Logotipo Rádio HED

Redação: (31) 3253-2226

Comercial: (31) 3191-5929

Redação: (31) 3253-2226 - Comercial: (31) 3191-5929

Seu João XavierSeu João Xavier é doutor em Linguagens, Mestre em Linguística, Sociólogo e Professor do Cefet-MG. Escritor que promove pensamento crítico e práticas voltadas à justiça social

Dê uma lidinha, aqui

Publicado em 18/11/2025 às 06:00.

Você já sabe que sou professor de línguas e, por isso, adoro refletir sobre seus usos sociais e como as palavras são maleáveis em seus sentidos. Elas não ficam ali, paradas, acorrentadas a apenas um significado. Camaleonicamente vão mostrando novas roupagens e possibilidades.

Veja a capa, por exemplo. Aquela dos super-heróis, dos livros ou dos cadernos. Se dissermos capinha, ela automaticamente passa a proteger o celular; pequena, discreta, mas super necessária. Um escudo ou amortecedor, dependendo do dia.

O mesmo acontece com as canetas: preta, azul, cinza, todas funcionais. Mas basta um “inho” surgir e pronto! Temos uma canetinha. Um passaporte que nos leva direto aos tempos de escola. Você já parou para pensar no poder que o diminutivo tem? Uma feira? Normalíssima. Mas uma fei-ri-nha... Já parece mais animada, mais cheirosa, mais brasileira.

Curiosamente, algumas palavras já nascem com essa cara de diminutivo, como cozinha, caipirinha ou farinha; e nem por isso são pequenas. A cozinha é o coração da casa. A caipirinha tem cheiro, cor e sabor de Brasil só de ser pronunciada. E a farinha? É pau pra toda obra, mil e uma utilidades. Nunca foi outra coisa a não ser ela mesma: farinha. Vilma e Dona Benta: Amigas ou inimigas? Não sei. Precisaríamos perguntar.

Na escola, muitos têm medo da tal “produção de texto”, mas em dias importantes e especiais, como Dia das Mães ou aniversários de quem a gente gosta, é ela quem salva e nos permite encher o papel com florzinhas, coraçõezinhos e beijoquinhas nas cartinhas.

Uma reuniãozinha pode ser entendida, ironicamente, como uma maratona de quatro horas, no meu departamento. Uma ajudinha é quase sempre bem-vinda, enquanto uma ajuda, em certas situações, pode parecer coisa séria ou até difícil demais. A um “por favorzinho” é mais difícil de dizer não. Por outro lado, uma briguinha dá pra resolver mais facilmente do que uma brigada. Nada que uma “desculpinha”, mesmo meio torta, não seja capaz de costurar o que se rompeu. No hambúrguer, uma batatinha faz toda a diferença. Há quem prefira churrasquinho, coxinha... Talvez um cafezinho, mesmo que seja aquele de capsulinha?

O nosso ouvido ama os diminutivos porque às vezes, o que queremos mesmo é um mundo um pouquinho mais doce, mais leve, mais “inho”.Talvez por isso, quando alguém nos chama com carinho, com um “amorzinho”, “filhinho”, “professorzinho”, a gente não escuta a palavra. Escuta o afeto, a intimidade. Escuta um lugar de proximidade que não se limita às regras da gramática.

Na língua, como na vida, o que parece pequeno muitas vezes carrega um mundo inteiro dentro. Porque o diminutivo, quando bem usado, não diminui. Ele recria e aproxima. Não encolhe. Ele embala. E talvez seja isso o que a gente mais precise nos dias de hoje: palavras que abracem, mesmo que miudinhas. Frases que toquem, mesmo curtinhas. Textinhos que, mesmo pequenininhos, façam a gente se sentir em casa. Afinal, não é o tamanho que define o valor de uma palavra. É o quanto ela consegue nos alcançar. Pode ser até pequeno, mas se tocar você de verdade, já vale mais do que muito textão por aí.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por