Juliana Guimarães*
As redes sociais lançam moda e tendências, que, nem sempre, são recomendadas ou devem ser seguidas. Nas últimas semanas, por exemplo, uma série de vídeos com homens raspando os cílios viralizou no tiktok, influenciando outras pessoas a fazerem o mesmo e, também, gerou uma onda de polêmica e preocupação pelos riscos dessa ação em relação à saúde ocular.
O crescente número de homens removendo os cílios se deve à ideia de que, quanto mais curtos, mais masculina seria a imagem, uma vez que as mulheres gostam de aplicar produtos, como máscaras ou realizar a extensão de cílios, valorizando o olhar.
O fato é que uma série de homens optou por diminuir o tamanho dos cílios ou raspá-los completamente, ignorando os motivos biológicos para a existência deles e o comprimento, que nada tem a ver com o sexo biológico ou ser responsável por definir características diferenciadoras entre homens e mulheres.
A verdade é que o tamanho dos cílios, assim como a espessura e curvatura, é definido pela genética, sendo que as alterações em seu comprimento podem afetar completamente a saúde na área, ocasionando problemas.
Os cílios também regulam a hidratação e lubrificação ocular, impedindo o ressecamento da fina película cobrindo os olhos, devido ao contato com o ar. Uma pequena alteração no comprimento já é capaz de provocar incômodos.
Os cílios ainda apresentam a função de proteger os olhos do brilho, reduzindo em até 24% a quantidade de luz e servem como sensores, ativando o reflexo para fechar as pálpebras, todas as vezes que um corpo estranho se aproxima, evitando graves acidentes.
Vale alertar também que o próprio ato de remoção é perigoso, pois requer a aproximação de objetos cortantes, como giletes, tesouras, ou até mesmo, pinças, que, com um simples e rápido deslize, podem atingir diretamente o globo ocular, ferindo a córnea, cuja função também é proteger a superfície ocular. Muitas vezes, os utensílios usados ainda não estão devidamente esterilizados, ampliando os riscos, desta vez, para infecções.
Os cílios até voltam a crescer, contudo, a ação não vale os riscos e não tem nada a ver com sinal de masculinidade ou feminilidade. Caso um indivíduo tenha passado pelo processo e notado o aparecimento de incômodos oculares, é preciso se dirigir rapidamente a um consultório oftalmológico para avaliação.
O oftalmologista orientará a pessoa sobre os perigos da ação, assim como, recomendará colírios lubrificantes ou outros medicamentos, variando conforme as características e gravidade do caso.
* Oftalmologista e diretora do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães