Simpatia para acabar com a intolerância e o racismo religioso

15/12/2021 às 15:10.
Atualizado em 29/12/2021 às 00:33

Restando poucos dias para o fim de 2021, as pessoas já estão se preparando para as comemorações que marcam a passagem do ano. Usar roupa branca na virada, pular sete ondas e fazer as mais diversas simpatias para atrair prosperidade, paz, saúde e amor são rituais comuns no Brasil. O que nem todo mundo se dá conta é que tais costumes se originaram das religiões de matriz africana.

Mais de um milhão de pessoas declararam no censo de 2010 que são seguidores de religiões afro-brasileiras, principalmente da umbanda e do candomblé. O próximo censo, previsto para 2022, pode apresentar números bem mais elevados, já que cada vez mais pessoas estão se declarando adeptos dessas religiões. Isso não significa, no entanto, que avançamos no quesito tolerância religiosa.

Segundo o Relatório de liberdade religiosa no mundo, publicado neste ano, pela instituição internacional católica e fundação pontifícia ACN (Aid to the Church in Need/Ajuda à Igreja que Sofre), no Brasil, as religiões afro-brasileiras são as que mais sofrem com a intolerância religiosa. Quem segue uma religião de vertente africana, conforme identificou o estudo, tem mais probabilidade (de 130 a 210 vezes mais), comparado à população geral, de ser atacado com práticas de discriminação religiosa.

Só em 2020 foi registrado um aumento de 70% no número de denúncias de intolerância religiosa  em relação a 2019. Na maioria dos casos, as queixas foram feitas por praticantes de religiões de matriz africana. Ataques a espaços de culto e agressões físicas e/ou verbais são os relatos mais comuns. Trazer esse assunto à tona no mês em que se celebra a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o nascimento de Jesus, o amor, a união e o espírito natalino, é uma tentativa de romper com a hipocrisia de uma sociedade que sempre desconsiderou e tentou apagar as contribuições da tradição africana para a formação de uma nação multicultural.

Para além da intolerância, por se trata de uma crença que se originou dos negros escravizados, o racismo religioso é visceral. Por meio dele, é possível entender como um país construído por mãos negras e que possui a maior população negra fora da África tem um sistema educacional que não valoriza o estudo da mitologia africana, mas inclui em sua base curricular obrigatória o estudo das mitologias grega, romana, nórdica, egípcia e asteca.

Se aprendemos a valorizar essas mitologias e seus deuses, podemos aprender a reconhecer a importância das religiões afro-brasileiras. O segredo está na educação. E por confiar no poder transformador da educação, acredito que o conhecimento é capaz de fazer com que uma pessoa respeite a religião do outro sem deixar de professar a própria fé. E mais: para quem não considera o sincretismo religioso um problema, estudar as religiões afro-brasileiras pode ajudar a descobrir mais rituais para começar um novo ano com o pé direito.

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