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Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

O vício de se achar sempre certo

Publicado em 04/12/2025 às 06:00.

Existe uma expressão popular para se referir a pessoas que se acham sempre certas: “os donos da verdade”. O que faz algumas pessoas agirem assim não é seu vasto conhecimento, mas sim mecanismos internos, como, por exemplo, a vaidade intelectual que ocorre sempre que uma pessoa usa seu conhecimento para demonstrar superioridade. 

Mas nem sempre esse exibicionismo é explícito – na maioria das vezes, ocorre de forma escamoteada, embalada de uma pseudo humildade,  outra faceta da vaidade. A forma de conversar de uma pessoa que gosta de demonstrar vaidade intelectual vai desde mostrar que entende de todos os assuntos até fazer marketing pessoal falando sobre si, seus diplomas, experiências, cultura ou dando lições de moral, dando a entender que dispõe, além de inteligência, de maturidade emocional.

A vaidade intelectual é, no fundo, grande demonstração de baixa autoestima, visto que só há uma necessidade de se exibir porque existe uma insegurança sobre si. O pensamento é: preciso me comunicar de forma a gerar no outro admiração sobre mim. Ele se aprimora tanto que faz com que seu interlocutor sinta até uma certa inveja de tamanha sabedoria. Mas esse ar de superioridade esconde um sofisticado mecanismo de compensação de quem, na verdade, se sente inferior. 

Mesmo que seja difícil de entender,  a arrogância não revela uma autoestima alta, mas sim o contrário. Isso porque uma baixa autoestima se manifesta de duas maneiras antagônicas: uma, por meio  da subserviência, da servidão ao outro; e a outra pela prepotência. Ambas facilmente perceptíveis, porém cada uma ao seu rico disfarce, uma de humildade a outra de força. 

Outro comportamento recorrente daquele que tem mania de se achar sempre certo é a dificuldade de ouvir. De uma maneira geral, isso já é uma virtude rara, mas em quem se acha sempre certo a dificuldade é ainda maior. Gostam mesmo de falar e convencer o outro a aderir à sua opinião e quando não conseguem desqualificam o interlocutor - nunca é ele o intransigente, e sim o outro que é ignorante, desinformado ou burro. 

A mania de se achar sempre certo, com o tempo, acaba virando um vício comportamental tão entranhado que passa a ser um traço marcante da conduta daquela pessoa, ficando cada vez mais difícil de desconstruir. Tentar conscientizar a pessoa do quanto isso é ruim quase nunca adianta; aliás, costuma culminar em atrito e desentendimento. De uma maneira geral, a mudança só ocorre a partir do próprio desejo em abandonar tal comportamento, e não a partir do alerta de outra pessoa. Há uma frase de Freud que diz: “quando a dor é maior que o ganho, o indivíduo muda”. Porém, quem se acha certo acredita ser superior a todos e dificilmente mudará. 

Pessoas assim até convencem por um tempo, mas há um notório empobrecimento das relações, afinal, o que resta a ser conversado com quem se acha sempre dono da razão, além de assuntos rasos e frivolidades? 

O convívio é pesado e exaustivo, quase nunca há uma troca edificante, na maioria das vezes é sempre um, o doutor em “tudologia”, e seu ouvinte, o aprendiz. Uma chatice!

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