Umas das queixas recorrentes no consultório é sobre o medo da rejeição. Embora muitos acreditem que só eles sofram desse mal, isso não é verdade. O medo de ser rejeitado é uma condição que nasce em todos nós a partir do trauma do nascimento e se agrava a partir dos reforços que sofremos no decorrer da vida.
O problema deve ser analisado sob três aspectos:
Medo original: a partir do nosso nascimento, a primeira emoção sentida ao ter contato com o mundo externo é a de rejeição, afinal fomos expulsos do útero. Ao nascermos somos então acolhidos pela nossa mãe e posteriormente aconchegados em seu peito.
A amamentação acalma o bebê e não à toa nosso primeiro vício é a chupeta. Esse aconchego que sentimos atenua a sensação de desamparo, que permanecerá acoplada em nós para o resto da vida.
Não há como evitar esse registro, afinal, todos fomos expulsos do útero. Esse “carimbo” imprime em nosso mais profundo inconsciente o buraco da incompletude e com ele o medo da solidão, o pavor do abandono e da rejeição.
Seguimos então pela vida tentando preencher esse “buraco” por meio de conquistas materiais e emocionais, buscando no outro a nossa “outra metade” - daí as expressões “a metade da laranja”, “a tampa da panela”, “alma gêmea”.
Não há como negar que o relacionamento amoroso é um bom remédio para atenuar a sensação de incompletude, diminui, mas não elimina, pois são questões inerentes à existência. Frente a isso podemos conviver harmonicamente com esse “buraco” existencial ou tentar tapar esse buraco. Isso explica a inquietude de algumas pessoas que estão sempre inventando algo para dar sentido à vida, começam e param incontáveis atividades, empolgam e desinteressam rapidamente, no fundo é uma busca sem fim para preencher um buraco impreenchível. Junto a isso desenvolvem a arte de agradar a todos para evitar serem rejeitados, tornando-se “boazinhas” e com grande dificuldade em dizer “não”. Tudo para evitar a rejeição.
Reforço externo: esse medo ganha um grande reforço dos nossos pais, que também sofreram do mesmo mal. É comum os filhos ouvirem: “não vai com essa roupa senão as pessoas vão rir de você”, “se você fizer isso seus coleguinhas não vão gostar mais de você”, essas e outras falas que transmitem a clara mensagem de que seremos rejeitados pelos outros, portanto temos que evitar que isso ocorra.
Além do reforço vindo da nossa criação, também o encontramos na escola entre os colegas, na sociedade que nos julga e nos compara e até na religião, quando nosso comportamento pode sofrer represália divina - imagina quão grave é ser rejeitado por Deus?
Reforço interno: além dos estímulos externos nós também pioramos o problema quando continuamos a alimentar essas neuroses. Se não fizermos um trabalho para desconstruirmos os imprints que nos foram colocados, sedimentaremos essas crenças como verdades absolutas e as sementes plantadas na infância encontram um terreno fértil para continuarem na vida adulta. Nessa hora não tem mais pais, escola, igreja, mas nós mesmos nos punindo, nos comparando, nos cobrando e nos exigindo um comportamento espetacular sempre.
A partir dessa perspectiva temos duas importantes reflexões: a primeira é que não é só nós que sentimos esse medo, ele é universal: no fundo ninguém quer ser rejeitado.
Isso nos iguala emocionalmente, aliviando sensação de que somos mais frágeis que os outros. E, segundo, não há como mudar o medo original nem o reforço externo, porém, se trabalharmos arduamente no sentido de eliminar o “reforço interno” atenuaremos sobremaneira esse pavor da rejeição que tanto nos prejudica.