazeres domésticos.

Ocupa-se, por sinal com bastante propriedade, de se olhar para os perigos do câncer de mama e do colo de útero, mas é necessário verter essa atenção também para os problemas do universo feminino que não necessariamente aparecem em exames laboratoriais ou clínicos. Os danos à saúde mental por vezes são revelados em atendimentos psicológicos que ocorrem com uma frequência muito menor do que a velocidade com que surgem esses problemas.

Portanto, é apropriado afirmar que muitas das enfermidades que elas suportam são decorrentes de quadros de saúde muitas vezes obscuros, desconhecidos por elas próprias, de maneira que não sabem exatamente a quem recorrer. Isso denota para a necessidade de conscientizar mais sobre as doenças mentais e de promover ações no sentido de atendê-las nessa esfera. Parte dos problemas físicos, inclusive, tende a ser solucionado com o cuidado mental. Basta, portanto, ampliar o foco.

Foco no cuidado!

*Psicóloga e gestora do Serviço de Psicologia do Hospital Felício Rocho

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