Geralmente associamos o processo de engordar a questões puramente físicas - resultado de uma má alimentação, sedentarismo ou fatores genéticos. Entretanto, comer vai além disso. Esbarra num profundo e, muitas vezes, desconhecido universo emocional.
Em muitos casos, a comida assume um papel de refúgio e chega como preenchedor de dores como medo, ansiedade e insegurança.
Desde cedo a comida está associada ao carinho, cuidado e aconchego de fazer as refeições juntos à mesa. Portanto, quando estamos emocionalmente fragilizados o ato de comer acaba sendo um preenchedor do vazio que sentimos.
Seu relato é fruto de um mergulho honesto em si mesma, o qual, generosamente, compartilha a seguir:
“Nunca fui uma criança magrinha, mas também não era gorda, embora dentro de casa fosse chamada de “baleinha” e, na turma de amigos, de “Debão”. Fui perceber meu corpo engordar a partir dos 17 anos e só fui entender, de fato, que eu estava acima do peso ao fazer uma bioimpedância e constatar que meu percentual de gordura era acima dos 50%. Aquilo foi um baque!
Revisitando meu passado, percebo que estar acima do peso não me fez esconder da vida. Ao contrário, sempre fui participativa, tinha uma vida social intensa, saía com os colegas de trabalho, namorava e, mesmo sem deixar nada me paralisar, percebi que me preocupava com a validação externa. Teve uma vez que fui convidada para uma viagem de casais para uma praia e eu não fui por não me sentir bem com minha imagem. Afinal, estaria ao lado de mulheres lindas, com corpos bonitos. Aquilo acendeu um alerta!
Depois de ter dois filhos, a situação se agravou e a balança atingiu números nunca antes vistos. Ali me decidi: quero emagrecer.
Comecei a perceber que o que eu comia não era alimento, e sim emoções. Concluí que o medo de não ser aceita me fazia comer mais; constatar que eu não era uma boa aluna, também; quando não me saía bem no trabalho, buscava alívio na comida, e quando eu não me sentia suficientemente bonita entre as amigas, ou legal, ou interessante, eu também comia mais e a todo momento. Cheguei então à constatação: comia por insegurança.
O curioso é que quanto mais comia, mais insegura ficava e mais precisava comer, um ciclo vicioso autodestrutivo e sem fim.
Quando você está numa condição de fragilidade, as pessoas se sentem à vontade para te invadir e sugerem o que você deve fazer com a sua própria vida. Não avaliam se a sugestão é cabível e nem se você tem interesse em ouvi-la, afinal você não a pediu, mas falam assim mesmo. Entendo que a intenção pode ser boa, mas não tira o teor da intromissão. Quando você já está insatisfeita consigo, opiniões de nada ajudam – aliás, só reforçam a sua sensação de fracasso.
Aprendi ao longo dessa caminhada que, sim, alguma medicação pode te ajudar, mas o que vai te manter permanentemente no caminho é só você mesmo. A lição que fica é: somos sempre maiores que nossas limitações”.