Sentir pena de si é olhar para própria dor e se ver como vítima da situação. Isso não significa que não exista a figura da vítima, por isso nos convém diferenciar “vítima” de “vitimista”. O primeiro é aquele cuja fraqueza foi explorada. Alguém que foi enganado, roubado ou induzido ao erro. Esse, de fato, foi vítima. Já o vitimista, aquele que tem pena de si, se apoia em uma situação real para responsabilizar sua dor. Está sempre apontando o dedo para fora, em busca de um culpado: a culpa é dos pais, da vida, do governo, dos amigos, da má sorte, da criação ou das circunstâncias. A dificuldade em assumir que a felicidade está sob suas rédeas faz com que essa pessoa viva o discurso cujo subtexto é sempre o do “pobre de mim”:
“Isso só acontece comigo”
“Todos se dão bem, menos eu”
“Ninguém entende o que estou passando”
“A minha vida é mais difícil que a da maioria das pessoas”
“Eu não merecia isso”
“Por que comigo?”
“A minha vida é pesada demais”
“A vida de todo mundo evolui, menos a minha”
Pensar dessa maneira em algum momento da vida, frente a algum evento específico, é natural. Entretanto, pessoas vitimistas veem a vida sob essa ótica sempre. É como se estivessem condenadas à infelicidade devido à vida que têm e reforçam seu pensamento com ideações hipotéticas:
“Se eu tivesse uma família mais estruturada, minha vida seria mais fácil”
“Se eu tivesse mais dinheiro, seria mais feliz”
“Se eu tivesse uma companhia, eu animaria a fazer ginástica”
A lamentação por não ter algo também faz parte do repertório “pobre de mim”. Geralmente, quem aprende a pensar dessa maneira não está aberto a sair dessa zona de conforto. Afinal, é muito mais fácil culpar o outro do que assumir para si o compromisso de mudar.
Além disso, quando trazemos para nós essa responsabilidade, corremos o risco de fracassar. Mas enquanto a culpa for do outro, ficamos, covardemente, protegidos contra o risco do fracasso.
Sugerir mudança para pessoas que se comportam assim é muito difícil. Primeiro porque elas não se acham erradas, e segundo porque ficaram muito boas em justificar e por isso têm resposta para tudo.
Sair dessa condição depende exclusivamente da própria pessoa e isso inclui eliminar o discurso “pobre de mim”; trazer para si o compromisso de agir diferente e principalmente assumir o protagonismo da própria vida. A ousadia é um elemento importante para os primeiros passos.