Pacote de ajustes desencadeia ofensiva de base social contra o PT

Thiago Ricci - Hoje em Dia
20/09/2015 às 09:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:48
 (Marcelo Camargo)

(Marcelo Camargo)

Pressionada desde o início do segundo mandato com ações, ainda em tramitação no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), cujos desfechos podem iniciar um processo de impeachment, a presidente Dilma Rousseff (PT) está mais isolada do que nunca. Ressabiados desde a formação da equipe econômica, centrais sindicais, movimentos e organizações sociais declararam guerra ao pacote de ajustes do governo, fundamental para garantir o quarto mandato de gestão petista.

“É um período de guerra. Vamos usar das nossas armas, que são a mobilização social com intenso trabalho na base, passando por todos os núcleos, sindicatos, pastoral, movimentos. O governo, infelizmente, continua esquizofrênico”, diz o integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) Silvio Neto.

A principal organização em busca por moradia urbana, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) também reagiu frontalmente contra o pacote. “O MTST vai mais uma vez repudiar as soluções adotadas pelo governo, que joga o custo da crise nas costas dos trabalhadores mais pobres. A saída para a crise é com o povo e não contra ele”, protestou, em nota, o coordenador nacional do movimento, Guilherme Boulos.

Apesar de serem unânimes quanto à manutenção do mandato de Dilma, alguns segmentos já admitiram não ter a mesma proximidade com o PT.

“Infelizmente, o governo está caminhando para o isolamento. Grande erro tático estratégico do governo Dilma é negar, até aqui, as bandeiras carregadas na campanha presidencial. Não podemos mais acreditar na política partidária como se fosse a principal via para garantir transformações em busca de uma sociedade melhor. Agora gastamos 90%, 95% da energia com lutas coletivas, e apenas o restante com política partidária”, diz o assessor da Comissão Pastoral da Terra, Frei Gilvander.

Outro braço da CNBB, a Cáritas Brasileira tem posicionamento semelhante. “Há um erro estratégico nesse governo. Foi um erro querer implementar o ajuste fiscal já no primeiro ano e a toque de caixa. A crise deve ser combatida com diálogo com a sociedade. Alguns setores que serviram de base para a eleição de Dilma não se sentiram representados”, avalia Elerson da Silva, assessor técnico da Cáritas Regional.

Repúdio a arrocho será pauta de dois atos nacionais em um intervalo de dez dias

Determinados a impedir a aprovação do pacote de ajustes, movimentos sociais e centrais sindicais planejam realizar dois grandes atos nacionais em um intervalo de dez dias. O primeiro, previsto para a quarta-feira, promete paralisar parte dos serviços públicos federais.

“A presidente devia parar de anunciar medidas que dialogam com o mercado e com o projeto que foi derrotado nas urnas. Tem que voltar a conversar com margem social que a elegeu. No início do ano a justificativa foi de que o ajuste fiscal era necessário para acenar ao mercado. Ficou um semestre acenando e o que ocorreu? Rebaixamento em agência de risco”, afirma a presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em Minas, Beatriz Cerqueira.

A insatisfação da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) – entidade que representa 80% do funcionalismo público do Executivo federal – é com o congelamento do reajuste salarial, suspensão de concursos públicos e o fim do abono de permanência para o servidor que resolve continuar em atividade após a aposentadoria.

3 de outubro

No dia 3 de outubro, em um sábado, as organizações sociais planejam levar novamente a insatisfação com o pacote de ajustes às ruas. No entanto, a pauta será dividida com a defesa da Petrobras, justamente na data em que a estatal completa 62 anos.

“Vamos à rua para defender a classe trabalhadora e protestar contra a política econômica do governo Dilma, que é um grande equívoco. Vamos em defesa da democracia, por mais direitos e contra esse pacote”, diz o coordenador do MST em Minas, Silvio Neto.

Petrobras

“A Petrobras precisa, enquanto tudo que representa na economia, ser agenda dos movimentos populares e sociais. Principalmente na investida contra o Projeto de Lei 131/2015, que altera a participação da estatal no regime de partilha, voltando para modelo de concessão. Isso vai retirar todo recurso que se conta para educação e saúde para os próximos anos”, afirma Beatriz Cerqueira.

“Participaremos do ato em defesa da Petrobras, da democracia, e a favor do povo brasileiro. Vamos lutar para que não haja retrocesso, nem estagnação, nas políticas sociais implementadas desde 2003. Pelo contrário, que o governo possa descobrir outras formas de recursos, que possa vir da taxação do lucro bancário”, diz Elerson da Silva, da Cáritas Brasileira.

Apesar de insatisfação, grupos são unânimes ao criticar busca por impeachment de Dilma

Independentemente da origem, organizações e movimentos que integram o campo social historicamente alinhados ao PT são uníssonos em alguns pontos. A profunda insatisfação com a política econômica do segundo mandato da presidente Dilma, o afastamento e a falta de diálogo com as bases e, na mesma medida, o repúdio a qualquer tentativa de afastar a petista da gestão.

“Nossa avaliação é a de que a maior crise atualmente não é econômica, mas política. Há setores insatisfeitos com o resultado das últimas eleições presidenciais e, a todo custo, se articulam com estratégias, a cada momento diferentes, para deslegitimar a eleição”, avalia o assessor técnico da Cáritas Brasileira Elerson da Silva.

“Não temos dúvida da legitimidade tanto do governo quanto da necessidade de posicionarmos em defesa da democracia para que não haja nenhum tipo de força antidemocrática ou golpista que diversos setores da direita brasileira vêm tentando implantar no Brasil. O MST não vacila na defesa da legitimidade do governo Dilma”, afirma o coordenador do MST em Minas, Silvio Neto. A mesma linha é seguida por centrais sindicais.

“Nossa pauta crítica ao pacote mostra autonomia do movimento sindical, mas não fazemos coro ao movimento de retirada da presidente. Não fazemos parte desse time. Vivemos período de rombo no governo FHC que foi desastroso e nem por isso fizemos a opção por golpe”, diz Beatriz Cerqueira, coordenadora do SindUTE-MG.

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