Tio FlávioPalestrante, professor e criador do movimento voluntário Tio Flávio Cultural.

Somos mineiros!

Publicado em 29/04/2022 às 06:00.

Quando o movimento Tio Flávio Cultural foi criado, em 2010, a ideia inicial era promover uma mudança de perspectivas, seja em pessoas ou organizações, entre nós mineiros, uma vez que temos grandes talentos, que produzem conhecimentos, pesquisas, artes, ideias, mas que por um estilo “reservado”, digamos assim, e até por uma certa “humildade ou acanhamento”, culturalmente acreditam que não é preciso dar visibilidade ao que criam.

E é importante não entender visibilidade como divulgação, mas como socialização neste caso.

O termo “Cultural” que agregamos ao nosso movimento foi de mudança de cultura, de ampliação de perspectivas. Já o nome “Tio Flávio” era necessário, pois eu dava aula em diversas instituições de ensino superior e precisava que aqueles espaços físicos nos fossem cedidos, uma vez que realizávamos palestras gratuitas, abertas ao público, sem custo para ninguém.

Naquela época o acesso ao conhecimento, através de cursos e palestras, se dava de maneira “gratuita” para quem era aluno de alguma faculdade, mas para quem era do mercado precisava ir a São Paulo ou Rio de Janeiro, pagando caro, para participar de eventos científicos ou mostras profissionais.

Assim, ao criar o Tio Flávio Cultural, abrimos espaço para que mineiros, de diversas áreas do conhecimento, compartilhassem suas experiências, gratuitamente, com alunos e profissionais. E lotamos os auditórios em várias edições a cada mês.

Nesse período tive mais contato com o termo “bairrismo”. Somos bairristas por convidarmos a maior parte de palestrantes de Minas? Aprendi que bairrismo é uma defesa “territorial” exacerbada e, muitas vezes, sem critérios.

Ao promover os talentos que temos em Minas, sejam nas ciências, nas artes, nos esportes, nas ideias, não estamos sendo bairristas, mas dando o devido respeito e crédito a tudo que fazemos de bom. E isso não significa que tenhamos que nos fechar e não receber conhecimento que venha de fora, ou que não possamos buscar em outros lugares esses recursos. Pelo contrário, temos é que nos abrir mais, porém fortalecendo e valorizando o que temos de potencialidade.

Numa frase que aparece na abertura de um antigo filme, o Apocalypto, Will Durant diz que uma grande civilização não pode ser conquistada, a não ser que se tenha destruído por dentro. Cooperação, esta é a lição.

Minas tem, por exemplo, artistas maravilhosos, assim como o Nordeste e outras regiões também têm. Nossa culinária é uma alquimia, a simpatia e o acolhimento do povo mineiro é uma tradição.  O que eu acredito que seja necessário é que a gente converse mais entre a gente, se apoie mais, se valorize mais, internamente, inclusive entre áreas distintas.

Olha que conversa legal, unir a economia criativa com as organizações do terceiro setor. Imagina a grande oportunidade disso acontecer com a expansão e inauguração de uma nova sede do P7 criativo, uma agência de desenvolvimento da indústria criativa. E que ao fazer isso, Minas saiba, o Brasil conheça e o mundo reconheça.

A questão é que a gente tem que aprender a colaborar mais. Já avançamos muito, mas precisamos destruir o efeito neblina que as montanhas causam em pessoas, instituições e empresas, poupando-nos de enxergar além.

Eu não me esqueço nunca da fala de um querido amigo, que é jurado dos maiores eventos da área de criatividade do mundo. Ele disse, certa vez: “eu não quero mudar daqui, eu quero mudar aqui”.

As mudanças são lentas, mas estão acontecendo. Valorizar o nosso passado é ter referência no presente e para o futuro, mas, como disse Belchior: “é você que ama o passado e que não vê que o novo sempre vem”.

Temos instituições de ensino e pesquisa com trabalhos que são referências mundiais. Aqui, nos nossos hospitais, atuam profissionais de grande competência e que estão em constante aprendizado e produção de conhecimento. Temos empresas que são visitadas para benchmarking por outras grandes corporações mundiais. Na moda, no design, na gastronomia, no stand-up, no teatro, no grafite, nas startups, na música e em tantas áreas mais, temos gente de ponta.

A metodologia de cumprimento de pena privativa de liberdade que é uma referência junto aos órgãos da ONU, a Apac, nasceu em São Paulo, mas se consolidou em Minas, sendo o estado que exporta esta experiência para outros continentes.

Fiquei bem empolgado pensando sobre tudo isso que aqui escrevo após participar do lançamento da unidade de Ensino, Pesquisa e Inovação do Instituto Mário Penna. Na fala de um dos diretores, a lembrança da potência intelectual e criativa do povo mineiro. E somos mesmo tudo isso, sem bairrismo, com competência e seriedade.

Minas tem a faca e o queijo nas mãos.

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