"Os ganhos que a Copa vai trazer serão muito grandes"

Bruno Moreno - Hoje em Dia
09/06/2014 às 07:21.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:55
 (Samuel Costa)

(Samuel Costa)

A poucos dias do primeiro jogo da Copa do Mundo em Belo Horizonte, o secretário de Estado de Esporte e Turismo, Tiago Lacerda, não tem tempo nem para almoçar. Nesses últimos meses, a equipe dele trabalhou para organizar os detalhes finais, que envolvem a contratação de estruturas temporárias, organização de transporte para torcedores e delegações, questões relacionadas à segurança, além das incontáveis reuniões e entrevistas coletivas para a imprensa.
 
Apesar de haver um clima contra o Mundial de futebol no país, por parte do brasileiros e dos mineiros, Lacerda acredita que quando os torcedores estrangeiros começarem a chegar todos irão se contagiar pela festa do esporte mais popular do planeta.
 
Quanto às possíveis manifestações durante o torneio, o secretário afirma que as forças de seguranças do Estado estão prontas para fazer com que o evento ocorra. Ao mesmo tempo, espera que os protestos sejam menores do que os registrados no ano passado, no período da Copa das Confederações. Lacerda afirma que a polícia tem muito mais informação dos organizadores das manifestações, e admite que partidos políticos tentarão tirar proveito da situação.
 
O secretário pretende ficar no cargo até o fim do ano, para poder produzir um balanço de todo o impacto da Copa do Mundo em Minas Gerais, todas as ações realizadas pelo governo do Estado. Mas, para janeiro de 2015, programa o início de férias prolongadas.
 
Como foi a negociação com a Fifa para redução de custos das instalações temporárias da Copa?
 
A primeira planilha do COL (Comitê Organizador Local) com itens unitários, como mesas, cadeiras, raio-x, cabos etc chegou com R$ 70 milhões. E a primeira da Copa das Confederações chegou com R$ 50 milhões. Não é por maldade. É porque eles fazem orçamento referencial, e as empresas que fazem o orçamento não estão disputando um certame, então cobram o preço que quiserem. Dessa planilha referencial, além de termos cortado muitos itens, conseguimos, por meio de pressão conjunta das sedes, que a Fifa pagasse os geradores de broadcasting (TV).
Então, essas coisas são conquistadas ao longo do tempo. Nem tudo é bem aceito pela Fifa e pelo COL. Hoje estou com a percepção de que vamos conseguir fechar com o limite de R$ 50 milhões, podendo chegar nos R$ 45 milhões, ou um pouco mais abaixo. O que posso dizer é que 65% dos nossos itens estão fechados em R$ 24 milhões. Mas não há dúvida de que vamos honrar esse compromisso. Para sermos sede, tínhamos que assinar isso. Se não fôssemos sede hoje, as críticas seriam muito maiores. É claro que preferiríamos não pagar isso. Mas os ganhos que a Copa vai trazer para Minas Gerais serão muito grandes.
 
Quanto a Copa deve movimentar a economia mineira?
 
Há um estudo da UFMG que aponta incremento de 2% no PIB do Estado. Mas acho que vai ser melhor. A última pesquisa que recebemos aponta aumento acima de 300% de reservas de passagens internacionais para Belo Horizonte. Muitos argentinos virão. Uruguaios nem tanto, porque não jogam aqui, mas o Chile talvez jogue.
 
O Brasil tem sido acusado de praticar preços abusivos durante a Copa. O governo do Estado pretende fazer uma campanha contra isso?
 
Não é nossa competência. Estamos acompanhando o que está sendo feito. É uma articulação nacional, de órgãos federais e estaduais de defesa do consumidor. O Ministério do Turismo, no ano passado, entrou na questão das tarifas. Alguma coisa já deu resultado. Agora, isso é uma coisa que acontece no mundo todo. Aconteceu em Londres (Olimpíada de 2012), na África do Sul (Copa de 2010). O mercado é livre, é oferta e demanda. Claro que o Brasil, hoje, é um país caro, também para o brasileiro. Às vezes, a Copa do Mundo vive um pouco “Geni” aí na história, porque a sensação do poder de compra caiu muito. Então, não se pode misturar isso com Copa. O governo não pode chegar e falar: – Você não vai cobrar isso, cobrar aquilo. O que temos percebido é que a ocupação das cidades no período da Copa vai ser muito boa.
 
