Autor de best-sellers de moda, André Carvalhal diz que é preciso 'pensar na vida com Covid'

Flávia Ivo
fivo@hojeemdia.com.br | @flaviaivo
21/06/2020 às 08:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:49
 (Raul Aragão/Divulgação)

(Raul Aragão/Divulgação)

Autor dos best-sellers “A Moda Imita a Vida: Como Construir uma Marca de Moda” e “Moda com Propósito: Manifesto pela grande virada”, além de ter sido finalista do Prêmio Jabuti 2019 com a obra “Viva o fim: Almanaque de um novo mundo”, André Carvalhal é um nome seguido e reconhecido por quem ama e quer entender a moda e este mercado em profundidade.

Desde o início da pandemia, o escritor, que já foi diretor de marketing da FARM por uma década e idealizou projetos para gigantes como Grendene, C&A e grupo Arezzo, vem discutindo em lives e posts no Instagram as mudanças que trouxe e que trará a pandemia do novo coronavírus para a moda.

Virtualmente, o Hoje em Dia conversou com Carvalhal brevemente sobre esse contexto. Confira!

Mesmo em um momento em que há mais dúvidas do que certezas, é possível prever o que pode mudar no mundo da moda após a pandemia do coronavírus?

Não é possível prever. Existe uma ansiedade nas pessoas como um todo em querer prever a vida pós-Covid, não só na moda, como em várias áreas, e me impressiona muito como elas têm mais facilidade em pensar em algo que virá depois de uma pandemia – que a gente nem sabe quando será este fim, se vai ter, quando vai ser e quanto tempo irá durar – do que pensar no agora. Estamos tentando prever o mundo lá na frente, mas eu acho que mais do que pensar na vida pós-Covid, nós temos que pensar na vida com Covid. A gente precisa entender essa reprogramação tanto na indústria quanto no varejo de moda, em uma forma de lidar com o distanciamento social, com a aceleração digital, com o e-commerce, com novas plataformas, com novas tecnologias, novas formas de produzir, novas formas de vender. Eu acho que esse é o momento de a gente mergulhar nisso e tentar entender como a gente vai fazer a nossa vida hoje.

Na sua análise, haverá uma “virada de chave” em relação ao consumo de moda no que se refere ao tipo de matéria-prima (se mais sustentável), ao design (se a modelagem mais confortável ou prática como a do home office), e ao varejo (da parte de vendas e do relacionamento com o cliente)?

Acho que é importante a gente pensar que a gente tem momentos específicos. Agora estamos vivendo uma vida com Covid. E que ela, para algumas pessoas, trouxe novas realidades. Então, para pessoas que, hoje, têm a possibilidade de ficar em casa, trabalhar de casa, ou mesmo não trabalhar – no caso daquelas pessoas que estão desempregadas –, para essas pessoas a realidade com Covid é uma. Por exemplo, eu estou na minha casa de pijama e chinelo há três meses. Então, eu não preciso comprar sapatos, mas talvez eu precise comprar pijamas. Já as pessoas que continuam trabalhando, e que estão, de repente, não só na linha de frente na saúde, mas em outras áreas de serviços essenciais, cada vez mais, irão precisar substituir roupas, porque elas irão danificar com a lavagem. Além disso, há a necessidade de higienizá-las, além de limpar os sapatos, então, essas pessoas terão uma outra necessidade. Por isso, também não acho que a gente possa prever uma virada que seja única para todos. O que a pandemia está mostrando mais para a gente é que não existe “todo mundo”, existem realidades diferentes, cenários diferentes, possibilidades diferentes de presente e de futuro. É muito import<CW0>ante a gente entender isso. Para quem está em casa, o design funcional e confortável tem mais sentido. Para quem está na rua, trabalhando, a resistência, propriedades antibacterianas e antivirais têm mais sentido. A gente vai ver surgir várias coisas nesses sentidos para tentar atender diferentes realidades.

O uso da tecnologia em favor da moda – como as impressoras 3D, o comércio on-line, e os desfiles virtuais – terá o processo acelerado pelas empresas e mais facilmente aceito pelo consumidor?

Esse momento que estamos passando vai promover a aceleração de novas tecnologias digitais tanto de produção quanto de comercialização, de consumo, e depois de um longo período de adaptação, de experiência e de vivência dessas tecnologias, eu acredito que elas tenham mais possibilidades de fazer parte da vida das pessoas e das marcas daqui pra frente.

Nas suas observações e nos estudos durante esta pandemia, quais ações de marketing de marcas de moda (nacionais ou internacionais) você destaca como exemplos de sucesso com o público? Consegue elencar os motivos do engajamento?

Tivemos momentos diferentes nessa questão da comunicação. Em um primeiro momento, no qual todo mundo ficou meio que em choque, tentando entender o que estava acontecendo e o que iria acontecer, as marcas que entenderam que não era o momento de vender e sim de estabelecer relacionamentos, empatizar, criar conteúdos, humanizar a marca, conseguiram se manter relevantes naquele período. Hoje, vivemos com um pouco mais de clareza, pois já existem recomendações da OMS, de especialistas, acho que as marcas que seguem essas cartilhas e o que diz a ciência mantêm a boa imagem, enquanto outras marcas que parecem desconectadas dos contextos todos, não só marcas como influenciadores, ficam recebendo críticas. Cada vez mais pessoas estão despertando e entendendo sobre as responsabilidades e os novos contextos.

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