Quem paga a conta?

Fabíola Fátima Murad - Larissa Gabriela Martins - Clarianne Luiza Santos
Publicado em 11/08/2022 às 06:00.

Um grande desafio da atualidade é descobrir ou talvez compreender como e de que maneira consumimos conteúdos da internet. Um lugar de criatividade, produtividade, de conexão entre as pessoas, passa a ser visto como um lugar de “lacração”, atitudes e situações forjadas. Destaco aqui alguns assuntos: um é o racismo sofrido por duas crianças negras. 

Num país onde a população negra é marginalizada e excluída; onde o racismo, a discriminação e a injuria racial são corriqueiros e velados, o engajamento dos usuários da internet pela situação ocorrida é um tanto quando surpreendente como irreal e contraditório.

Outro assunto um tanto quanto bizarro é do menino Tiktoker que lambeu uma privada de banheiro público durante a pandemia. Ele ganhou notoriedade e, após ficar “famoso”, diz que só conversa com pessoas relevantes. Para ele, relevantes são pessoas famosas que possuem milhões de seguidores. Em seu relato, diz que não conversa com seus familiares pois não possuem seguidores. Isso inclui a mãe.

Oi? Que as tretas da internet trazem seguidores e gostamos de saber da vida alheia, isso não é novidade. Você pega os jornais mais vendidos, como por exemplo os tabloides na Inglaterra, as pessoas compram para ver escândalos, separações recentes, corrupção, fofoca. O que preocupa é a tal lacração. 

Quando dizemos que uma pessoa lacrou, queremos dizer que ela fez algo extremamente bem, teve uma atitude que despertou muita admiração ou se envolveu em alguma polêmica. Uma pessoa pode lacrar quando se posiciona abertamente sem medo e sem culpa, sendo ela mesma, sem se importar com críticas e repercussões e, geralmente, uma pessoas que lacrou recebe como retornos muitos “feedbacks” de sua postura. 

Levantam-se pautas importantes e são tratadas com superficialidade, descaracterizando a seriedade dos temas. Será que estamos presenciando um futuro de poucas responsabilidades sociais e humanas, de uma sociedade perdida e sem fundamentação? 

Posicionamentos e engajamentos sem entendimento, efêmeros e frágeis. Será que estamos perdendo nossos valores pelo desejo por likes? Ai te pergunto: quem paga a conta? Quem paga a conta de tantas crianças e adolescentes negros que são vitimas de racismo e discriminação e não são filhos de famosos brancos? Quem paga a conta por não termos pensamentos sólidos e fundamentados na ética, educação e respeito ao outro. Quem paga a conta dos modelos de relacionamentos humanos e sentimentos sociais líquidos e rasos?

Afinal, quem irá pagar essa conta?

Fabíola é mestranda em Gestão e desenvolvimento Regional e professora do curso Psicologia das Faculdades Promove e as colaboradoras Larissa Gabriela Martins de Menezes e Clarianne Luiza Santos do Nascimento, estudantes do 10° período. 

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