Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Por que repetimos erros mesmo sabendo que nos fazem mal?

Publicado em 31/07/2025 às 06:00.

É comum eu ouvir a seguinte pergunta: “por que sou tão inteligente para umas coisas e tão bobo para outras?”; “por que, mesmo sabendo que me faz mal, eu vou lá e faço?”; ou “por que não aprendo a lição e caio sempre na mesma cilada?”. 

Essas e outras perguntas chegam com frequência por pessoas que estão insatisfeitas com suas condutas. Querem agir de uma forma, mas na prática agem de outra. Há um ditado que diz: “todo mundo sabe o que fazer, o difícil é fazer”. Não é fácil colocarmos nossos desejos em prática e isso vale tanto para aquisição de novos hábitos quanto para deixar de reincidir em velhos erros. 

Mas por que agimos assim contra nós mesmos? Algumas são as razões.

Nem sempre queremos aquilo que afirmamos querer: é difícil admitir isso, mas muitos dizem querer uma coisa, no entanto falam da boca para fora, não estão dispostos a se dedicarem o suficiente para tal questão. 

Desistem no primeiro obstáculo e seguem com o discurso de que tentaram, porém não conseguiram. É o que chamo de “Síndrome do Desejo Milagroso”: querer o resultado sem dedicar esforço suficiente para alcançá-lo. 

A maioria de nós tem um pouco dessa síndrome – se você perguntar a cem pessoas se elas desejam ganhar na mega sena, provavelmente todas dirão que “sim”, porém poucas estarão dispostas a jogar semanalmente. Querem ganhar por força de um milagre. E assim é igual para outras condutas, como parar de fumar, de beber, gastar menos, acordar cedo, fazer ginástica, etc. 

Capacidade intelectual não cura vício: qualquer dependência, seja química ou psíquica, requer um trabalho superior à intelectualidade. Saber que algo nos prejudica não é o suficiente para não fazê-lo. O vício começa como um pequeno prazer, algo que traz uma alegria extra ao nosso dia e aos poucos vai se tornando indispensável. Quando a pessoa se dá conta, aquilo já faz parte da rotina e a pessoa não consegue ficar sem isso. 

Esse é o caminho das dependências, que podem ter origem genética ou surgir como uma mera distração ou para o alívio de algum sofrimento. Todo vício é autodestrutivo e se torna maior do que a inteligência da pessoa, seja ele em drogas, jogos, internet, pornografia - masturbação, medicação, dependência emocional entre outras. 

Superar a dependência vai além da intelectualidade, é preciso colocar em prática a força de vontade, o desafio de querer dominar aquilo que te domina e o amor próprio que faz o indivíduo se sentir merecedor da liberdade. Afinal, todo vício é uma prisão. 

Ganho secundário: disse Freud: “Quando a dor é maior que o ganho, o indivíduo muda”. Enquanto o sujeito estiver mais ganhando que perdendo é difícil ocorrer a mudança comportamental. É uma pena que seja preciso um prejuízo real, como um diagnóstico de doença grave, por exemplo, para que haja o abandono de hábitos autodestrutivos. Mas geralmente é o que ocorre: a mudança vem quando o prejuízo supera o ganho. Muitas vezes há tempo de recuperação, em outras é tarde demais. 

Aos que se interessam em deixar para trás hábitos que não edificam, é preciso ter em mente que a decisão não elimina o desejo. Ninguém larga o cigarro porque se desinteressou pelo tabaco, assim como ninguém termina uma relação de dependência amorosa sem sentir saudade da pessoa. 

Largamos o objeto dos nossos vícios porque ele nos faz mal, traz prejuízos diretos ou indiretos, destrói lares e vidas. Entretanto, mesmo sabendo que aquilo nos destrói, iremos desejá-lo - eis a condição de um viciado. O que determinará o sucesso é a capacidade de resistir ao desejo, sinal de força e inteligência emocional. 

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