Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

O ambiente familiar e a saúde emocional dos filhos

Publicado em 07/12/2023 às 06:00.

É junto à família que formamos nosso código interno de conduta, freios morais, equilíbrio emocional, aprendemos e absorvemos exemplos tanto de forma consciente quanto inconsciente. Um ambiente familiar harmonioso não é garantia de que os filhos terão uma boa saúde psíquica, mas quanto mais saudável for o ambiente, maiores são as chances de nos formarmos pessoas fortes emocionais. 

Um exemplo comum que proporciona fragilidade é a superproteção. Há famílias que educam seus filhos de forma a protegê-los de forma excessiva. Passam do ponto com medo de errar, mas nesse caso, o excesso causa mais dano que a falta, pois essa conduta castra e limita o desenvolvimento dos filhos, deixando-os frágeis e dependentes. 

Pais superprotetores justificam seu comportamento alegando cuidado. Mas há um componente inconsciente na superproteção que é o egoísmo: filhos “sem asas para voar” continuam presos aos pais. 

Outra situação que fragiliza e afeta a autoestima é quando o ambiente familiar é de crítica. Há pais que criam seus filhos criticando, apontando seus defeitos e ressaltando suas imperfeições. Acreditam que através da crítica conseguirão estimular seu desenvolvimento. Às vezes, essa crítica ocorre de forma direta, outras vezes acontece através de comparações, insatisfações, lamentações. Seja qual for a forma, a crítica nunca traz bons resultados. Acaba deixando fortes impactos emocionais, formando filhos inseguros, autocríticos, tímidos, com autoestima baixa e sensação de menos valia. Viram adultos com receio do julgamento e necessidade de ser aceito. Eis a dificuldade de se posicionar e aceitar situações ruins para não desagradar os outros. Uma verdadeira prisão. 

A falta de apoio através do acolhimento também é outra questão que deixa muitas marcas e insegurança na formação emocional. Isso porque percebemos o amor através de dois componentes fundamentais: um objetivo e o outro subjetivo. 

O primeiro tem a ver com a parte prática da vida: cuidados básicos, apoio financeiro, assistência, etc. Já o segundo é percebido de forma particular através do acolhimento – me sinto acolhido quando o outro me compreende através da minha ótica e consegue me proporcionar sensação de aconchego. 

Para nos sentirmos completamente amados é preciso a existência dos dois componentes. Apenas um não basta. 

Na infância não temos a consciência disso, afinal, enquanto crianças, recebemos o que precisamos. Com o passar do tempo, nossas necessidades deixam de ser apenas as básicas. Queremos mais. Queremos ser ouvidos, acolhidos, apoiados, reconhecidos. Mas nem sempre encontramos esse amparo na família. Muitas vezes temos pais e irmãos biológicos, mas não necessariamente emocionais. Essa sensação de amor a meio mastro prejudica sobremaneira a formação do amor próprio.

É preciso nos atentarmos ao ambiente que estamos proporcionando aos nossos filhos, pois somos, em grande parte, o espelho daquilo que vivemos.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por