Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Autismo: sou diferente e daí?

Publicado em 01/03/2024 às 06:00.

Eu não sei nada sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista). Leio algumas coisas, sigo algumas páginas no instagram, busco me informar com quem é referência, aqui no Brasil, sobre o assunto, mas sou um ignorante no tema. Um dia, durante uma palestra para novos alunos de uma grande faculdade mineira, eu estava falando sobre empatia e citei a série “Uma advogada extraordinária”, dizendo que eu não entendia sobre TEA, mas que aquela obra havia me dado vários insights legais e me transportado para um mundo que todos estamos imersos, mas que nem sempre observamos.

Após a minha fala, uma aluna daquela escola veio até a mim para dizer que ela era autista e que gostava muito da Temple Grandin, se eu a conhecia. Nunca tinha ouvido falar e ela me explicou que a Temple é uma pioneira no assunto. Nascida em 1947, apenas 4 anos depois que o autismo foi descrito pela primeira vez, pelo médico Leo Kanner, em 1943, ela seguiu a carreira acadêmica, graduando-se em Psicologia e realizando mestrado e Ph.D em Zootecnia. Foi a responsável por uma revolução nas práticas para o tratamento racional de animais vivos em fazendas e abatedouros. Um premiado filme sobre a sua história foi lançado em 2010 e está disponível nas plataformas de streaming. Inclusive, fica a dica de um livro da sua autoria, com o jornalista Richard Panek: “O cérebro autista: pensando através do espectro”.

Esses dias eu vi nas redes sociais uma ilustração de um jovem se olhando no espelho, de forma bem reflexiva. Ele estava vestido com a camiseta de quebra-cabeças, que é um símbolo conhecido para identificar as pessoas com autismo, e um texto descrevia: “eu pensando ser o primeiro autista da família”. E no espelho, pessoas que simbolizavam várias gerações da sua família, também vestiam a mesma camisa e a frase era: “Meus antepassados sem diagnóstico”. A imagem é atribuída ao perfil @tea.diadia.

A propósito, eu já conhecia a referência ao quebra-cabeças, uma vez que foi lançado um cordão que as pessoas no TEA utilizam para se identificarem. Há, também, um cordão que serve para identificar as pessoas com deficiências ocultas, aquelas que não são visíveis, dentre as quais o autismo, que ostenta o desenho do girassol.

E é nas redes sociais que tenho conhecido muita gente que apresenta o tema com bastante lucidez e profissionais que atuam com crianças e adolescentes autistas, como cabeleireiros e preparadores físicos, a exemplo do Pedro Monteiro (@pedromonteiropersonal), que devem ter toda uma destreza para desenvolverem seus ofícios, fazendo com que o autista permita tais intervenções.

Foi num perfil do instagram, @joaquimejoana.tea, administrado por uma mãe de um casal autista, a educadora infantil Josy Anne, que me sensibilizei com o vídeo do garotinho Joaquim, de 8 anos, e autista de nível de suporte 1. Ele conta que estuda na rede pública da sua cidade, São José, SC, e que no ano passado teve uns probleminhas com relação à inclusão. “Eu ouvi de adulto da escola coisas que ninguém deveria ouvir”, diz ele e continua: “Eu sofri muito com pessoas que me machucavam e também com objetos que caíam em mim”. Esta parte me doeu de maneira especial, pois como as crianças não nascem ruins, elas precisam aprender sobre diferença e inclusão desde cedo. Conversando com a Josy, ela me disse que a fala do Joaquim, de que objetos caíam nele, retrata a maneira como ele entendia a situação, já que em sua cabeça não há nada que associe uma outra criança jogar objetos para ofender.

O Joaquim sugere no vídeo que as prefeituras adotem uma cartilha, que serviria para estimular o bom convívio na escola. “Sou diferente e daí? Tem lugar aí pra mim?” ilustrado pela Luana Chinaglia e escrito pela Aline Campos, uma autista que também é mãe atípica, que disponibiliza, gratuitamente, a sua obra para download no perfil @alinecamposescritora

Mandei mensagem para a Aline e tive a grata surpresa de descobrir que ela é mineira de Belo Horizonte, que residia em Igarapé, mudou-se para Brasília em função de ter passado em um concurso público. Ela é formada em Farmácia pela Newton Paiva, a mesma escola em que dei a palestra e a aluna me apresentou a história da Temple Grandin.

Como há coincidências muito boas, para não dizer que coincidência não existe, vi que as pessoas que criam conteúdo, divulgam o TEA, se mobilizam, estão numa rede de fato, em que umas conhecem, ajudam, orientam as outras, como faz a advogada, e presidente da Comissão de Pessoas com Deficiência da OAB/MG, Michelly Siqueira (@michelysiqueira), que entra ao vivo todas as semanas em seu instagram e tira as dúvidas ou comenta notícias acerca do tema. 

Deixo aqui alguns perfis que sigo, para caso você também se interesse em buscar informações, mesmo não tendo ninguém no espectro em sua família, mas para ajudar a fazer desta uma sociedade mais inclusiva: @fatimadekwant; @comunidadeproautismo; @deborasaueressig; @lagartavirapupa; @autismomake; @autismo.ofc, dentre outros que você perceba que são sérios.  E assista, com sua família, ao curta da Pixar: Float. Você vai se encantar!

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