Já tem números?
 
Tenho conversado com algumas cadeias de hotéis. Os que estão incluídos oficialmente na operação do evento, que são os da seleção A e B, terão pico nos dias de jogos. O hotel que será da Fifa está quase com ocupação total em todo o período. Nos dias em que não há jogos, a média está em 60%, 70%. Alguns hotéis que não estão envolvidos nisso estão 100% ocupados em dias de jogos, e com ocupação alta na fase semifinal.
 
Como está a preparação da segurança e para manifestações?
 
Trabalhamos com cenários, como na Copa das Confederações. Mas nenhum cenário em maio de 2013 incluiu o que ocorreu na prática. Ninguém esperava manifestações com aquele volume todo. Qual foi o diferencial? A integração dos órgãos. Isso não ocorria antes. Não por problemas, mas por falta de fluxo, de normas claras, de como lidar com as situações, a padronização da comunicação. Foi muito bom. Isso se materializa no CICC (Centro Integrado de Comando e Controle), mas é só uma ponta disso. Tudo o que foi criado de QBRN (as ameaças químicas, radiológicas, biológicas e explosivas) foi uma parceria com o Exército Brasileiro e virou modelo para o Brasil. Essa relação institucional entre os órgãos é muito boa para o Estado e para o país. É um grande legado, junto da melhoria estrutural, equipamentos, sistemas.
 
E as polícias?
 
Estamos preparados, com o Batalhão Copa, na Polícia Militar e no Corpo de Bombeiros. A Copa das Confederações foi o teto com relação ao número de pessoas (em manifestações). Hoje, não acreditamos que teremos 100 mil pessoas na avenida Antônio Carlos. Se tivermos, os órgãos de segurança estão muito mais preparados, porque vivenciaram isso. A Copa do Mundo é um evento que atrai muito mais pessoas. Durante a Copa das Confederações, havia vizinhos, primos, pessoas muito próximas da gente que estavam ali (nas manifestações). Acho que esse sentimento da Copa do Mundo – todos para assistir – e o rumo que as manifestações tomaram – violência, depredação, mortes – afastaram um pouco uma parcela das pessoas de bem. E a polícia hoje tem muito mais informação, já identificou mais pessoas, o que está sendo planejado. Não falo só de black blocks, mas de diversos setores, inclusive alguns políticos, que vão se aproveitar. É normal que isso aconteça.
 
Qual é a expectativa?
 
É difícil saber o que vai acontecer, mas vai seguir o que houve na Copa das Confederações. Temos que permitir quem fizer manifestação dentro da lei. Quem estiver ferindo a lei tem que ser reprimido. E temos que garantir o direito de quem comprou ingresso assistir ao jogo, das seleções chegarem ao estádio, das autoridades, dos árbitros. Garantir a realização do evento. Foi um grande desafio na semifinal na Copa das Confederações. Dois ou três dias antes existia, por parte da Fifa e do COL, receio muito grande com aquele Brasil x Uruguai. Porque a situação estava muito indefinida. Então fizemos reunião de emergência no aeroporto da Pampulha, com o ministro da Justiça (José Eduardo Cardozo), tomamos algumas medidas emergenciais, com a participação muito firme do governador (Antonio Anastasia). Ele foi fundamental nesse processo, acompanhou tudo muito de perto. Hoje a situação é outra. Garantir a realização da semifinal nos deu uma confiança muito grande, porque não estávamos preparados para aquilo. Claro, houve morte no viaduto, e isso é lamentável. Mas conseguimos, no mínimo das condições, fazer a coisa fluir bem.
 
Uma das principais obras de mobilidade em BH é o BRT/Move. Se as manifestações forem na Antônio Carlos, o Move não vai passar.
 
