Em nossa vida estamos sempre em contato com o sofrimento. Às vezes ele surge em função de uma situação objetiva, como a perda de um ente querido, demissão, grandes decepções, traição no amplo sentido da palavra ou até mesmo sem um motivo específico - como os sofrimentos que derivam dos medos imaginários, preocupações de todas as ordens que também são grandes geradoras de ansiedade, perda de controle sobre as circunstâncias e angústias existenciais, o que é muito comum - o indivíduo começa a sofrer em função de uma falta de sentido na vida ou por não entender seu propósito na vida.
Sofrimento é um sentimento profundo, nebuloso, difícil de explicar, intransferível e que provoca reações diversas em cada pessoa. Para alguns, funciona como um desafio, algo a ser superado e por isso é grande gerador de ânimo; em outros, a resposta é oposta, gera paralisia, raiva, revolta, tristeza e até depressão.
É curioso perceber que boa parte de nós aprendeu a viver com muito medo de sofrer, um verdadeiro pavor e por isso aprendeu a evitar situações que possam sinalizar a mínima possibilidade de dor.
Outro comportamento que percebo com frequência é a busca de alívio em condutas autodestrutivas, como, por exemplo, pessoas que quando estão sofrendo gastam além do orçamento, geralmente em coisas supérfluas que geram grande arrependimento; se atiram em noitadas embaladas a álcool e drogas para ter uma sensação de felicidade, o que só faz piorar, visto que o álcool tem o efeito depressor do sistema nervoso central, além dos efeitos colaterais físicos da ressaca. Na maior parte das vezes, o custo-benefício não compensa, mas ainda assim é um recurso amplamente usado e até incentivado socialmente: “beber para afogar as mágoas”.
Penso que a busca de prazer imediato frente ao sofrimento é um grande equívoco e deveria ser evitada por aqueles cujo interesse é se recuperar mais rápido.
Para lidarmos com sofrimento de forma mais madura é preciso organizarmos emocionalmente a situação. Divido, portanto, em duas categorias: os sofrimentos necessários e os desnecessários. O primeiro tem a ver com um ganho final, e um bom exemplo disso é quando uma pessoa se propõe a largar um vício - ela sofrerá a privação, a abstinência, terá que aprender novos hábitos, mudar condutas, ou seja, há um grande sofrimento envolvido, porém ligado ao êxito daquela situação. Outro exemplo é quando sofremos por uma conduta ruim, na qual nos envergonhamos e temos que admitir que erramos ou poderíamos agir de outra forma. Quando isso ocorre, entramos em torturantes diálogos mentais, porém, se usarmos aquela experiência em prol de um aprendizado - como um divisor de águas, de mudança de postura, aquele sofrimento terá sido de grande valia.
Já os sofrimentos improdutivos são aqueles que não levam a pessoa a lugar nenhum, como por exemplo aquele que sofre por não gostar de alguma parte do seu corpo, ou porque não foi incluído numa situação que gerou rejeição, ou mesmo as dores que derivam da ruptura amorosa que por si só já são muito doloridas, mas algumas pessoas as pioram, não aceitando o término ou entrando num modo investigativo ou de vingança, o que só faz prolongar o sofrimento.
Trabalhar a racionalidade pode nos ajudar a resgatar o amor próprio e definir quais sofrimentos são produtivos e devemos aceitar com dignidade e de quais devemos nos livrar o mais rápido possível.