Tio Flávio*
Naquele dia em que acabei de dar uma palestra para mulheres vítimas de violência doméstica, uma participante veio ao meu encontro e me pediu um abraço. Ela não disse mais nada, não perguntou nada também, como diria Vander Lee. Chorava de forma contida e no fim do abraço olhou para mim, balançou a cabeça uma só vez, em sentido afirmativo, e foi embora.
Num auditório de um tradicional colégio particular de Belo Horizonte, um adolescente chorava copiosamente. Naqueles poucos minutos ele dizia das suas perdas atuais e projeta outras que viriam pela frente, como a mudança de país, já que ele tinha perdido os pais e precisava morar com um familiar que estava fora do Brasil.
Durante o café comunitário, em que cada pessoa idosa participante daquela palestra, no interior de Minas, levou um item para o congraçamento entre nós, os olhos brilhavam com aquele encontro, em que cada participante, com tantas histórias, via-se amparado pelos outros, que também carregavam seu repertório de vivências, recheadas de afetos e dores.
Numa entrevista com uma amiga querida, perguntei se ela era feliz, uma vez que compartilhou tantos anos com a filha, que nasceu com uma doença rara e morreu antes de completar os 30 anos de idade. A resposta foi rápida e sábia: “sim, sou feliz, como não ser? Mas, digo que minha alegria é triste”, como disse Bethânia.
Foi por ouvir estas e outras tantas histórias que resolvi organizar um livro, para que a experiência de algumas pessoas chegasse até outras, mostrando que o que sentem não é igual, mas carrega similaridades com o que outros também vivenciam. Este compartilhamento poderia ser rico para quem escreve e para quem lê, unindo pessoas desconhecidas que às vezes buscam algo parecido: cessar a culpa, entender suas fragilidades, continuar sua vida, amparo para suas dúvidas, caminhar para além dos seus traumas, ser feliz.
Convidei coautores, para que falem das suas próprias experiências diante de uma determinada situação. Cada relato conversaria com o leitor num formato de carta. Chamei o cantor Sander Mecca para ser o meu parceiro na organização dos textos e pedi a ele que, ao ler cada tema, pudesse buscar na música uma referência que se transformasse em título ou numa citação de abertura de cada texto. Porém, no ano passado, o Sander teria que adiar tal projeto em função da sua entrada no programa “A fazenda”, da Record.
Enquanto isto, fiz os convites a quem gostaria que participasse, estabeleci o prazo de entrega e quando o Sander voltou do confinamento, iniciamos nossas discussões sobre cada texto enviado. Estamos, agora, na fase de compor este novo livro, que deve ter como título “Toda dor (e todo amor) que sinto aqui: cartas para as minhas culpas, alegrias, frustrações, conquistas, fracassos e amores.” Mais do que escrever sobre esses sentimentos, a proposta é redigir uma carta para eles, que os olhe de frente, como se eles pudessem nos ouvir, chegando, assim, em quem também os conhece de perto.
Alguns capítulos chamando de base, pois eles serão os norteadores do livro. Iniciamos com a carta para quem sofre, escrita pelo psicólogo Anderson Rodrigues; Depois a conversa se torna direta, mas de maneira bem empática, para as pessoas que passam por uma tristeza profunda e contínua ou depressão. Para este texto, a psiquiatra Dra. Ana Luiza Prates foi a convidada; Odette Castro, que criou o projeto “Uma flor por uma dor”, fala diretamente com as famílias atípicas, inclusive as mães, quem em sua maioria acabam assumindo sozinhas a responsabilidade pelos cuidados dos filhos; Caso semelhante acontece com o Alzheimer, em que geralmente uma filha toma a frente das decisões diárias. Judy Robbe, uma inglesa acolhida pelos mineiros, especialista em síndromes demenciais, é quem escreve sobre este assunto;
Para falar para os familiares de pessoas que morreram pelo suicídio, uma psicóloga que se encaixa neste perfil e, após da morte do marido, se especializou no assunto. Luciana Rocha tem um livro chamado “Nem covarde, nem herói: amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, que já se tronou uma referência no assunto;
Uma carta construída a diversas “mãos”, por famílias adotivas, fala sobre os aspectos da adoção de um filho, escrita pelos membros do GADA Santa Luzia, o casal Roberta Orzil e Kenny Rosa; Mariana Pimenta e Marcela Giovanna, do CEMAIS, escreveram uma carta direcionada a uma pessoa que vive suas aflições diante do envelhecimento e a dra Cristiana Savoi, paliativista em essência e em ação, escreve para as pessoas que vivenciam o luto; O coletivo Mães pela Liberdade nos indicou a Luiza Lima para falar para as famílias LGBTQIA+; a Lu Dandara, da Aura da Luta, fala sobre violência doméstica, num papo bem real e doloroso, diga-se de passagem, que retrata a sua vida, descortinada para tantas outras mulheres e para todos nós. Eu falarei sobre a solidão e o Sander Mecca sobre adicção. Interligando os textos-base, teremos histórias curtas, de convidados que têm muito que nos dizer sobre as suas vivências.
O livro deve nascer em abril ou maio e parte da tiragem será destinada, gratuitamente, a bibliotecas comunitárias, escolas, instituições e projetos sociais.
