Arte em boas fatias: versões modernas do popular bolo vão muito além da receita básica

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
19/11/2017 às 07:21.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:46
 (Fotos: Pedro Gontijo, Studio Tertúlia, Amélia Lino/Divulgação, Maurício Vieira, Studio Tertúlia)

(Fotos: Pedro Gontijo, Studio Tertúlia, Amélia Lino/Divulgação, Maurício Vieira, Studio Tertúlia)

Reza a lenda que a receita mais antiga de bolo teria saído das cozinhas do Egito Antigo, quando ingredientes e preparo eram básicos, bem diferente dos dias atuais. A iguaria foi se sofisticando tanto com o passar do tempo que agora ostenta uma infinidade de versões e status de sobremesa. Caiu ainda mais no gosto do consumidor e hoje há lojas inteirinhas ou profissionais dedicados a oferecer todo tipo de variação – simples, recheada, pelada, com massa firme ou fofinha, frutas e até flores. Alguns são verdadeiras obras de arte. 

Pelo Instagram é possível acompanhar e encomendar o trabalho de Renata Bastos Zanetti. A “fazedora de bolos”, como se denomina, trocou de profissão há poucos meses, mas há três anos vem se dedicando a cozinhar delícias em forma de massa, recheio e cobertura, ao lado do marido. Fotos: Divulgação e Pedro Gontijo (à esquerda e embaixo e à direita)Receita de Renata Zanetti virou sensação no Instagram, onde contabiliza mais de 20 mil fãs; quitute feito em BH é 100% exclusivo

O tradicional à base de chocolate, carro-chefe da @rebzanetti (perfil na rede social com mais de 20 mil seguidores), é garantia de cliente satisfeito, afirma a proprietária. Para além das variações com ganache, caramelo com flor de sal, amêndoa ou nozes e morango, a receita, feita sob encomenda e com exclusividade para cada cliente, é “imbatível”, garante.

Exclusivo

“Bolo, para mim, é como uma tela em branco. Não faço projeto. É um processo totalmente emocional, intuitivo”, define, ao mencionar os acompanhamentos: decoração com flores frescas ou desidratadas (processo feito por ela mesma) e uma caixa tão caprichada que pode virar até presente. 

O cardápio tem ainda milho com doce de leite, limão, queijo com goiabada, pêra com calda-surpresa, tangerina e cheesecakes de frutas vermelhas e Nutella. Os bolos servem de 12 a 40 pessoas e, é bom lembrar, precisam ser encomendados com antecedência.

Bolo pelado

Outra que fez nome em BH graças, sobretudo, ao queridinho entre os brasileiros, o naked cake (ou bolo pelado), foi Isabela Franco. Especialista na tradicional receita popularizada por ingleses e norte-americanos, a cake designer guarda pouco segredo sobre a equação massa gostosa e estruturada. “São super molhadinhos, técnica correta para empilhar e continuarem úmidos até servir”, revela.Fotos: Maurício Vieira (esquerda e alto) e DivulgaçãoFórmula com recheio aparente e cobertura de frutas e flores é carro-chefe da cake designer Isabela Franco 

À experiência de quase 10 anos confeitando bolos, somam-se camadas de pão de ló (até cinco), recheio cremoso (nozes com ganache de chocolate é o mais popular), frutas frescas, flores no topo e nas laterais. Propositalmente sem cobertura, o naked é levemente mais rústico. E deixa os ingredientes à mostra, como se quisesse forçar a degustação. “O segredo de um bom bolo, sem dúvida, é a harmonia de texturas na hora de comer: uma mistura entre cremoso, aerado e úmido, tudo ao mesmo tempo. Tudo isso é fundamental para o paladar ficar completo”, enfatiza a cake designer.

Técnica importada da Coreia e ensinada no Brasil transforma receita em buquês de flores

Rosas inglesas, peônias, hortênsias ou dálias. Não estamos falando sobre o cultivo de flores nem dando opções para reformar o jardim, mas sobre algumas possibilidades para a nova sensação no Brasil, os flower cakes. Trazida da Coreia do Sul, onde ganhou popularidade, a técnica, que consiste em cobrir o quitute com verdadeiros buquês floridos, vem ganhando adeptos pelo Brasil. 

