Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Invalidação emocional

Publicado em 17/07/2025 às 06:00.Atualizado em 17/07/2025 às 20:52.

A invalidação emocional é o ato de desmerecer ou minimizar o que o outro está sentindo. Ocorre, muitas vezes, de forma tão automática que nem percebemos quando agimos assim. 

É muito comum, ao ouvirmos alguém falar sobre algo, retrucarmos com: “ah, mas isso não é nada”, “você está exagerando demais”, “por que está se sentindo mal, tem gente passando coisa pior e não reclama”, “você deveria estar feliz e está aí reclamando dessa bobeira. Deus castiga, hein”. Essas e outras frases que desqualificam a emoção do outro e ainda o deixam com sentimento de culpa. 

Mas é preciso termos cautela nesse assunto, pois existem pessoas cujo  expediente é reclamar para estar sempre recebendo vantagens e privilégios e, aos poucos, vão estabelecendo uma relação desequilibrada, onde um cede para sanar a queixa do outro e o outro, aquele que recebe, continua a se queixar. Está sempre recebendo e sempre reclamando, como um buraco sem fundo.

Relações que são estabelecidas desse jeito vão gerando uma disparidade tão grande que aquele que mais cede costuma esgotar sua energia devido a tamanho sentimento de injustiça. 

Mas, voltando à invalidação, esta pode ocorrer tanto pelo menosprezo das dores do outro, as associando à fraqueza, quanto fazendo chacota e ridicularizando seus sentimentos. 

Eis o caso de Maria: desde criança foi criada em um ambiente onde suas emoções não foram consideradas. Cresceu sem “existir emocionalmente” e casou-se com um rapaz cujo jeito de ser se assemelhava aos de seus pais. Nesse padrão já conhecido, passou a não existir emocionalmente no casamento também. Maria seguiu invalidada em sua dor, tendo que se adaptar ao molde do marido, que se achava sempre o dono da razão e entendedor das emoções alheias, mais do que a própria pessoa que a sentia. 

Repetir o padrão da dor familiar no casamento é algo muito comum, pois o indivíduo segue repetindo o padrão de forma inconsciente e finaliza o padrão quando desperta o amor próprio. Este, o amor, substitui o padrão de repetição por autoconstrução, e a partir daí uma nova forma de se relacionar se estabelece.

Muitos se veem exatamente como no exemplo acima, com suas emoções invalidadas, e dessa forma vão, aos poucos, parando de expressá-las - onde não há ambiente de acolhimento não há vontade de se manifestar, e isso é o começo de um afastamento emocional. 

Aos que têm interesse em melhorar a escuta ao invés de invalidar a dor do outro, ouvir e ponderar com equilíbrio e sensatez, convém refletir sobre algumas posturas:

Ouvir sem fazer juízo de valor: isso significa não qualificar os sentimentos do outro como bobo, banal, pequeno, desimportante etc. Apenas ouvir e tentar entender o motivo de doer tanto. E, se cabível, perguntar o que a pessoa acha que pode ser feito para melhorar. 

Ouvir sem interromper: esperar o outro falar tudo sem ceder à tentação de interromper. Agir assim, além de educado, é um excelente exercício de diálogo. 

Ouvir sem falar de si: Resistir à tentação de falar de si quando o assunto diz respeito ao outro. Há pessoas que ao ouvir uma história começam imediatamente a falar de si, geralmente se vangloriando da própria força.

Ouvir sem respirar fundo, balançar a cabeça em tom de discordância, sem demonstrar impaciência ou bufar.

Conseguir conversar  sem invalidar os sentimentos do outro é um ato de respeito que traz excelente frutos: conexão, confiança e reciprocidade. 

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