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Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Humanidade na liderança

Publicado em 25/07/2025 às 06:00.

Por volta de 1997, ainda estudante de comunicação, vivi uma experiência interessante. A coronel Luciene Albuquerque, à época responsável pela comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais e com uma patente inferior, firmou uma parceria com a faculdade onde eu estudava. O desafio dos alunos, sob a coordenação de um professor, era o de desenvolver um plano de endomarketing e comunicação interna para a corporação.

Mais do que um projeto acadêmico, era a chance de falar com a alta cúpula da PMMG sobre valorização humana. Um grupo de comandantes acreditava que, numa instituição bicentenária, era preciso aprofundar a discussão sobre como valorizar as relações com as pessoas. Algum tempo depois, levamos essas reflexões a outros policiais de diversas regiões do Estado e, nesse processo, ouvi do Comandante Geral, Álvaro Nicolau, uma frase que carrego até hoje. 

Era algo como: “Gostaria que, ao ouvir a sirene de uma viatura passando pela rua, uma pessoa em casa sentisse segurança e confiança”. A frase tem muitas camadas, pois trata da confiança institucional, da percepção real de segurança, mas, sobretudo, de um desejo de bem-estar mútuo para a população e para o próprio policial. A lógica é clara: só se entrega cuidado quando se está minimamente bem.

Na década seguinte, já nos anos 2000, a médica Dra. Anna Bárbara, então presidente da Fundação Hemominas, me convidou para falar sobre felicidade com os servidores da instituição. Lembro como se fosse hoje: foi a primeira vez que vi uma executiva pública usar, com seriedade, a palavra felicidade no contexto do trabalho. E mais: entendendo-a como corresponsabilidade institucional.

Esse olhar me tocou bastante, pois ao contrário de tratar a felicidade como algo romantizado ou irrelevante, ela compreendia que ambientes saudáveis exigem líderes que se responsabilizem pela experiência emocional das pessoas.

Em 2010, nasceu o movimento Tio Flávio Cultural, iniciativa voluntária que conecta pessoas a causas maiores do que elas mesmas. Gente que doa tempo, escuta, presença. E que, ao sair de si e entrar na história do outro, descobre sentido e entende caminhos. Uma das definições mais inspiradoras sobre esse tema vem de Fyodor Dostoiévski, que disse: “A felicidade consiste em encontrar algo que te ajude a viver.” Ajudar o outro, nesse caso, é também uma forma de se manter vivo.

Durante a pandemia, fui contratado para dar uma palestra virtual para a Usiminas. Preferi ir pessoalmente até a sede da empresa, em Belo Horizonte, para garantir uma boa conexão. Após passar pelo teste rápido de Covid, tive uma recepção calorosa e fiz a apresentação para várias unidades da empresa conectadas à rede de comunicação interna.

Quando me preparava para sair, me falaram que o presidente da Usiminas, Sérgio Leite, queria falar comigo na sala dele. Demorei um pouco conversando com algumas pessoas e vi, vindo em minha direção, o presidente. Ele disse que queria reforçar sua fala online e me cumprimentar pessoalmente. Explicou que lê bastante sobre felicidade e acredita na vida como um equilíbrio entre trabalho, relações familiares, vínculos sociais e o cuidado com o outro. Ver um homem sóbrio, lúcido e humano à frente de uma empresa global me deixou feliz.

Muitas vezes, o discurso corporativo esquece que, antes de tudo, são pessoas que gerem outras pessoas. Como disse Simon Sinek, consultor e autor londrino: “100% dos clientes são pessoas. 100% dos funcionários são pessoas. Se você não entende de pessoas, você não entende de negócios.”

Recentemente, voltando para casa de carona com Luana e Débora, depois de gravarmos para o seu videocast “Adoro gente que desmaia”, Luana comentou sobre sua época na Fiat. Relatou experiências positivas e emocionantes. Contei a ela que participo voluntariamente do Conselho de Administração da FBAC, junto com Cledorvino Belini, que por anos foi presidente da Fiat Automóveis e do grupo Fiat Chrysler na América Latina. Ela se emocionou. Contou que, quando levava documentos para o Belini aprovar, vivia verdadeiras aulas de empatia, simpatia e humanidade. E me pediu um favor: “Fala que ele está nas minhas orações todos os dias. Eu o admiro muito”. Eu falei e ele se alegrou e agradeceu.

Pessoas com a humanidade desenvolvida deixam marcas profundas, seja num rápido encontro ou em anos de convivência. Quando vi a notícia da morte de Sérgio Leite, agora em julho, me lembrei da conversa com ele. Fiquei triste, obviamente, mas senti um alívio de não ter deixado de falar o quanto ele era grande.

Sérgio entendia o que disse Mahatma Gandhi: “Felicidade é quando o que você pensa, o que você diz e o que você faz estão em harmonia”. E isso vale, também, nas relações que cultivamos nos espaços de trabalho. Ambientes coerentes produzem vínculos consistentes. O movimento pela felicidade organizacional não é sobre sorrisos estampados em painéis motivacionais. É sobre coerência. Sobre entender que ambientes saudáveis nascem da escuta, da empatia, da coragem de mudar.

Tal Ben-Shahar, estudioso da Psicologia Positiva, propõe uma pergunta simples e poderosa: “Em vez de me perguntar se sou feliz ou não, uma pergunta mais útil é: como posso ser mais feliz?”. A felicidade é um processo, não um destino. Ela se revela nos pequenos ajustes, nos vínculos que cultivamos, nos valores que escolhemos viver, na cultura que praticamos, ou mesmo em uma mudança de comportamento que transforma o jeito de caminhar e, quem sabe, até o próprio caminho.

*Para falar comigo: www.tioflavio.com.br e no instagram @tioflavio

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