Essa semana dedico a coluna a um trecho do livro que estou lendo: A verdade Nua e Crua - biografia do campeão de box Mike Tyson. O texto fala sobre dependência química, porém a mensagem é válida para qualquer vício que queremos dominar, desde os objetivos como álcool, droga, compra, jogos até os subjetivos como agressividade, pessimismo, procrastinação entre outros.
“Estamos na época das promessas de ano-novo. Perder 10 quilos, frequentar a academia de ginástica, ser mais produtivo, coisas do tipo. Em poucos meses, muitas pessoas vão deixar essas metas de lado, renovando-as no próximo ano. Pertenço a um grupo que não pode se dar o luxo de fazer promessas e não cumpri-las. Sou um viciado.
Para nós, viciados, a disciplina não é algo que almejamos a cada ano; trata-se de algo necessário a cada momento. Por mais que possa parecer surpreendente - levando-se em consideração a loucura associada ao personagem Mike Tyson -, uma de minhas principais qualidades é minha disciplina, algo que meu mentor, Cus, estimulou em mim. Trabalhamos duro para que eu me tornasse o mais jovem campeão dos pesos pesados da história.
Cus morreu um ano antes de eu conquistar meu primeiro cinturão. Sem ele, era menor o incentivo para que eu mantivesse a disciplina - e comecei a beber e a usar drogas. Aposentei-me do boxe em 2005. Não queria insultar o esporte subindo nos ringues fora de forma, lutando apenas pelo dinheiro. Foi então que me tornei um viciado de verdade.
Por mais que eu demonstrasse uma disciplina incrível em relação ao boxe, eu não tinha as ferramentas necessárias para evitar minha queda no vício. Quando tinha uma oportunidade de ficar chapado. Para vencer o vício, tive de substituir o desejo de consumir álcool e drogas pelo desejo de ser uma pessoa melhor.
Aprendi que estar sóbrio é mais do que simplesmente evitar as drogas e o álcool. Trata-se de um estilo de vida cujo foco está em fazer escolhas morais, trazendo para o primeiro plano as coisas que fazem a vida valer a pena.
É claro que precisei de uma consciência mais desenvolvida para sustentar isso. No decorrer dos anos, minha consciência me salvou do abismo de uma vida de total abuso hedonista.
Em 2009, prometi me manter sóbrio após a morte acidental de minha filha de 4 anos, Exodus. Eu estava determinado a viver uma vida melhor pelo bem da minha família, mas a dor era tanta que voltei para as drogas. A recuperação é um processo prolongado e, sem o contínuo incentivo, seria praticamente impossível alcançá-la.
Eu me mantive sóbrio por cinco anos antes de sofrer uma recaída e voltar a beber. Minha autoimagem era tão negativa que eu simplesmente esperava que coisas ruins acontecessem comigo. E, por mais que tivesse passado cinco anos sem usar drogas, durante todo esse tempo eu não me senti à vontade comigo mesmo. Guardava segredos diante de pessoas próximas, coisas que eu tinha que botar para fora, pois estavam me matando por dentro. Guardar os problemas para si é o pior sentimento do mundo. Quando resolvi essas questões, por meio da terapia e de conversas com a minha família, me senti um novo homem. Quando tive recaídas anteriores, continuei a usar drogas até sofrer um acidente de carro ou ser preso. Dessa vez, após beber por dois ou três dias, eu voltei. Não esperei uma intervenção. Simplesmente embarquei de volta no trem. Depois de anos de terapia, aprendi a não me recriminar tanto. Sei que recaída faz parte da recuperação. Nunca me senti tão bem quanto agora. Estou a caminho da humildade, consciente de que não se pode reinar antes de ter servido. Tenho diante de mim um glorioso ano novo, quando todas as nossas promessas se tornarão realidade”.