Telemedicina e sustentabilidade: como a tecnologia pode contribuir para a saúde do planeta

Publicado em 08/07/2023 às 06:00.

Jihan Zoghbi*

Diariamente, acordamos, tomamos banho, preparamos o café da manhã e seguimos para o trabalho de carro ou com transporte público. No decorrer do dia, transitamos para outros pontos da cidade em veículos motorizados. Por fim, chegamos em casa, preparamos a janta e assistimos televisão até pegar no sono. A sucessão de ações rotineiras e comuns à grande parte dos brasileiros pode parecer inofensiva, no entanto, no acumulado do ano, significa, no mínimo, duas toneladas de dióxido de carbono lançadas na atmosfera por apenas um indivíduo. Para minimizar o impacto dessas emissões, seria necessário plantar, aproximadamente, 10 árvores.

Na prática, é pouco provável que saiamos por aí plantando dezenas de árvores. Contudo, pequenas mudanças no dia a dia podem trazer resultados importantes. Mas por onde começar? As possibilidades são inúmeras e vão desde o uso de transportes alternativos, como as bicicletas, até a preferência pelo consumo de produtos locais. Evidentemente que nem sempre é possível lançar mão desses recursos. É por isso que devemos pensar em outras ferramentas com impacto positivo semelhante. E a telemedicina é uma delas. Explico.

Logo que estourou a pandemia de coronavírus, a China, primeiro país afetado, decretou quarentena rigorosa à população. Para além dos efeitos de controle da doença, o país vivenciou uma redução nos níveis de poluição, conforme mostraram, na época, diversas imagens da agência espacial norte-americana, a Nasa. O mesmo foi percebido no Brasil. Segundo um levantamento realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), houve diminuição da poluição em mais de 50% no Rio de Janeiro e de 30% em São Paulo. A paralisação das indústrias e a restrição na circulação de carros e outros meios de transporte foram decisivas para esses resultados.

É justamente nesse sentido que a telemedicina pode auxiliar: diminuindo o deslocamento – muitas vezes desnecessário – de pacientes de casa até o consultório médico ou emergência hospitalar, e vice-versa. Desde que a ferramenta ganhou força, alguns grupos de pesquisadores de todo o mundo se debruçaram sobre o tema para avaliar os seus impactos no meio ambiente.

Em um estudo publicado em maio deste ano no periódico Nature, foram avaliados dados retroativos do Stanford Health Care (SHC), nos Estados Unidos, referentes à emissão de gases de efeito estufa. O relatório considerou informações de 2019 a 2021 para obter seus resultados. Foi evidenciado que, nesse período, houve um incremento de 13% nas visitas clínicas, no entanto, em razão do avanço da telemedicina, as emissões de gases de efeito estufa diminuíram 36%. Assim, cerca de 17 mil toneladas desses poluentes deixaram de ser lançados na atmosfera, concluíram os pesquisadores.

Antes, em janeiro, o Jornal da Associação Médica Americana (Jama) publicou um relatório semelhante. Desta vez, o recorte foi mais preciso: calculou a economia de gases emitidos proporcionada pela telemedicina em consultas de pacientes com câncer. Nesse estudo, foram incluídos mais de 49,3 mil atendimentos do National Cancer Institute, também nos Estados Unidos, via telemedicina. Os autores concluíram que pacientes que moravam a 60 minutos de distância do centro deixaram de emitir 19,8 quilos de dióxido de carbono cada, por visita, ao optar pelas ferramentas digitais. Já aqueles que residiam a mais de uma hora do local pouparam 98,6 quilos de gases. 

Isso comprova que o uso da telemedicina evitou que toneladas e mais toneladas de carbono fossem lançadas na atmosfera em um único centro médico, de um único país. Ao multiplicarmos a sua utilização a uma escala ainda maior, poderemos ter resultados mais relevantes e nos aproximarmos um pouquinho mais dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas. Esse é apenas um grão de areia no deserto, porém, quando somado a tantas outras atitudes, beneficia a saúde do planeta e, consequentemente, a nossa e das gerações que virão. 

*CEO da Dr. Tis

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