Quando eu era mais novo, já professor em universidades particulares, alimentava um sonho recorrente: o de ingressar, como docente, em uma universidade pública por meio de concurso. Não era apenas uma ambição de estabilidade, mas sobretudo a crença de que o espaço público carregava algo transformador. Fui aluno de instituições como a UFMG, a UFLA e a UFSC, mas via com atenção e curiosidade a trajetória de amigos que lecionavam na UEMG, a Universidade do Estado de Minas Gerais. Eram eles que me incentivavam a buscar aquele caminho, sempre ressaltando a importância da instituição no cenário mineiro.
A vida, sabemos, muitas vezes nos leva por desvios inesperados. Saí das graduações, mergulhei em pós-graduações, aceitei convites em diversas instituições, e fui sendo engolido pelo moinho do tempo. O sonho da UEMG ficou suspenso, como tantos outros que deixamos em pausa para dar lugar ao ritmo da sobrevivência. Anos mais tarde, reencontro-me com a universidade não como professor concursado, mas como parceiro em alguns cursos. Recentemente, recebi uma homenagem da Faculdade de Políticas Públicas e Gestão de Negócios (FaPPGen), onde tenho participado de palestras e projetos de extensão.
Em uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, convocada pelo deputado Charles Santos para celebrar os 20 anos da FaPPGen, pude ouvir professores, diretores, servidores, pessoal técnico-administrativo, alunos e ex-alunos darem testemunhos comoventes e contundentes sobre a importância da UEMG em suas vidas. Ali compreendi que a pergunta que dá título a esta crônica, “A quem interessa a UEMG?”, precisava ser feita em voz alta, repetida, ecoada nos corredores da política e da sociedade.
A Universidade do Estado de Minas Gerais foi criada em 1989, prevista na própria Constituição estadual. Hoje, conta com 22 unidades acadêmicas e, por meio da educação a distância, alcança mais de uma centena de cidades. É um projeto que, apesar de suas dificuldades estruturais e orçamentárias, conseguiu atravessar décadas com vigor e relevância.
O que mais me impressiona, porém, são as histórias pessoais que se entrelaçam com a trajetória da UEMG. Em meio aos discursos daquela audiência, um ex-aluno lembrava a qualidade técnica do corpo docente, formado por profissionais de ponta em suas áreas, mas que, ao mesmo tempo, se mantêm próximos dos estudantes, atentos às suas realidades. Exemplo disso é que a Professora Doutora Núbia Braga Ribeiro, destacada estudiosa em Direitos Humanos e Sociais, que recebeu o título de Professora Emérita durante a comemoração dos 20 anos da FaPPGen, foi docente desta universidade, assim como grandes nomes da academia e do mercado. Essa combinação de excelência acadêmica e sensibilidade humana faz da universidade um espaço raro, onde a educação vai além do conteúdo, alcançando a vida.
Outro ex-aluno relatou que cursou Gestão Pública, mesmo atuando sempre na iniciativa privada. Sabia que, aparentemente, não aplicaria diretamente os conteúdos de sala de aula em sua rotina profissional. Ainda assim, mergulhou nos estudos. Entendia que o conhecimento ampliava sua visão de mundo, sua compreensão da sociedade. Essa formação o levou a ser contratado por uma grande empresa com atuação em vários estados, justamente para lidar com clientes governamentais. A universidade, nesse caso, não lhe deu apenas um diploma: ofereceu um novo patamar de entendimento e, consequentemente, de oportunidades.
Esses depoimentos não são exceção, mas regra. Eles revelam que a UEMG cumpre, diariamente, uma função essencial: ampliar e amplificar a voz, vez e caminho a quem muitas vezes já havia desistido de sonhar.
A Faculdade de Políticas Públicas e Gestão de Negócios tem lugar de destaque nesse processo, mas está longe de ser a única. A UEMG mantém cursos em áreas tão diversas quanto Design, Saúde, Educação, Engenharia e Comunicação. A UEMG tem uma faculdade de Música, de Artes. Trata-se de uma universidade que não apenas oferece vagas, mas que compreende a diversidade de necessidades e vocações do estado.
Daí a pergunta: a quem interessa o bom funcionamento da UEMG?
A resposta não poderia ser mais ampla. Interessa, em primeiro lugar, a todos os cidadãos que buscam educação pública e gratuita de qualidade. Interessa às famílias que veem seus filhos serem os primeiros a frequentar uma universidade. Interessa à sociedade mineira como um todo, que depende de profissionais mais preparados, sensíveis e comprometidos com as demandas reais do estado. Interessa ao setor público, que precisa de quadros qualificados para formular e executar políticas públicas. Interessa também à iniciativa privada, que se beneficia da formação de trabalhadores mais críticos, mais capacitados e mais conscientes.
A mídia, por sua vez, tem responsabilidade dupla. De um lado, mostrar a excelência da UEMG em ensino, pesquisa e extensão, inspirando mais pessoas a sonhar com esse acesso e, sobretudo, a conquista-lo de fato. De outro, cobrar dos governantes que a educação deixe de ser bandeira de ocasião, usada em discursos de campanha e esquecida logo depois. Educação é política de Estado, não de governo. Deve ser prioridade permanente, não promessa passageira.
À sociedade, cabe algo ainda mais importante: aproximar-se da universidade. Entendê-la não como um prédio distante, mas como parte viva da cidade, do estado, da vida cotidiana. Conhecer seus projetos, interagir com suas pesquisas, valorizar sua presença. A universidade pública não pertence apenas a quem estuda ou leciona nela: pertence a todos nós. É patrimônio coletivo, financiado com recursos públicos e devolvido em forma de conhecimento, inovação, cultura e cidadania.
Mesmo quem nunca passou pela experiência de sentar-se em uma sala da UEMG já é, de algum modo, beneficiário de sua existência. Biomédicos, artistas, educadores, gestores, designers, engenheiros, comunicadores, arquitetos, enfermeiros - tantos profissionais que atuam no nosso dia a dia foram formados ou qualificados por lá. O serviço que recebemos, a escola dos nossos filhos, a política pública que nos alcança, o atendimento que nos conforta, tudo isso pode ter a marca silenciosa de uma formação recebida na UEMG. É por isso que defender a universidade é defender a sociedade. É compreender que sem educação pública de qualidade não há futuro sustentável, não há desenvolvimento justo, não há democracia plena.
Que a UEMG tenha vida longa. Que continue com sua missão de promover ensino, pesquisa e extensão comprometidos com o desenvolvimento social e regional. Que permaneça sendo esse espaço de esperança e transformação. Mas, para isso, precisa ser reconhecida e valorizada.
Afinal, a quem interessa a UEMG? Interessa, em última instância, a cada cidadão mineiro que acredita que a educação não é apenas um degrau profissional, mas um caminho coletivo de dignidade e progresso.