A invalidação emocional é o ato de desmerecer ou minimizar o que o outro está sentindo. Ocorre, muitas vezes, de forma tão automática que nem percebemos quando agimos assim.
É muito comum, ao ouvirmos alguém falar sobre algo, retrucarmos com: “ah, mas isso não é nada”, “você está exagerando demais”, “por que está se sentindo mal, tem gente passando coisa pior e não reclama”, “você deveria estar feliz e está aí reclamando dessa bobeira. Deus castiga, hein”. Essas e outras frases que desqualificam a emoção do outro e ainda o deixam com sentimento de culpa.
Mas é preciso termos cautela nesse assunto, pois existem pessoas cujo expediente é reclamar para estar sempre recebendo vantagens e privilégios e, aos poucos, vão estabelecendo uma relação desequilibrada, onde um cede para sanar a queixa do outro e o outro, aquele que recebe, continua a se queixar. Está sempre recebendo e sempre reclamando, como um buraco sem fundo.
Relações que são estabelecidas desse jeito vão gerando uma disparidade tão grande que aquele que mais cede costuma esgotar sua energia devido a tamanho sentimento de injustiça.
Mas, voltando à invalidação, esta pode ocorrer tanto pelo menosprezo das dores do outro, as associando à fraqueza, quanto fazendo chacota e ridicularizando seus sentimentos.
Eis o caso de Maria: desde criança foi criada em um ambiente onde suas emoções não foram consideradas. Cresceu sem “existir emocionalmente” e casou-se com um rapaz cujo jeito de ser se assemelhava aos de seus pais. Nesse padrão já conhecido, passou a não existir emocionalmente no casamento também. Maria seguiu invalidada em sua dor, tendo que se adaptar ao molde do marido, que se achava sempre o dono da razão e entendedor das emoções alheias, mais do que a própria pessoa que a sentia.
Repetir o padrão da dor familiar no casamento é algo muito comum, pois o indivíduo segue repetindo o padrão de forma inconsciente e finaliza o padrão quando desperta o amor próprio. Este, o amor, substitui o padrão de repetição por autoconstrução, e a partir daí uma nova forma de se relacionar se estabelece.
Aos que têm interesse em melhorar a escuta ao invés de invalidar a dor do outro, ouvir e ponderar com equilíbrio e sensatez, convém refletir sobre algumas posturas:
Ouvir sem fazer juízo de valor: isso significa não qualificar os sentimentos do outro como bobo, banal, pequeno, desimportante etc. Apenas ouvir e tentar entender o motivo de doer tanto. E, se cabível, perguntar o que a pessoa acha que pode ser feito para melhorar.
Ouvir sem interromper: esperar o outro falar tudo sem ceder à tentação de interromper. Agir assim, além de educado, é um excelente exercício de diálogo.
Ouvir sem falar de si: Resistir à tentação de falar de si quando o assunto diz respeito ao outro. Há pessoas que ao ouvir uma história começam imediatamente a falar de si, geralmente se vangloriando da própria força.
Ouvir sem respirar fundo, balançar a cabeça em tom de discordância, sem demonstrar impaciência ou bufar.
Conseguir conversar sem invalidar os sentimentos do outro é um ato de respeito que traz excelente frutos: conexão, confiança e reciprocidade.