Ensinada com pioneirismo pela cake designer Amélia Lino – goiana que já viveu em Belo Horizonte e, agora, viaja o país ensinando o método –, a receita requer habilidades manuais e domínio de uma importante função, a criatividade.Fotos: Amélia Lino e Rui Nagae/Divulgação (à direita)Técnica ensinada com pioneirismo no Brasil pela goiana Amélia Lino foi importada da Coreia; arranjos formam buquês perfeitos 

“O bolo em si pode ser o preferido da pessoa. Na região Norte, usa-se muito o amanteigado, por exemplo. No Sudeste e Centro-Oeste, o pão de ló. Mas o que conta mais é o processo criativo, que inclui a paleta de cores e o uso de combinações harmoniosas e menos óbvias para compor os arranjos”, detalha.

Para confeccionar e modelar as flores, a receita original coreana utiliza glossy buttercream, uma cobertura brilhante à base de manteiga e merengue italiano. Por aqui, entretanto, é o universal chantilly que têm sido o escolhido, diz Amélia Lino. A diferença entre as duas técnicas, ensina a cake designer, é que a primeira só preserva a consistência durinha das flores quando mantida em geladeira. Já a segunda, suporta até 40 graus sem derreter. 

oleiras de primeira viagem podem levar até 4 horas para terminar a obra-prima, cujo preço pode chegar a R$ 220 para servir até 20 pessoas. Os cursos, por sua vez, variam de R$ 650 a R$ 900 por módulo. Belo-horizontinos interessados em aprender a técnica podem anotar na agenda: a cake designer estará na capital mineira dias 18 e 19 de dezembro. Mais informações no Instagram: @amelialinoo.

Além disso:

O nome já diz tudo. De.Ló Bolos nasceu há 3 anos, em BH, e, desde então, vem replicando a receita que, naquela época, já fazia sucesso nos natais da família: à base de pão de ló. Fofinha, leve e aerada, a massa – que não leva leite nem manteiga – permanece gostosa em temperatura ambiente ou depois de gelada e combina com tudo. Tudo mesmo! Do bolo festivo, o mais tradicional da casa, com creme de baunilha, doce de leite caramelado e crocante de castanhas, ao popular brigadeiro duo (metade branca, metade preta).Studio Tertúlia/DivulgaçãoDe.Ló Bolos, de Mariana Goulart, tem bolo de pote como especialidade da casa, mas recheio preferido é o crocante (alto) 

Proprietária da boleria, localizada no bairro Sion, Zona Sul da capital, Mariana Goulart, que cozinha com a mãe e outras duas ajudantes, conta que o carro-chefe da família De.Ló são os bolos de pote. Febre há mais de um ano, quando surgiram com tudo Brasil afora, a modalidade é servida em porções individuais e agrada todo mundo. O segredo, garante a moça, que adora incrementar receitas, é respeitar as proporções entre massa e recheio para garantir experiências inesquecíveis a quem prova. 

“Essa questão do farelo, usado por muita gente que faz esse tipo de bolo, é muito importante. A ideia aqui é proporcionar naquela pequena porção a mesma experiência de comer uma fatia inteira”, destaca Mariana. Segundo ela, é fundamental ainda mantê-lo úmido na medida certa, evitando que a massa fique encharcada demais e, na boca, provoque sensação de “papa”.

Receita de vó

No bairro Caiçara, região Noroeste de BH, é também onde se localiza a simpática boleria com cara de cozinha de vó Bolo Doce Bolo. Aberta há pouco mais de um ano, a loja alia técnicas antigas à modernidade para oferecer quitutes fresquinhos com cara (e gosto!) de feito em casa. "Nosso lema é: perdemos o prazo e a venda, mas não entregamos um bolo fora do nosso padrão", revela a proprietária da loja, Nalu Saad. 

Cozinheira e boleira de mão cheia, ela descarta o uso de recursos tecnológicos e de ingredientes como conservantes, emulsificantes e saborizantes, tudo para não alterar o sabor original das receitas. Dentre as mais populares estão cenoura (da linha básica), o gourmet leite Ninho, agora em versão vulcão, e ainda maçã com canela, passas e damasco. "Quem produz tem que conhecer bem, saber os aspectos e até volume de bolhas na massa antes de levar ao forno. Com ingredientes não dá para economizar", sentencia a proprietária da boleria.Nalu Saad/Divulgação

Bolo Doce Bolo mantém modo de fazer tradicional para não interferir no sabor da receita

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