'Autossabotagem é um vício emocional inerente ao ser humano'; veja entrevista com Paulo Vieira

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
29/11/2018 às 12:52.
Atualizado em 28/10/2021 às 02:26
 (Divulgação)

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Alcançar objetivos e realizar sonhos não passa simplesmente por estabelecer metas. É preciso reprogramar crenças e padrões limitantes, que absorvemos de pai e mãe e de situações que vivemos ao longo da vida, para nos permitir viver conforme características e potenciais guardados na nossa essência.

Master coach com dezenas de best-sellers publicados ao longo de 20 anos de carreira e presidente da Febracis – maior instituição de coach das Américas –, Paulo Vieira estará em Belo Horizonte de 14 a 16 de dezembro para a primeira imersão no Método CIS realizada no Estado. 

Durante o treinamento, serão ensinadas técnicas de inteligência emocional e autorresponsabilidade que têm como objetivo quebrar barreiras que nos afastam de obter o que desejamos, diz ele. Confira entrevista exclusiva ao Hoje em Dia.

O Método CIS é baseado em inteligência emocional. Do que se trata? 
O coaching tradicional traz o entendimento da situação atual e compreende onde a pessoa quer chegar, criando um plano de ação completamente cognitivo. Já o Coaching Integral Sistêmico (CIS) engloba tudo isso, mas trabalha três vertentes emocionais: reestrutura crenças e programações mentais, trabalha competências emocionais e a própria inteligência emocional. O aluno saberá o que e como fazer, pois o que manda no ser humano não é razão, mas emoção. No Coaching Integral Sistêmico buscamos eliminar limites emocionais e engajamos a pessoa na direção de mudanças e objetivos.

O método também tem como pilar o gerenciamento de emoções que, para muita gente, pode significar deixar os sentimentos de lado, sendo, portanto, mais racional ao agir. O que de fato significa gerenciar emoções?
Todo processo cognitivo e comportamental tem como objetivo esse gerenciamento, processos nos quais a pessoa entende o que não está bom no momento e percebe como deveria ser. Ela se policia cognitivamente para agir de forma adequada. No Coaching Integral Sistêmico trabalha-se algo mais profundo: a reprogramação de crenças. 

Como essa repro-gramação impacta na forma como agimos?
Quando reprogramamos uma crença não preciso mais gerenciar a emoção que faz parte dela. Não preciso mais me policiar para não gritar com meu filho, por exemplo, pois naturalmente não vou gritar mais. Vou simplesmente impor limite e respeito. Por isso, mais do que gerenciar emoções, é preciso reprogramar crenças e emoções.

Um teste simples, disponível no seu canal no YouTube, nos mostra se agimos de forma mais racional ou emocional. Como encontrar o equilíbrio entre os caminhos? Existe “hora certa” para agir de uma ou outra maneira?
Algumas pessoas têm um drive mais racional, outras, mais emocional. E isso não é bom nem ruim. É assim que nós somos. Existem pessoas que agem mais pelo coração e pela intuição e as que agem mais pelas regras, pela conformidade, de forma cartesiana. E, novamente, isso não é bom nem ruim. O que é necessário é que os indivíduos tenham a flexibilidade necessária que, sob demanda, os permita agir mais racionalmente, caso sejam muito emocionais, ou mais emocionalmente, caso sejam racionais.

Como percorrer tais caminhos com equilíbrio?
Os dois extremos são ruins. Uma dica é se aproximar de indivíduos cujo perfil seja complementar ao nosso, de modo que aqueles que são mais emoção passem a conviver com pessoas que são razão e vice-versa. Ter consciência de quem se é e aceitar as diferenças também ajuda a ter uma vida complementar e produtiva. Se você não sabe quem é e não tem o perfil racio-emocional equilibrado, vai sofrer muito. Porque faz muita coisa errada ou pensa tanto que não faz.

