Um amigo me disse, certa vez, que sempre haverá quem veja o copo meio vazio e quem o veja meio cheio. Bom, se isso realmente se aplica a tudo, já é outra conversa. Mas o que quero é falar sobre algumas mudanças que sabemos que existem, embora, às vezes, a gente desconheça os dados. A ideia aqui não é fazer a “análise do copo”, e sim lembrar que ele está aí, para quem quiser ver.
Você já parou para pensar que quase 90% da população brasileira acima de 10 anos já tem um smartphone nas mãos? O dado, divulgado pelo IBGE em 2024, não é apenas um número. É um reflexo de como o nosso cotidiano foi tomado por telas, cliques e notificações. E mais: segundo o Relatório Digital Global, realizado por diversas organizações, em parceria com a We Are Social e a Meltwater, o Brasil é o segundo país do mundo onde as pessoas passam mais tempo on-line. São cerca de 9 horas e 13 minutos por dia. Só perdemos para a África do Sul, que lidera o ranking com 9 horas e 24 minutos.
Esses números falam de uma revolução silenciosa e veloz. Durante uma palestra em Aracaju, comentei sobre um trecho do livro “Padre Cícero”, do jornalista Lira Neto. A notícia de que o padre havia abençoado as armas dos cangaceiros demorou quase dois meses para chegar até Roma. A excomunhão dele, em 1891, também levou o mesmo tempo. Hoje, em frações de segundo, um vídeo gravado do religioso diante dos cangaceiros chegaria em celulares de pessoas do mundo todo.
É claro que a tecnologia é fascinante. Ela encurta distâncias, facilita o acesso ao conhecimento, amplia horizontes. Mas ela também exige que nos adaptemos. E essa adaptação tem sido, muitas vezes, confusa, especialmente dentro de casa. Vemos famílias perdidas. Pais e mães que não sabem bem como conduzir a educação de seus filhos nesse novo cenário e, por orgulho ou medo, não admitem essa dificuldade. Não querem parecer incapazes, como se buscar ajuda fosse sinal de fraqueza. E, assim, resistem a se aliar à escola. Tratam-na como um serviço, quase como tratam um banco ou uma operadora de telefonia, e esquecem que ali está uma parceira fundamental na formação de seus filhos, no legado que deixam para essa e as novas gerações.
Por outro lado, as escolas também estão lutando para se reinventar. Elas não querem apenas acompanhar o mundo. Querem compreendê-lo, influenciá-lo e, por que não, moldá-lo. Porque educar é isso: ampliar perspectivas, provocar reflexões, ensinar a pensar e a sentir. Para isso, é preciso dialogar com o presente, mesmo que ele mude todos os dias. E, algo muito importante, não esquecer que o professor não é uma máquina: é gente.
A boa notícia é que esse movimento está acontecendo. Eventos educacionais têm se tornado espaços de inspiração, trocas e encontros. Não é a solução dos problemas, mas é uma iniciativa de buscar luz para o que ainda é nebuloso. Um exemplo é o Congresso Eduko, que acontece anualmente em Belo Horizonte. Promovido pela Fecomércio, por meio do Sesc, do Senac e dos sindicatos empresariais, o evento já passou de um congresso tradicional para se tornar um verdadeiro movimento. Os ingressos acessíveis permitem que mais educadores participem, e estamos sempre lembrando da importância de um esforço da organização para que o palco principal seja dividido entre especialistas de renome nacional e professores que fazem a diferença no dia a dia das salas de aula mineiras. Sua contribuição para a educação é admirável. O próximo Eduko será no Sesc Palladium, nos dias 26 e 27 de setembro.
Outro exemplo vem aí. O Liga da Gide, um grande festival educacional, acontecerá no Expominas nos dias 5, 6 e 7 de outubro. A expectativa é reunir mais de quatro mil educadores, com foco em discussões sobre o futuro da educação, uso de inteligência artificial, tecnologia e práticas pedagógicas inovadoras.
Esses eventos são sementes lançadas. E há muitas outras sendo plantadas por educadores que buscam, inclusive, aprender com experiências internacionais. As imersões educacionais fora do Brasil têm ganhado força. E não se trata de copiar modelos estrangeiros, mas de buscar referências, ideias, inspirações que possam ser adaptadas à nossa realidade.
A Futura Eventos, por exemplo, planeja para outubro uma missão educacional que vai visitar dez dos mais reconhecidos polos de inovação pedagógica do mundo: Finlândia, Estônia, China, Coreia do Sul, Japão, Singapura, Dinamarca, Suécia, Itália e Estados Unidos. Em cada viagem, um grupo pequeno, geralmente com até 25 pessoas, é formado por professores, coordenadores, diretores, mantenedores, secretários de educação e até prefeitos. A ideia é ver de perto como outros países têm enfrentado os desafios educacionais, quais soluções encontraram, o que deu certo e o que pode servir de bússola para o nosso caminho.
Por trás dessas missões estão educadores experientes como os professores Marcos e Luciana Melo. Eles são anfitriões dessas viagens e pioneiros em eventos educacionais no Brasil. São pessoas que carregam nas malas, e no coração, mais de 30 anos dedicados à construção de uma educação relevante.
Diante disso tudo, o que se espera do educador de hoje?
Educar é caminhar com o mundo. Às vezes, ele anda rápido demais. Às vezes, tropeça. Mas a escola, essa instituição tão antiga quanto necessária, deve seguir firme. Mesmo que precise repensar o rumo, desacelerar um pouco ou inventar novos caminhos. Educar é isso: é manter a esperança viva.