Crescemos aprendendo que para vencer é preciso ultrapassar limites, ir até o final, não desistir. Seja qual for o desafio, a premissa é a mesma: não desista.
De fato, concluir aquilo que nos propomos ou queremos tem um retorno muito gratificante, principalmente no quesito emocional - nos fortalecemos cada vez que superamos obstáculos, vencemos as dificuldades externas e ou internas e acreditamos cada vez mais no nosso potencial. A questão se complica quando a luta não mais se justifica. Difícil é conseguir saber qual é esse momento.
Em família isso também acontece, quando há uma nítida preferência dos pais por um filho. O preterido geralmente fica tentando ser amado e reconhecido pelos pais e acaba se tornando “bonzinho” na tentativa de agradar. Por outro lado, “o queridinho” recebe mais reconhecimento (mesmo sem fazer por onde), acaba não se desenvolvendo emocionalmente e por isso costuma ser mais egocêntrico - aprende desde novo a receber mais e a dar menos. A dinâmica familiar acaba funcionando assim: o menosprezado se torna um doador ilimitado, enquanto o outro, o protegido, se torna um egoísta que pouco faz e muito reclama.
No ambiente profissional isso também pode ocorrer, quando um funcionário almeja uma carreira, se doa para aquele projeto, porém na hora de ser promovido a empresa seleciona outra pessoa e não valoriza quem tanto faz pela organização.
Todos esses exemplos nos convidam a refletir até que ponto devemos insistir em situações quando percebemos que a via é de mão única. É o famoso “murro em ponta de faca”. Há uma frase atribuída à cantora Nina Simone que diz: “precisamos aprender a sair da mesa quando o amor não mais está sendo servido”. Mas difícil é colocar isso em prática. Geralmente, o que ocorre é um fenômeno oposto: quando o amor não é mais servido, aí é que as pessoas se empenham mais. Isso ocorre tanto por vaidade – o ego ferido não quer perder e fica dobrando o empenho na conquista – quanto pelo prazer que o desafio oferece – nesse caso, não é mais o desejo em si que move o sujeito, e sim a dificuldade. Não raro ouvimos as pessoas falarem: agora virou questão de honra.
Lutar e vencer é nobre, mas escolher as lutas possíveis e honestas é muito mais nobre e inteligente. Abandonar a luta quando a mesma não se justifica é uma grande demonstração de amor próprio.
A pergunta que fica é: você está lutando por algo que deveria parar?