Existem perfis de pessoas mais propensas a agir racional ou emocionalmente? O que, além dos padrões que carregamos, nos leva a percorrer um ou outro caminho de forma desequilibrada?
Existe, sim, essa diferença. Mas é preciso ressaltar que isso não é algo negativo, a não ser que aconteça de forma extrema, a ponto de a pessoa ser regida apenas pela razão ou pela emoção. Os dois tipos podem ter crenças limitantes ou de prosperidade, prejudicando ou impulsionando na jornada em busca de uma vida extraordinária. Por isso, é importante trabalhar crenças para que o indivíduo encontre equilíbrio entre razão e emoção.Divulgação


Que obstáculos são mais comuns na vida de quem age nos extremos?
Não é que sejam obstáculos, são drives diferentes. Uma pessoa mais analítica vai ser mais racional, mais cética, planejadora e articulada. Vai pensar mais. Mas se não tomar cuidado, vai pensar tanto que vai deixar de fazer o que é importante. O fato de ser tão analítica, detalhista, observadora e crítica faz com que pense tanto que não faz. Por outro lado, uma pessoa altamente emocional, se não tiver um “quê” de racionalidade, vai tomar decisões precipitadas, por impulso. A falta de planejamento e reflexão também fará com que falhe muito. Um vai deixar de fazer, outro vai fazer errado.

Qual é, na sua opinião, a chave para destravar a vida e alcançar a realização?
Ter uma consciência profunda, real e verdadeira sobre quem somos, o que o mundo é, o que temos feito e o que seremos é o principal caminho para isso. Ter consciência do que fez e das consequências, de porque está vivendo aquilo e de como vai ser o futuro se continuar agindo da mesma maneira. Na minha opinião, isso é essencial para destravarmos nossas vidas e alcançarmos a realização. O segundo passo é a mudança por meio da reprogramação de crenças.

Estabelecer metas é importante nessa jornada. Mas como elas devem ser determinadas para que possam ser alcançadas?
É importante, mas não basta apenas defini-las, é preciso fazer isso de forma correta. Existe toda uma metodologia para o estabelecimento de metas neurologicamente corretas. De forma simplificada, a maneira mais rápida e segura é criar uma visão fotográfica do nosso futuro, ou seja, ter uma imagem clara do que se quer para a empresa, para o casamento, para a saúde e para a vida em geral. Essa visão positiva de futuro é o que vai permitir definir meta claras, específicas e desafiadoras.

Como nos desviar da autossabotagem, que, muitas vezes, é inconsciente?]A autossabotagem é algo inerente ao ser humano, é um vício emocional que estamos cometendo a todo instante. Nos sabotamos quando comemos aquele pedaço de doce e engordamos, quando tratamos mal quem amamos e até quando pegamos a rua errada e entramos em um engarrafamento desnecessário. Pagamos um preço na frente. Existem todos os tipos de autossabotagem: do mais leve, corriqueiro, ao mais grave, que nos impede de fazer o que devemos.

E como “nasce” a autossabotagem? 
São muitas origens. Tem origem no estado de não-perdão e nas nossas crenças debilitadas, como de merecimento. Se a pessoa não se sente merecedora, vai se sabotar quando vem um prêmio maior para a vida. Se não se sente capaz de fazer algo, mesmo sendo, vai se sabotar na execução daquela tarefa. Quando não se sente próspera, rica, vai se sabotar em relação ao dinheiro. E são muitos caminhos para se livrar delas, por isso não dá para responder de uma única forma. O que posso garantir é que quanto mais inteligência emocional, consciência plena e crenças positivas tivermos, menor vai ser o nível de autossabotagem.

Você acredita que o mundo imediatista e extremamente “virtualizado” que vivemos tem nos afastado dos nossos reais propósitos?
Não tem afastado tanto as pessoas de seus ideais, mas delas mesmas e dos seus pares. O mundo virtual tem aproximado pessoas distantes fisicamente e afastado pessoas próximas, casais, pais e filhos. Afastado indivíduos deles mesmos e de quem eles amam. Isso cria prejuízos na estrutura emocional, pois as pessoas precisam de conexões sociais fortes e o mundo virtualizado cria conexões sociais dispersas e distantes.

Como identificar esses reais propósitos e saber se o caminho percorrido até ali estava certo ou se a rota deve ser recalculada?
Existem duas coisas fundamentais: uma é missão, outra é propósito. Missão é o que vou fazer da vida e propósito é porque vou fazer e cumprir a missão. Identificá-los é o primeiro passo para alinhar metas e objetivos àquilo que realmente é importante e, assim, conseguir a vida plena. É essa plenitude que garante que você está no caminho certo, que é conquistada quando você serve e contribui extraordinariamente com a sociedade. 

