Ouro na entressafra: produção de óleo de abacate cresce 'de carona' na olivicultura

Patrícia Santos Dumont
26/03/2019 às 15:34.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:58
 (Pixabay/Divulgação)

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Aumento do consumo in natura, boa resposta ao cultivo consorciado e possibilidade de extração do óleo com maquinário já usado na fabricação do azeite de oliva. Rejeitado durante anos, devido ao alto valor calórico, mas muito saudável, o abacate vem encontrando terreno fértil em Minas. Cultura permanente, possui variedades compatíveis com diferentes tipos de clima e relevo encontrados no Estado.

“Alguns anos atrás era um cultivo de fundo de quintal. Hoje, são plantios comerciais, planejados, com áreas mais extensas, muitos deles tecnificados e com grande produtividade. Em Minas, as cultivares híbridas adaptaram-se bem ao clima”, explica o engenheiro agrônomo Adelson Francisco de Oliveira, pesquisador da Epamig Sul, em Lavras.

Ao lado de São Paulo e Paraná, Minas é responsável por 75% da produção nacional, com 41 mil toneladas produzidas ao ano. Os outros dois estados contabilizam 79 mil e 15 mil toneladas anuais, ocupando o topo e o terceiro lugares do ranking nacional, respectivamente.

Capacidade ociosa

De acordo com o pesquisador, uma das apostas do Estado é o óleo de abacate, cuja extração é semelhante à das azeitonas. “Já temos, no Sul de Minas, um plantio de oliveiras bem consolidado. O que aconteceu é que muitos produtores investiram na instalação de maquinário que só é utilizado entre janeiro e abril, quando se conclui a colheita”, justifica o especialista. 

Ele explica que é possível, portanto, utilizar a capacidade ociosa das máquinas para produzir o óleo de abacate, rico em gorduras de boa qualidade e benéficas para a saúde. “São equipamentos caros. Assim, a possibilidade de usá-los por mais tempo, otimizando, inclusive, a mão de obra, torna-se uma vantagem extra”, acrescenta.

Para o pesquisador, a tendência é a de que, com o tempo, a fabricação do óleo vegetal se consolide como atividade agroindustrial, possibilitando, inclusive, outras destinações ao fruto sem a qualidade necessária para ser comercializado in natura. 

“Parte do material pode ser destinada à indústria farmacêutica e cosmética, voltado para a fabricação de emulsões, sabões e sabonetes. Há uma variada gama de aplicações”, detalha Adelson de Oliveira. 

Cultura consorciada

Cultura permanente, isto é, que proporciona mais de uma colheita para um mesmo plantio, a abacaticultura também permite o cultivo consorciado, alternativa para agricultores com atividades já estabelecidas. 

Em Minas, conforme o pesquisador da Epamig, há registros positivos de consórcio entre abacate e café, trigo, arroz, milho e até feijão. “Até o décimo ano é possível conduzir duas culturas conjuntas. Depois, é preciso definir qual será a principal”, explica. 

180 mil toneladas: produção anual de abacate no brasil, conforme levantamento da epamig

Produtor do Sul de Minas quer aproveitar 100% do fruto

Um dos pioneiros no Estado no cultivo do fruto, o agrônomo José Carlos Gonçalves, do Sul de Minas, produz abacate in natura, extrai o óleo vegetal e se prepara para colocar no mercado outros derivados do produto de origem mexicana. O objetivo é incrementar a produção anual e atingir o aproveitamento de 100% do que é plantado em terras mineiras e paulistas há mais de duas décadas.

Atualmente, o agricultor e empresário colhe cerca de 4 mil toneladas da fruta por ano, o correspondente a 10% da produção estadual. Voltada para o mercado nacional, onde é comercializada de Norte a Sul, literalmente, a produção divide espaço com o cultivo de café. “Comecei com a produção consorciada das duas variedades, mas, hoje, tenho áreas exclusivas para um e para outro produto”, explica o agricultor, proprietário de uma indústria voltada para o processamento do fruto.

Os 450 hectares de abacate são distribuídos em seis propriedades: São Sebastião do Paraíso, São Tomás de Aquino, Ibiraci e Cássia, todos municípios do Sul de minas, e Cajuru, em São Paulo. As duas variedades plantadas são margarida, de casca grossa, mais rústica, portanto menos exigente, e breda, tipo delicado, que requer mais tecnologia, mas que tem maior valor de mercado. 

23% participação da produção mineira no cenário nacional

Próximos passos

Um dos próximos passos do produtor de abacate inclui a vistoria final da Anvisa para iniciar a comercialização de um formicida derivado do fruto. O projeto, segundo ele, já obteve aprovação, mas precisa passar por uma avaliação definitiva. O produto é destinado ao combate de saúvas, praga comum em diferentes tipos de plantações. 

“Já dominamos a tecnologia de extração de azeite, a fabricação do formicida a partir do caroço de abacate e, agora, começamos um projeto para fabricação de farinha da polpa”, adianta José Carlos Gonçalves. Nas terras dele, o fruto mexicano é plantado desde a década de 1980. Localizada em São Sebastião do Paraíso, a Fábrica tem capacidade para processar 3.600 quilos do fruto por hora.Adelson Francisco de Oliveira/DivulgaçãoVARIEDADE - Óleo extraído do fruto utiliza mesmo maquinário voltado para a produção de azeite de oliva, segmento que cresce ano após ano sobretudo nos municípios do Sul de Minas 

Conheça algumas variedades de abacate, conforme a associação nacional de produtores da fruta:

– Avocado: possui alto teor de gordura, é ideal para preparo de guacamole – prato típico da culinária mexicana. Quando maduro, fica com a casca escura
– Breda: tem teor médio de óleos, sendo uma das variedades mais populares no Brasil
– Fortuna: tem polpa adocicada e médio teor de óleo, tornando-se boa opção para ser consumido in natura
– Geada: possui grande quantidade de polpa e baixo teor de gordura. É indicado para preparo de cremes
– Margarida: é bom para saladas, em função do médio teor de gorduras presente na polpa
– Ouro verde: é ideal para cremes, sobremesas e sucos, pois possui médio teor de gorduras
– Quintal: tem polpa cremosa, ideal para sucos e smoothies (bebida espessa e cremosa)Pixabay/Divulgação

COMPATÍVEL - Em Minas, o tipo mais compatível com clima e relevo é o híbrido

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