Naquele dia em que acabei de dar uma palestra para mulheres vítimas de violência doméstica, uma participante veio ao meu encontro e me pediu um abraço. Ela não disse mais nada, não perguntou nada também, como diria Vander Lee. Chorava de forma contida e no fim do abraço olhou para mim, balançou a cabeça uma só vez, em sentido afirmativo, e foi embora.
Num auditório de um tradicional colégio particular de Belo Horizonte, um adolescente chorava copiosamente. Naqueles poucos minutos ele dizia das suas perdas atuais e projeta outras que viriam pela frente, como a mudança de país, já que ele tinha perdido os pais e precisava morar com um familiar que estava fora do Brasil.
Durante o café comunitário, em que cada pessoa idosa participante daquela palestra, no interior de Minas, levou um item para o congraçamento entre nós, os olhos brilhavam com aquele encontro, em que cada participante, com tantas histórias, via-se amparado pelos outros, que também carregavam seu repertório de vivências, recheadas de afetos e dores.
Numa entrevista com uma amiga querida, perguntei se ela era feliz, uma vez que compartilhou tantos anos com a filha, que nasceu com uma doença rara e morreu antes de completar os 30 anos de idade. A resposta foi rápida e sábia: “sim, sou feliz, como não ser? Mas, digo que minha alegria é triste”, como disse Bethânia.
Foi por ouvir estas e outras tantas histórias que resolvi organizar um livro, para que a experiência de algumas pessoas chegasse até outras, mostrando que o que sentem não é igual, mas carrega similaridades com o que outros também vivenciam. Este compartilhamento poderia ser rico para quem escreve e para quem lê, unindo pessoas desconhecidas que às vezes buscam algo parecido: cessar a culpa, entender suas fragilidades, continuar sua vida, amparo para suas dúvidas, caminhar para além dos seus traumas, ser feliz.
Convidei coautores, para que falem das suas próprias experiências diante de uma determinada situação. Cada relato conversaria com o leitor num formato de carta. Chamei o cantor Sander Mecca para ser o meu parceiro na organização dos textos e pedi a ele que, ao ler cada tema, pudesse buscar na música uma referência que se transformasse em título ou numa citação de abertura de cada texto. Porém, no ano passado, o Sander teria que adiar tal projeto em função da sua entrada no programa “A fazenda”, da Record.
Enquanto isto, fiz os convites a quem gostaria que participasse, estabeleci o prazo de entrega e quando o Sander voltou do confinamento, iniciamos nossas discussões sobre cada texto enviado. Estamos, agora, na fase de compor este novo livro, que deve ter como título “Toda dor (e todo amor) que sinto aqui: cartas para as minhas culpas, alegrias, frustrações, conquistas, fracassos e amores.” Mais do que escrever sobre esses sentimentos, a proposta é redigir uma carta para eles, que os olhe de frente, como se eles pudessem nos ouvir, chegando, assim, em quem também os conhece de perto.
Alguns capítulos chamando de base, pois eles serão os norteadores do livro. Iniciamos com a carta para quem sofre, escrita pelo psicólogo Anderson Rodrigues; Depois a conversa se torna direta, mas de maneira bem empática, para as pessoas que passam por uma tristeza profunda e contínua ou depressão. Para este texto, a psiquiatra Dra. Ana Luiza Prates foi a convidada; Odette Castro, que criou o projeto “Uma flor por uma dor”, fala diretamente com as famílias atípicas, inclusive as mães, quem em sua maioria acabam assumindo sozinhas a responsabilidade pelos cuidados dos filhos; Caso semelhante acontece com o Alzheimer, em que geralmente uma filha toma a frente das decisões diárias. Judy Robbe, uma inglesa acolhida pelos mineiros, especialista em síndromes demenciais, é quem escreve sobre este assunto;
Para falar para os familiares de pessoas que morreram pelo suicídio, uma psicóloga que se encaixa neste perfil e, após da morte do marido, se especializou no assunto. Luciana Rocha tem um livro chamado “Nem covarde, nem herói: amor e recomeço diante de uma perda por suicídio”, que já se tronou uma referência no assunto;
Uma carta construída a diversas “mãos”, por famílias adotivas, fala sobre os aspectos da adoção de um filho, escrita pelos membros do GADA Santa Luzia, o casal Roberta Orzil e Kenny Rosa; Mariana Pimenta e Marcela Giovanna, do CEMAIS, escreveram uma carta direcionada a uma pessoa que vive suas aflições diante do envelhecimento e a dra Cristiana Savoi, paliativista em essência e em ação, escreve para as pessoas que vivenciam o luto; O coletivo Mães pela Liberdade nos indicou a Luiza Lima para falar para as famílias LGBTQIA+; a Lu Dandara, da Aura da Luta, fala sobre violência doméstica, num papo bem real e doloroso, diga-se de passagem, que retrata a sua vida, descortinada para tantas outras mulheres e para todos nós. Eu falarei sobre a solidão e o Sander Mecca sobre adicção. Interligando os textos-base, teremos histórias curtas, de convidados que têm muito que nos dizer sobre as suas vivências.
O livro deve nascer em abril ou maio e parte da tiragem será destinada, gratuitamente, a bibliotecas comunitárias, escolas, instituições e projetos sociais.