Como assim?
Quando falo crescer, refiro-me a realizar objetivos, sonhos, amores, viagens, vida financeira e patrimonial. Contribuir significa ajudar o próximo, o mundo, a sociedade, os parentes, os amigos e, claro, os necessitados. Essa aparente dicotomia entre crescer e contribuir é a grande receita do sucesso humano. Crescer extraordinariamente, nos meus sonhos e objetivos, e contribuir extraordinariamente com o próximo é a grande estratégia do sucesso humano e garante que missão e propósito sejam cumpridos.Divulgação

Você diz uma coisa interessante e que desmonta a opinião de muita gente sobre ferramentas de autodesenvolvimento e autoconhecimento: “a essência não é mudar o indivíduo para o que ele não é, mas desenvolver tudo o que ele já tem”. Como extrair de cada pessoa o que ela já carrega, mas muitas vezes nem sabe que tem? É um exercício diário?
Sim, é um exercício diário. No Coaching Integral Sistêmico temos algumas ferramentas para trabalhar o autoconhecimento e a autoestima, contribuindo na descoberta dessas características e potenciais guardados na essência do indivíduo. São ferramentas complexas, mas posso explicar aqui um exercício simples, porém muito efetivo, que auxilia nessa descoberta. Consiste em listar diante do espelho 30 características positivas pessoais sempre começando com “Eu sou…”. Por exemplo, “Eu sou eficiente”, “Eu sou positivo”, “Eu sou vitorioso”. E assim por diante. Você pode listar características que já reconhece e as que gostaria de desenvolver. O importante é que fale com segurança e convicção e que repita a atividade todos os dias. Isso vai fortificando as crenças de identidade e de capacidade.

O caminho da mudança deve, necessariamente, passar pelo desejo individual? É preciso que cada pessoa seja autora da própria transformação?
Sim, mas o desejo pela mudança é apenas um dos aspectos necessários para que aconteça. Mais importante é agir. Após tomar consciência de que algo é prejudicial e tóxico, é preciso fazer algo para sair dessa situação. Nesse sentido, o conceito de autorresponsabilidade é essencial, pois dá ao indivíduo a responsabilidade pelos resultados, protagonista da própria vida. 

Como definir aurorresponsabilidade?
Quem é autorresponsá-vel não busca culpados ou justificativas para situações ou hábitos ruins, simplesmente entende que é o único que pode mudar o estado em que está e buscar soluções para isso. Em meu livro “O Poder da Autorresponsabilidade” explico melhor esse tema e apresento técnicas e exercícios que ajudam o leitor a entender o conceito e, com ele, transformarem a própria vida.

Quem quer mudar de vida e dar mais passos para frente do que para trás deve começar por onde? Existe alguma esfera da vida – dentre as 11 que você aborda no Método CIS – que deve sofrer um impacto inicial maior?
O primeiro passo é tomar consciência. É o que vai ajudar as pessoas a identificar crenças limitantes de identidade, referentes a quem elas acreditam ser; de capacidade, referentes ao que acreditam ser capazes de fazer; e de merecimento, referentes ao que acreditam merecer. As três formam a essência do indivíduo e impactam nas diversas áreas da vida. Depois, é preciso reprogramar as crenças, substituindo-as por outras, positivas, para que, fortalecidas, consigam mudar resultados. Sobre os pilares, não existe um específico que tenha maior impacto. Essa resposta vai depender da demanda de cada um. 

Poderia falar sobre os 11 pilares e como agir sobre eles ajuda a mudar o curso das escolhas e da vida?
São considerados no CIS áreas essenciais para uma vida completa e abundante. São eles: espiritual, parentes, conjugal, filhos, social, saúde, servir, intelectual, financeiro, profissional e emocional. Funcionam como um sistema interdependente em que o resultado de um impacta de alguma forma no resultado do outro. É preciso fazer uma análise de cada um deles. Isso é o que trará consciência sobre como a vida está no momento e quais aspectos precisam de mais atenção. Mas é preciso ressaltar que as mudanças só acontecerão quando o indivíduo realmente priorizar as áreas mais problemáticas para que não só deixem de travar o crescimento das outras, como as impulsione.

Algum dos seus livros guarda mais relação com o Método CIS e, portanto, pode ser uma indicação de leitura para quem busca uma mudança real?
Todos, de alguma forma, têm uma relação com o método CIS, tendo seus conceitos trabalhados na prática com os participantes. Mas, se for para escolher um, “O Poder da Ação” é o que melhor abrange o conteúdo do treinamento, cujo objetivo é reprogramar crenças limitantes para que as pessoas consigam alcançar seus potenciais, tomar decisões importantes e agir para alcançarem sonhos. 

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