Coronel Ailton Cirilo*
O recente caso ocorrido em uma escola particular de Uberaba, onde uma aluna de 14 anos foi morta por um colega da mesma idade, exige reflexão e ação imediata. A investigação concluiu que o ato foi premeditado, motivado por inveja, e que os envolvidos estavam inseridos no ambiente escolar sem qualquer histórico de conflito explícito. Infelizmente, não é um episódio isolado.
Na vida cotidiana de hoje, em que os casais passam o dia inteiro trabalhando, tornou-se comum delegar ao Estado a responsabilidade de educar os filhos. No entanto, é preciso lembrar que o papel da escola é transmitir conhecimento e fomentar a cidadania — e não substituir o lar na formação de princípios e valores. Quando os pais abrem mão dessa função essencial, criam um vazio que pode ser preenchido por influências negativas.
Muitas vezes, a criança ou o adolescente presencia situações de violência dentro de casa e acaba reproduzindo esses comportamentos no ambiente escolar. A ausência da presença ativa dos pais, do diálogo constante e da orientação ética contribui para o surgimento de jovens emocionalmente desamparados e, em alguns casos, propensos a atitudes extremas. Valores se aprendem no berço — a escola pode complementar, mas jamais substituir essa base.
Ao mesmo tempo, o acompanhamento psicológico contínuo de estudantes deve deixar de ser exceção e se tornar política permanente. A estrutura de suporte emocional precisa ser integrada ao cotidiano escolar, especialmente nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, onde a pressão emocional é mais intensa.
Outro ponto essencial é a criação de protocolos claros de segurança, integrando escola, família, conselho tutelar e forças policiais. Não se trata de transformar escolas em ambientes militarizados, mas de garantir um fluxo rápido e eficiente de comunicação e intervenção quando necessário.
Como profissional da área de segurança pública, vejo com preocupação a tendência de só se discutir esses temas após uma tragédia. Precisamos agir antes. A violência escolar não nasce de um dia para o outro. Ela é construída ao longo do tempo, alimentada pela negligência, pela ausência de escuta, pela banalização dos sinais.
Se quisermos evitar novos casos como o de Uberaba, o caminho não está apenas em reações pontuais, mas na construção de uma cultura escolar de paz, cuidado e responsabilidade compartilhada.
* Especialista em Segurança Pública