Simone DemolinariPsicanalista com Mestrado e dissertação em Anomalias Comportamentais, apresentadora na 102,9 e 98 FM

Você tem flexibilidade psicológica?

Publicado em 24/03/2022 às 06:00.

Flexibilidade psicológica significa a capacidade de adaptação aos altos e baixos que a vida nos apresenta. Essa competência está diretamente ligada à nossa maturidade emocional, algo que construimos ao longo da nossa vida. 

Um ótimo medidor dessa flexibilidade é uma boa tolerância à frustração, que é basicamente conseguir gerir o sentimento de impotência que deriva dos desejos e expectativas não realizados. O bom gestor dessas emoções tem como resultado um estado emocional estável, na alegria ou na dor. Já o mau gestor manifesta seu sentimento de raiva, indignação, buscando um culpado para sua infelicidade. Esse comportamento também está ligado a um traço de controle. O controlador ativa seu estado de alerta quando as coisas não estão sob domínio. 

Outro comportamento que fala sobre nossa flexibilidade psicológica é a capacidade de adaptação à mudanças. Muitas vezes, ficamos estagnados na zona de conforto por medo do desconhecido, mas isso nem sempre é consciente. Acabamos por nos sabotar nos convencendo de algumas mentiras que, para dificultar nossa percepção, vêm com algum ingrediente de verdade, mas não passam de desculpas esfarrapadas que damos a nós mesmos, por exemplo: “As coisas não estão tão ruins assim”; “Poderia ser pior”; “Não estou em um bom momento para mudanças”; “O dia que acontecer tal fato, eu mudo”.

Geralmente, usamos do artifício da “mentira sincera” por insegurança e medo da mudança. Ficamos estagnados, suportando dores evitáveis, para não termos que enfrentar a situação real. Dessa forma, inconscientemente buscamos comparações com pessoas que estão em condições piores que a nossa e assim nos convencemos que estamos bem, mesmo estando mal. Juntamente a isso, ficamos esperando um “momento perfeito” para a tomada de decisão; empurramos tudo para depois. Existe um provérbio chinês do qual gosto muito que diz assim: “O melhor momento para plantar uma árvore foi há 20 anos. O segundo melhor é agora”.

Outra demonstração de flexibilidade psicológica tem a ver com a nossa porosidade mental. Um mente porosa é uma mente aberta ao novo, disposta a ouvir e aprender, despida de preconceitos. O contrário disso, é uma mentalidade rígida, míope e inflexível. O indivíduo rígido, além de não enxergar macro, ainda degusta de grande sofrimento, vira refém de si mesmo. Está tão distante do sentimento de serenidade que acredita estar bem, mesmo vivendo num caos interior. 

E por fim, outro excelente medidor é a nossa paciência para “negociações”. Há momentos na vida em que, mesmo estando certos, precisamos negociar para manter o equilíbrio. É como um carro que vem na contramão. O fato de estarmos na mão correta não nos blinda de um acidente. Nesse caso, mesmo com razão, temos que administrar o volante para não nos acidentarmos. 
Assim como na estrada, é na vida. Mesmo estando com a razão, muitas vezes precisamos de flexibilidade emocional para não sairmos atropelados. Se formos regidos pela filosofia “não saio daqui porque não estou errado”, você corre o risco de morrer mesmo estando certo. 

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