Teremos as linhas especiais da Copa, porque devemos atender diversas regiões da cidade, num sistema em que as pessoas poderão estacionar perto de onde o ônibus irá sair. O BRT não será linha especial para a Copa. Ele funcionará normalmente. Então, a gente tem essa garantia. Se tiver o BRT, ótimo. Mas sempre falei que o BRT não é obra para a Copa. Fizemos a Copa das Confederações sem o BRT. Ele agrega muito à operação nos dias de jogos, porque a capacidade de atendimento é muito grande, em intervalo de tempo pequeno. Mas, se fechar, não tem como passar, paciência. O importante é que ele está pronto para a cidade.
 
Minas estará pronta para receber turistas?
 
Sim. O povo mineiro é parte fundamental nisso, gosta de receber as pessoas. Daqui a pouco começam a chegar os gringos, torcedores de Copa. As pessoas chegando de peruca colorida, cara pintada, ficando na rua até tarde, muitos argentinos, chilenos. A partir do momento em que a gente começar a ver isso nas ruas, nas praças, as pessoas vão se assustar positivamente. Tendem a abraçar ainda mais o evento. Mas, é claro, a gente sempre queria ter feito mais. Mas existem restrições de tempo, de recurso. Não tem como resolver carências do passado em três anos, por conta da Copa. Fizemos aquilo que era essencial. Conseguimos fazer algumas coisas que não eram essenciais e outras importantíssimas, que eram o Mineirão, as obras de infraestrutura, o Independência. O que foi o ano de 2013 para o futebol mineiro (o Atlético campeão da Copa Libertadores e o Cruzeiro do Campeonato Brasileiro)? Não foi por causa dos estádios, mas eles foram partes importantes nisso. É claro que queria ter feito mais. Talvez, capacitado mais pessoas em língua estrangeira, porque isso é um legado importante.
 
Vai fazer falta?
 
Sempre faz. Paris é um exemplo. Não é tão fácil encontrar gente que fale inglês em Paris. Só que essa é uma dificuldade que você encontra em vários lugares do mundo. Se tivéssemos todos os belo-horizontinos falando inglês e espanhol seria o cenário ideal, não só por causa da Copa, mas depois para encontrarem melhores postos de trabalho. Mas falta recurso, é difícil capacitar as pessoas. Sobraram vagas em cursos de capacitação.
 
De língua estrangeira?
 
Sim. Fizemos o que era possível. Talvez poderíamos ter divulgado mais, mas seria necessário ter mais recurso. Queríamos ter investido mais em destinos turísticos, em sinalização. Mas temos projetos que não foram feitos e que podem ser executados após a Copa.
 
O senhor deixará a secretaria após a Copa?
 
Meu planejamento pessoal é ficar até o fim de 2014. É importante passar a Copa do Mundo. Temos que fazer um grande balanço. Minha intenção é montar um bom relatório. Para o Estado é importante ter registro de alto nível de tudo o que foi a Copa do Mundo aqui, desde o início. Os planejamentos, a Copa das Confederações, números do turismo, prestação de contas. Queremos isso de forma bem feita. É um trabalho de várias equipes, não só meu. Independentemente da questão eleitoral, de quem será o governador a partir de janeiro de 2015, minha intenção é tirar férias, ficar sem ocupação durante um período bom.
 
Qual a sua posição em relação ao incidente no Aeroporto de Confins, na última quinta-feira, em que militares da Aeronáutica não permitiram que o senhor e o prefeito de Belo Horizonte (Marcio Lacerda) recebessem a seleção chilena?
 
É lamentável. Quem tomou essa decisão não participou dos processos de integração. Estamos trabalhando nisso há tanto tempo e quem tem a competência para liberar a entrada no aeroporto é a Polícia Federal. Tínhamos essa liberação. Quem conhece da operação da Copa somos nós. Se querem agir assim, podemos compensar em outras frentes. Eu iria entregar uma bandeira de Minas, e o prefeito uma bandeira da cidade e um livro de futebol. Nossa intenção era mostrar a cordialidade e receptividade do povo mineiro. Depois até liberaram nossa entrada, mas aí já era tarde.
 
O senhor vai receber as seleções da Argentina e do Uruguai?

 
Devo decidir isso segunda-feira (hoje). Preciso ir a São Paulo para o Congresso da Fifa, na terça, e, talvez, não dê para ir. Mas se não for será por questões de agenda.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por