Sedentarismo provoca sofrimento psíquico entre adolescentes

Publicado em 13/05/2025 às 06:00.

Ângela Mathylde Soares*

O sedentarismo é cada vez mais comum em uma sociedade tecnológica e, lamentavelmente, trata-se de uma condição que parece difícil ser revertida. A palavra define uma falta de ação, momentos em que as pessoas permanecem inativas, sem praticar qualquer tipo de exercício físico e, apesar de se locomoverem para trabalhar e/ou estudar, não se dedicam a uma atividade esportiva.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que aproximadamente 47% da população adulta seja sedentária e que, infelizmente, essa taxa seja ainda maior para os jovens, superando 84%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que 1,8 bilhões de indivíduos são inativos, representando 31% da população adulta mundial.

A situação é motivo de alerta, por ser extremamente prejudicial à saúde, ocasionando diversos problemas, como as doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência, câncer e também compromete a saúde mental, sobretudo de adolescentes, conforme revela o estudo desenvolvido pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London, na Inglaterra e publicado no Journal of Adolescent Health.

A pesquisa identificou que passar três horas diárias em comportamento considerado sedentário, como, por exemplo, mexer no celular, jogar videogame, assistir televisão e até mesmo ler, por puro lazer e prazer, aumentam a probabilidade do grupo mais jovem sofrer problemas psicológicos no futuro.

Mais de 3.600 adolescentes participaram dessa investigação, dividida em duas fases: a primeira, realizada quando tinham 14 anos e a segunda, três anos depois, com 17. Na primeira etapa, os jovens preencheram um diário com todas as atividades praticadas a cada dez minutos e, na segunda, um questionário revelou quais eram os tipos de sofrimentos psicológicos individuais. 

O estudo usou a escala de Kessler para análise, método para rastrear o sofrimento psicológico, como ansiedade e depressão, através de uma pontuação. As respostas dos adolescentes demonstraram nervosismo, inquietude, humor depressivo e inutilidade.

Após o cruzamento dos dados, os pesquisadores constataram uma média de tempo de quatro horas de sedentarismo educacional, ou seja, período de tempo dedicado aos afazeres escolares, como estudo, deveres e trabalhos. Outras três horas envolveram o sedentarismo gasto com ou sem a presença das telas. Todos aqueles que mantiveram uma média de 180 minutos em frente a aparelhos eletrônicos apresentaram mais risco para problemas de saúde mental em até três anos. Vale alertar que os videogames ampliam essa probabilidade para 3% a cada hora.

De acordo com o ditado popular, tudo em excesso faz mal e, por isso, o resultado se mostrou surpreendente para casos de sedentarismo e lazer longe das telas, uma vez que uma atividade tão recomendada, como a leitura, pode apresentar malefícios, quando exagerada. Dessa forma, passar três horas lendo também afeta o psicológico de maneira negativa, sobretudo se o hábito é desenvolvido por meninos. 

O motivo está ligado ao “deslocamento” causado pelas histórias, sendo exatamente a mesma justificativa pela qual muitas pessoas se interessam pela leitura. O hábito de ler permite se desligar da realidade corrida, atarefada e desafiadora, causando relaxamento e distração. O uso de dispositivos virtuais para leitura também afeta o sono, devido à luz artificial e, consequentemente, provoca incômodos psicológicos.

A recomendação dos pesquisadores é usar o tempo livre em outras atividades. As ações ao ar livre são bastante positivas para a saúde mental, pois a exposição à natureza propicia uma diminuição dos sintomas de ansiedade e depressão, promovendo uma sensação de tranquilidade. A leitura, celulares e os videogames são considerados bastante pessoais, gerando um isolamento desses jovens em relação a outras pessoas da mesma idade, afetando, assim, as habilidades de manterem uma interação com diferentes indivíduos. A situação é um dos motivos para a proibição do uso dos aparelhos em ambiente escolar.

Contudo, nem todo sedentarismo deve ser considerado negativo, pois o equilíbrio é a base de tudo. A mente humana precisa de momentos de descanso para funcionar adequadamente. Apesar do sedentarismo estudantil ser citado durante a pesquisa, ainda aponta que 60 a 119 minutos em frente às telas, porém, dedicados a atividades educacionais, é uma ação protetora do sofrimento, uma vez que o cérebro precisa ser trabalhado para se manter saudável.

* Neurocientista, psicanalista e psicopedagoga

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