Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Transtorno de estresse pós-traumático

Publicado em 04/04/2024 às 06:00.

Transtorno de estresse pós-traumático é um distúrbio de ansiedade que acompanha o indivíduo após o mesmo vivenciar uma experiência traumatizante. 

Quando isso ocorre, a pessoa tem dificuldade em ficar num estado de relaxamento, uma vez que o sentimento é revivido em sua memória, desencadeando emoções negativas parecidas com as que ela sentiu no momento do trauma. Muitas relatam o surgimento do pensamento em momentos inesperados: “estava feliz e tranquila fazendo um almoço e ‘do nada’ meu coração disparou, comecei a me sentir mal e a lembrar de tudo que aconteceu e começou ali uma crise de ansiedade”. 

Não há como prever a chegada dessas lembranças. Elas podem ficar dias sem aparecer, assim como surgir várias vezes ao dia. Além disso, é comum sonhar com o ocorrido e ter crises de terror noturno, cujos sintomas são: acordar com choro ou gritos; se debater na cama; olhos arregalados e olhar fixo, apesar de não estar totalmente acordada; acordar sentindo o coração acelerado e com suor excessivo. 

É também bastante comum o indivíduo se tornar uma pessoa hipervigilante, ou seja, manter-se constantemente em estado de alerta, uma espécie de radar ligado permanentemente e assim ter dificuldade para dormir, irritabilidade, dores de cabeça e reação exagerada e desproporcional aos sustos. Ficam hipersensíveis, sendo capazes de se assustarem até mesmo com uma folha de papel caindo no chão.

Sentir medo de sair de casa também é uma consequência do TEPT. É comum a pessoa abandonar emprego e vida social para viver de forma mais reclusa, como uma maneira de se sentir mais protegida. Há também uma dificuldade de concentração, uma vez que a energia psíquica é muito canalizada para o estresse, deixando as demais áreas deficitárias e prejudicando sobremaneira a qualidade de vida. 

O diagnóstico não é algo simples, uma vez que esses sintomas podem surgir até um ano depois do evento ocorrido. A pessoa pensa que tudo ficou para trás e um tempo depois começa a sentir esses desconfortos e por isso custa a associar ao evento traumático. É como se ela estivesse em estado de anestesia e sem aviso prévio problemas começam a aparecer. 

Muitos tendem a resolver a situação fingindo que ela não existe. Não é uma boa estratégia - é o mesmo que jogar a poeira para baixo do tapete, não tem coisa pior. O tratamento implica em encarar o problema de frente, e muitas vezes necessita um apoio terapêutico e até psiquiátrico para, de forma lenta, gradual e assistida, dessensibilizar aquele sentimento ruim. 

É importante considerar que um evento traumático não é algo convencionado, ou seja, cada um sente à sua maneira. Não temos medidor de dor e nem como aferir o arcabouço psíquico de cada um. Se uma pessoa conseguiu superar um problema sem sequelas de trauma é ótimo para ela, mas isso não significa que ela passa a ser uma referência e todos precisam ter a mesma velocidade ou capacidade de superação, afinal, não temos o martelo dos juízes para julgar o que é grande ou pequeno. No vasto campo das emoções vale o ditado: “cada um sabe onde o calo aperta”. 

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