'Bichoterapia': animais promovem socialização e melhoram resposta a tratamentos médicos

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
23/08/2018 às 11:39.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:04
 (Um Dia de Cão/Divulgação)

(Um Dia de Cão/Divulgação)

Como pets, eles garantem companhia, diversão e promovem socialização com os tutores. Em hospitais e clínicas, estabelecem vínculo afetivo com os doentes, ajudam a minimizar a sensação de dor e potencializam as respostas aos tratamentos médicos. Animais de estimação podem ser mais que boas companhias e atuar como verdadeiros terapeutas. 

Pioneiro em Belo Horizonte ao empregar cães na abordagem médica dos pacientes, o Hospital Madre Teresa, no bairro Luxemburgo, região Centro-Sul, criou, há cerca de cinco anos, o projeto Um Dia de Cão. Nos encontros mensais, animais voluntários, previamente selecionados e treinados, proporcionam conforto e auxiliam em limitações motoras, transtornos psicológicos e psiquiátricos.

“É o momento em que o foco sai da doença e recai sobre a vida. Os relatos passam por mudança no comportamento, melhora da depressão, maior interação com a equipe e com o médico, colaboração, aceitação da situação e até início dos movimentos (na tentativa de toque) em pacientes pós-AVC”, relata a coordenadora médica da iniciativa, Viviane Parisotto Marino. 

Um Dia de Cão é uma parceria com a Faculdade de Medicina da UFMG. 

Treinamento

Responsável pelo projeto ao lado da médica, o adestrador Lucinei Braga, encarregado de selecionar e treinar os animais, explica que os cães terapeutas podem ser de grande (como labrador e golden retriever) ou pequeno portes (raças diversas). Pré-requisito, porém, é terem obediência mínima para serem bem controlados durante as visitas. 

“O adestramento nos dá um suporte para que tenhamos o controle do cachorro em qualquer situação. Precisamos de animais bem controlados, que não fiquem excitados perto de outros, já que o foco, naquela hora, estará no paciente”, detalha. 

Antes de entrarem em ação, os cães, que devem ter tomado banho um dia antes do encontro e precisam estar em jejum para evitar que façam cocô, têm patas e bocas limpos com uma solução especial. Lucinei reforça que todas as diretrizes quanto a higiene e saúde são seguidas às risca. 

Gatos e até ratos

Psicólogo e técnico em terapias assistidas por animais, Leonardo Curi atua, há quase dez anos, em BH, com cães, gatos e até ratinhos terapeutas. Ele explica que cada espécie é destinada a um tipo de tratamento. “Gatos são ideais para pacientes com autismo e depressão, pois são mais sutis do que os cães e os convidam para a interação. Com ratos, trabalhamos fobias e aversões”, detalha o fundador da Religare Terapias assistidas por Animais. 

Leonardo ressalta ainda que esse tipo de abordagem vai além do viés lúdico. “Existe toda uma preparação feita por um profissional qualificado com base em estudos científicos. É preciso haver adestramento adequado. Algumas sutilezas do comportamento animal são extremamente importantes”, enfatiza. 
 Um Dia de Cão/Divulgação

HOSPITAL MADRE TERESA - Cães são usados com pacientes internados na instituição de saúde, na capital; contato ajuda a melhorar níveis hormonais e até a controlar a pressão arterial

Dinâmicas com cavalos são mais potentes que em consultório

Localizado na região da Pampulha, em BH, o Cepel assiste pacientes com comprometimento motor, cognitivo ou com dificuldade na comunicação. Sobre o cavalo, as dinâmicas, orientadas por uma equipe multidisciplinar e sempre conduzidas por um especialista, costumam ser até três vezes mais potentes em relação às do consultório. 

Fisioterapeuta especialista em neurologia e neuropediatria, coordenadora da equipe de equoterapia do local, Lílian de Albuquerque Moura explica que há diferentes perfis de animais para cada necessidade e tratamento. Pacientes que precisam exercitar o equilíbrio, por exemplo, demandam cavalos com movimentos mais amplos, que sejam capazes de estimulá-los tridimensionalmente (para frente, trás, para os dois lados, para baixo e para cima).

Crianças com autismo, por sua vez, podem ser atendidas com ajuda de bichos de marcha confortável, já que o principal objetivo da terapia, nesses casos, é criar vínculo afetivo e promover sociabilidade. 

“Dependendo da gravidade do caso, indicamos sessões duas a três vezes por semana, de 30 a 40 minutos. O maior ganho da hipoterapia (braço terapêutico da equoterapia) é, sem dúvida, a questão lúdica, pois o paciente se exercita, tem a sensação de dar conta, mas como se estivesse passeando, fora do consultório. Os resultados são até três vezes mais eficientes”, enfatiza a especialista. 

Atualmente, o Cepel assiste cerca de 150 pacientes, a maioria deles crianças e adolescentes. Há casos também de adultos com sequelas de AVC, portadores de Parkinson, de síndrome do pânico e até deficientes visuais. 

“Atendemos uma menina dependente de insulina, que não conseguiu regular a diabetes e perdeu a visão e o equilíbrio. Depois da terapia, ela melhorou bastante e já consegue se deslocar para locais que antes não ia”, conta Lílian.Cepel/DivulgaçãoCEPEL - Para cada tipo de necessidade há um perfil de animal, comenta a coordenadora da equipe de equoterapia do espaço, na Pampulha, em BH, Lílian de Albuquerque

Além disso:

Em Crucilândia, na Grande BH, cavalos também são usados na habilitação e reabilitação física, educacional e social, no Centro de Equoterapia da Associação dos Protetores dos Pobres e Carentes (Assopoc). Além de prestar assistência a pacientes especiais, os animais atuam para estimular a funcionalidade e a mobilidade física dos idosos, promovendo também maior contato com a natureza. “O Centro é nosso grande diferencial técnico e humano, é um mundo de possibilidades”, diz a vice-presidente do local, Elaine Coelho.

As Terapias Assistidas por Animais (TAAs) surgiram em 1792 na Inglaterra para tratamento de doentes mentais. Dentre os benefícios já comprovados estão diminuição da frequência cardíaca e da pressão arterial e aumento da liberação de hormônios ligados a prazer e bem-estar. Atividade Assistida por Animais (AAAs), por sua vez, visa à distração e recreação por meio do contato com os bichos. Há melhora na qualidade de vida e na saúde e aumento do entretenimento e da motivação.André Castro/Divulgação

ASSOPOC - Instituição em Crucilândia, na Grande BH, utiliza cavalos para habilitar e reabilitar crianças e adolescentes com deficiências; trabalho também é feito para socializar idosos

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