Passei o último feriado na capital do Maranhão, onde pretendia descansar, aproveitar o ambiente praiano para desconectar da rotina e, quem sabe, buscar novas inspirações. Não era minha primeira vez em São Luís. Já havia trabalhado por lá, uma semana inteira, numa escola situada numa comunidade da capital. Fui levar uma metodologia de empreendedorismo com o objetivo de ensinar pessoas físicas a empreender. Foram dias intensos, de convivência por quase oito horas diárias. Ali, ouvi histórias de vida que me ensinaram muito. Tive alunos muito jovens e outros já idosos, todos com sede de aprendizado.
Outras vezes fui à cidade para ministrar palestras a diretores de escolas ligadas ao sindicato patronal e, também, por meio de uma consultoria educacional comandada pelo querido Marino Menossi. Conheci pessoas especiais, como Elsa e Camila, da Escola Upaon-Açu, uma referência em educação em São Luís, que me convidaram para falar para os seus alunos. Mas por que conto tudo isso? Porque, para além da beleza natural da cidade, o que mais me encanta em São Luís é o jeito das pessoas. São gentis, amáveis, prestativas. Elas acolhem e fazem isso de maneira natural.
Fiquei hospedado num flat em uma localidade linda chamada Ponta D’Areia. Ali começou minha experiência relacional. Marina, a proprietária do flat, é o tipo de anfitriã que tem um cuidado verdadeiro com o hóspede. Na avenida onde me hospedei havia vários restaurantes, e minha ideia era experimentar um diferente a cada noite. Mas isso não aconteceu. Já no primeiro dia, entrei no Petiscaldos e fui abordado por uma atendente. Ela me ouviu, sorriu, e perguntou se eu era mineiro. Disse que meu sotaque era lindo.
Aquela senhora me deu dicas de pratos, contou sobre cidades do interior, indicou lugares para visitar. Quando meu pedido chegou, ela serviu e disse que me deixaria a sós para que eu pudesse dedicar total atenção ao paladar. E assim foi. No dia seguinte, lá estava eu outra vez. E no último dia, ela me abraçou e disse que ia pedir a Deus para que eu não demorasse a voltar. Brinquei dizendo que confiava em suas orações.
A praia tem poucos frequentadores, o que me permitia caminhar no silêncio. As ondas vinham, pequenas, trazendo peixes que, vez ou outra, se deixavam levar até a areia e voltavam ligeiros para o mar. Ao redor, uma centena de pequenos pássaros aguardava, atentos, prontos para se alimentar da distração dos peixes. O sol, então, começava a se pôr, pintando as nuvens de vermelho, colorindo a água com tons quentes. Nessa hora, eu já estava próximo ao Espigão, um espaço estendido sobre a praia que avança em direção ao mar.
Lá em cima, casais se abraçavam. Grupos de amigos comemoravam. Todos aguardavam o mesmo espetáculo: o pôr do sol. E ele vinha. Lindo, generoso. Tocava a alma. Vi pessoas chorando, casais se beijando, como se fosse um fim de Ano Novo. Era uma celebração da vida, das belezas naturais, do sagrado que estava diante de nós.
Lembrei da música Epitáfio, dos Titãs: “Devia ter amado mais, chorado mais... devia ter visto o sol nascer.” O sol nascendo pode ser metáfora de tanta coisa: o nascimento de uma nova vida, de um ciclo inédito, da esperança. Mas os Titãs também nos lembram da importância de encerrar ciclos: “Devia ter visto o sol se pôr”.
Na segunda-feira de manhã, dei uma palestra na Apac de São Luís, um espaço em que a esperança é ação. Ali falei sobre recomeços, encerramentos e sobre a necessidade de compreender os ciclos da vida. Rayanna Araújo foi quem me guiou naquela manhã e ainda me levou para conhecer, no dia seguinte, a Apac de Itapecuru Mirim, no interior do Estado. Lá encontrei uma equipe valente, que sob a liderança da magistrada Mirella Cezar construiu há dez anos um espaço de justiça e boa-vontade.
Na segunda-feira à tarde, a convite do ex-aluno Rafael Velasco, um mineiro de origem, hoje um cidadão maranhense, fui conversar com sua equipe na Seap, a Secretaria de Administração Penitenciária do Estado do Maranhão. Fui de carona com a supervisora Rosália, que dividiu comigo histórias e aventuras, de Paço do Lumiar a São Luís. No auditório, uma equipe respeitosa, interessada e interessante me aguardava. Ali, emocionado, contei que havia finalmente compreendido a origem do título “Ilha do Amor”, dado a São Luís. Entendi que não era apenas pela paisagem que encanta, mas também pelo acolhimento aos de fora. O amor da ilha brota de dentro, quando a beleza do sol te invade e te transforma. Quando te lembra da tua própria beleza. Da tua própria potência. A Ilha do Amor é também a ilha do amor-próprio.
Se o acaso vai me proteger, eu não sei. Mas, assim como orienta a música, aprendi que devia ter me preocupado menos com problemas pequenos; Complicado menos, até trabalhado menos. E ter visto o sol se pôr. A alegria é saber que ainda há tempo.