Parabéns Michel Temer, Henrique Meirelles e Ilan Goldfajn: o estoque da dívida pública federal superou em setembro, pela primeira vez na história, o patamar de R$ 3 trilhões. Na comparação com o mês anterior, a dívida subiu 3,10%, para R$ 3,046 trilhões. Em nove meses, de dezembro a setembro, a dívida saltou 9,1%.
As emissões de títulos estão superando em muito as amortizações em função do déficit primário. As contas do governo precisam fechar, mas como este gasta mais do que arredada, financia a diferença junto a terceiros, emitindo títulos da dívida. Somente em setembro a emissão líquida (emissões menos amortizações) foi de R$ 62 bilhões. Mas não é só isso. O juro médio de 12,7% que recai sobre o estoque é impagável. Só de juros que o governo não conseguiu honrar no mês foram incorporados ao principal da dívida R$ 29,7 bilhões.
E, vejam bem, estamos falando dos juros médios sobre o estoque. Os novos papéis emitidos em setembro pagarão uma média de 14,66% ao ano. Uma verdadeira bomba relógio.
Bancos
Os grandes bancos, por serem as empresas mais rentáveis do país, contratam a peso de ouro os melhores executivos e economistas disponíveis no mercado. São, por isso, modelos de gestão. Também deveriam ser modelos de estratégia, mas neste ponto são uma catástrofe. Qual o motivo? Nem mesmo os melhores executivos conseguem conter a ganância de seus patrões, os banqueiros.
Vejam se estou enganado. Ontem, o jornal Valor Econômico publicou matéria com a projeção do resultado de quatro grandes bancos para o terceiro trimestre. São eles o Branco do Brasil, Itaú Unibanco, Bradesco e Santanter. Do grupo dos cinco gigantes, que compõem o oligopólio do setor financeiro brasileiro, faltou apenas a Caixa. Vamos, então, aos números apurados pelo Valor e a uma análise minha. As projeções foram colhidas junto a analistas de mercado.
A expectativa é de uma queda do lucro combinado dos quatro bancos de 14,3% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado, para R$ 12,9 bilhões. Os motivos seriam a inadimplência recorde, principalmente das empresas, e a estagnação do crédito por conta da crise econômica. Por banco e por ordem decrescente do tamanho do lucro temos as seguintes projeções: Itaú Unibanco, lucro de R$ 5,1 bilhões, -17,1% comparado ao terceiro trimestre de 2015; Bradesco, R$ 4,1 bilhões, -9,1%; Banco do Brasil, 2,3 bilhões, -21,5%; Santander, R$ 1,5 bilhão, -4,6%.
Ainda são resultados astronômicos, de fazer inveja a qualquer empresa brasileira de setor não-financeiro, mas a piora dos resultados é nítida e maior, inclusive, que o encolhimento da economia. De fato, era de se esperar que uma queda acontecesse, mas não nessa dimensão. Na crise, o crédito cai porque acompanha o recuo das vendas de bens de consumo duráveis e dos investimentos das empresas. E a inadimplência também impacta os resultados. Mas a principal pressão sobre os resultados dos bancos está nos juros, e não na crise ou nas variáveis de mercado.
De acordo com a última pesquisa da Anefac, o juro médio do cartão de crédito está em 463% ao ano; do cheque especial, em 309%; e do empréstimo pessoal, em 73%. São juros impagáveis e, como foram estabelecidos por combinação pelos próprios bancos, deduz-se serem estes os responsáveis pela inadimplência que, agora, derruba o lucro. Lembram da história da galinha dos ovos de ouro? Pois é...