Socorro para o socorro

Publicado em 18/03/2022 às 06:30.

Socorro! Impossível começar o texto de hoje sem esse clamor. Ando assustado com as notícias sobre os reajustes abusivos em vários itens essenciais da nossa economia. Não bastasse isso, na última quarta-feira (16), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic de 10,75% para 11,75% ao ano – alta de um ponto percentual.

Esse é o nono aumento consecutivo no índice. Com isso, a Selic alcançou o maior nível desde abril de 2017, quando estava em 12,25% ao ano.

Essa subida representa, infelizmente, um impacto imediato na vida de centenas de milhares dos empreendedores mais afetados pela pandemia, como é o caso dos que atuam na alimentação fora do lar.

Isso porque a Selic serve hoje como referência para definir os juros dos empréstimos concedidos por meio do Pronampe, linha de crédito criada justamente (ou ironicamente) para socorrer pequenas empresas em dificuldades financeiras por conta do coronavírus.  

Para se ter uma ideia mais clara, os empréstimos vinculados ao programa federal, quando lançados em maio de 2020, tinham prazo de pagamento de 48 meses e juros de 1,25% ao ano, mais taxa Selic. Naquela época, ela era de 3% ao ano. Em agosto de 2020, baixou a 2% ao ano. Isso fazia com que os créditos concedidos pelo Pronampe tivessem juros totais de 3,25% ao ano, o equivalente a 0,27% ao mês, taxa muito baixa para a realidade nacional.

Acontece que, a partir de março de 2021, o Copom começou a elevar a Selic. Ela fechou o ano anterior em 9,25% e, depois da decisão de quarta-feira, atingiu 11,75% ao ano.

Isso significa que os juros dos empréstimos do Pronampe chegaram a 13% ao ano, praticamente quadruplicando o custo do crédito concedido.

Deixo aqui dois exemplos para que você perceba o quanto a situação é crítica:

- Digamos que um restaurante, tenha recorrido ao programa e obtido um crédito de R$ 50 mil em algum dos bancos que operaram a linha de crédito. Caso os juros desse crédito tivessem se mantido estáveis em 3,25% ao ano (1,25% ao ano, mais 2% ao ano da Selic antiga) e o empresário pagasse o empréstimo em 48 meses, ao final da quitação de todas as parcelas ele teria desembolsado um total de cerca de R$ 53,3 mil, pouco mais de R$ 3,3 mil em juros.

- Caso esse mesmo empréstimo fosse contraído hoje, ele teria juros de 13% ao ano (1,25% ao ano, mais 11,75% da Selic). Isso faria com que pagasse de volta um total de mais de R$ 64,3 mil, ou seja, mais de R$ 14,3 mil em juros – quatro vezes mais.

 Vale lembrar que só em Minas Gerais, segundo pesquisa recente da Abrasel, 67% dos empresários de alimentação fora do lar têm empréstimos contratados. Destes, 82% tomaram dinheiro com o Pronampe e 14% já estão com parcelas em atraso.

Portanto, um socorro que chegou com a premissa de ‘ajudar’, na verdade vem novamente levando muitos de nós de volta para o poço.

Incoerência, a gente vê por aqui!

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