Audiovisual oxigenado: qualidade se destaca em concurso de roteiros e narrativas feito no Estado

Luisana Gontijo
lgontijo@hojeemdia.com.br
23/04/2021 às 18:17.
Atualizado em 05/12/2021 às 04:45
 (Helder Queiroga/Divulgação)

(Helder Queiroga/Divulgação)

A periferia – onde as políticas públicas, muitas vezes, não conseguem chegar e a desigualdade costuma fazer morada –, é o berço esplêndido da cultura brasileira. Desse circuito derivam o samba, os folclores, a cultura popular, os povos tradicionais, comunidades artísticas como as do Vale do Jequitinhonha e de outras regiões rurais do Estado.

Tendo essa realidade como eixo, o Primeiro Concurso de Roteiros e Narrativas – Vozes da Periferia, criado pela ONG Contato, atestou, nas mais de 100 inscrições que recebeu, de todas as regiões do Estado, diversidade e qualidade entre os roteiristas mineiros que buscam espaço no cenário audiovisual. De todos os projetos de curtas-metragens inscritos, 80 foram validados, com documentação regular, e, entre eles, os autores de 20 histórias e narrativas selecionadas receberam R$ 2 mil cada uma.

Na escolha dos argumentos ou roteiros de curtas-metragens de ficção ou documentário, as histórias tiveram peso especial. “Em todos esses 20, era muito importante que a gente valorizasse as histórias. O cinema se faz de histórias, de boas narrativas, bons argumentos. Buscamos uma seleção que contemplasse homens e mulheres de várias regiões do Estado”, pondera Helder Quiroga, da ONG Contato.

Ajuda financeira
Os recursos vieram da inscrição do projeto na Lei Aldir Blanc, sancionada em função da pandemia, para auxílio ao setor cultural. Quiroga ressalta que havia uma ideia, ao inscrever o Vozes da Periferia, de que só seria válido se o projeto visasse a distribuição de recursos.
“Grande parte dessas iniciativas contempladas vão se valer desses recursos para que os realizadores busquem colocar seus projetos no mercado ou mesmo para  apoiar aqueles que precisam pagar conta de água, de luz, aluguel”, observa ainda Quiroga.

A elaboração do projeto visava a identificar e localizar esses novos realizadores de audiovisual que estão nas periferias, reforça, ele. “Pensando sempre a periferia não só como a favela, mas comunidades que estão na fronteira da desigualdade, às quais as políticas públicas, muitas vezes, não conseguem chegar”.

Um traço interessante de parte dos argumentos, roteiros e memoriais descritivos inscritos, conta Quiroga, é o de desmitificar o olhar sobre a periferia. “Boa parte veio retratando realidades e identidades culturais presentes nesses espaços, mas grande parcela trouxe histórias de amor, familiares, sobre direitos civis e LGBT, a questão negra e as culturas tradicionais. Isso mostra que nossa cultura mineira é diversa e o quão potentes são as histórias das periferias”, comemora.

História selecionadaArquivo Pessoal 

Roteiro do curta-metragem "Antes de falar de amor", de Sarah Tavares, é um dos escolhidos

O abuso sexual de crianças é tema do roteiro de curta-metragem inscrito por Sarah Tavares Barbosa – moradora de Cláudio, no Oeste de Minas –, um dos 20 selecionados pela ONG Contato. “Antes de falar de amor” conta a história de Luana, de 7 anos, que descobre uma câmera Super-8 na casa da avô, quando um tio se aproxima e tentar abusar dela sexualmente.

Sarah Tavares, de 30 anos, formada em Audiovisual, conta ainda que, em sua história, o tio pergunta à menina sobre o filme que faria com a câmera e, assim que ela diz que seria sobre amor, o homem usa isso para tentar tocá-la sexualmente. Um dos diferenciais de seu roteiro, pontua a cineasta, é que a garota reage e inicia-se uma discussão na família sobre o tema.

O filme de Sarah está em processo de pré-produção, porque, antes de ganhar o concurso da ONG Contato, foi contemplada pela Lei Aldir Blanc Estadual, que exige a conclusão do trabalho até junho. A ideia, segundo ela, é que o dinheiro da lei de incentivo cubra pelo menos os testes de Covid da equipe, formada por amigos. “Não tenho como pagar as pessoas pela participação, então, no mínimo, é preciso garantir a segurança delas”, afirma.

Sarah conta que vivia em São Paulo, mas precisou voltar para a casa da mãe, em Cláudio, em função da pandemia. Os R$ 2 mil que recebeu da ONG Contato, diz, ajudaram a pagar contas pessoais, para ter como se dedicar ao filme.

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