Aristoteles Atheniense*
O anunciado propósito de Jair Bolsonaro em escolher um diplomata competente para comandar a Casa de Rio Branco e que fosse, também, o mais afinado com o interesse nacional, não se concretizou.
Os atritos havidos com a China, países muçulmanos e parceiros do Mercosul, pela repercussão negativa que tiveram, recomendavam cautela na indicação do novo ministro de Relações Exteriores, de modo que o Brasil não se convertesse numa visão tropical do trumpismo, ante o mal-estar criado pelas manifestações açodadas do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes.
Não menos estranho é o comportamento de seu filho, Eduardo Bolsonaro, emitindo avaliações sobre a nossa política externa após encontrar-se nos Estados Unidos com Steve Bannon, estrategista de Donald Trump. Recentemente, foi anunciada a sua ida com um grupo de empresários àquele país, onde se encontrariam com o vice-presidente Mike Pence, o que não passou de uma bazófia já desmentida pela Casa Branca.
A atuação de Eduardo e de seu irmão, vereador Carlos Bolsonaro, em prol da opção pelo futuro chanceler Ernesto Henrique Araújo, foi decisiva para os resultados que o capitão reformado pretende obter durante o seu mandato.
O preferido, através de seu blog “Meta-Politica 17”, apresentou-se como “servidor público e escritor”, tendo como objetivo “ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista”. Esse devaneio estaria pilotado “pelo marxismo cultural”, devendo ser combatido, pois, o seu “objeto último é romper a conexão entre Deus e o homem”.
As suas reflexões são inspiradas em Donald Trump, que tem no presidente eleito um dos seguidores. A seu ver, o mandatário republicano é o único dirigente capaz de resgatar o Ocidente de sua decadência terminal. Daí conferir-lhe um protagonismo superior, bem próximo da divindade.
A despeito das críticas que a indicação gerou, tanto no Brasil como no exterior, Bolsonaro apresentou Ernesto Araújo como um intelectual que se integrou numa cruzada santa contra o marxismo cultural, disseminado pelos professores que minam os fundamentos da família e outras conquistas de nossa civilização.
Diante de tantas e reiteradas fanfarrices, tornou-se razoável a comparação feita entre o diplomata que Bolsonaro premiou com o candidato presidencial Cabo Daciolo (“Glória a Deus”). Válida, pois, a advertência de Clóvis Rossi para o fato de que “uma versão teoricamente intelectualizada do Cabo acaba de ser escalada para o Itamaraty” (“Folha de SP”, 16/11/18)
(*)Advogado e Conselheiro Nato da OAB e diretor do IAB