Casas com história: escolher o que mudar e restaurar ajuda a preservar as memórias do imóvel

Patrícia Santos Dumont
14/11/2019 às 08:38.
Atualizado em 05/09/2021 às 22:41
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Arrematar um imóvel antigo e reformá-lo da cabeça aos pés costuma ser a escolha de quem deseja aproveitar a fartura de espaço, mas repaginar um visual considerado ultrapassado. Embora seja caminho comum, há quem prefira restaurar cada pedacinho original, mantendo mais que pisos e revestimentos, preservando a história e as memórias que o lugar abriga. 

Arquiteta em Belo Horizonte, Ana Bahia não é adepta do resgate da história somente nos projetos dos clientes. No apartamento dela, não faltam referências antigas. “Não acho válido demolir e fazer tudo de novo. É possível manter um piso e fazer uma pintura mais atual, por exemplo. É essa mescla que vai contando as histórias”, coloca a profissional, que no imóvel onde mora manteve, dentre outras coisas, a altura original do teto e um banheiro cor de rosa.

Durabilidade

Morador do bairro Barroca, Oeste de BH, e apaixonado por arquitetura e decoração, o consultor de negócios Otávio Rodrigues Campos também fez questão de que o apartamento dele fosse uma fusão entre o que mais gosta e o que já existia no local. “Para quê trocar tudo se a gente tem materiais que duram tanto?”, argumenta, apontando como uma das razões da escolha a durabilidade das matérias-primas antigas. Dentre as relíquias preservadas estão pisos de sala, cozinha e banheiro e alguns revestimentos.

Recém-inaugurado no Lourdes, Zona Sul da capital, o Gomez Restaurante ostenta uma estética de arrancar suspiros. “Tivemos dificuldade em restaurar o taco a todo custo. Mas sempre foi uma escolha mantê-lo”, comenta o proprietário, Renzo Sudário. No local, guarda-roupa antigo e janelas enormes com acesso para a varanda convivem em harmonia com um menu contemporâneo totalmente autoral. 

A arquiteta Natália Botelho pondera que jovens moradores de casas antigas procuram aliar qualidade e estética à preservação ambiental. “Os mais jovens têm essa consciência sustentável. Os mais velhos, o pensamento de querer preservar a história, um apego à memória afetiva”. 

Confira imagens dos imóveis mencionados na reportagem:

Lucas PratesMEMÓRIAS - Apê da arquiteta Ana Bahia é um reduto de histórias. Na sala principal, foram mantidos piso de peroba do campo e porta venezianaFotos Lucas Prates

No apartamento de Ana Bahia, banheiro rosa também foi preservado. Teto de nenhum ambiente foi rebaixado

Lucas Prates

RESGUARDADO - Construído na década de 1950, apartamento de Otávio teve o piso da sala (taco) mantidoFotos Lucas Prates

Banheiro e cozinha do imóvel delee, em granilite, também não foram modificados

Lucas Prates 

ESTILOSO - Recém-inaugurado no bairro de Lourdes, o Gomez Restaurante manteve as características originais do imóvel : no salão superior, piso de taco e um guarda-roupa semi-transformado em adegaFotos Lucas Prates 

Portas e janelas originais do restaurante também foram mantidas sem interferência no estilo da época

Desejo de preservar imóvel antigo nasceu antes da ideia do negócio

Proprietário do Botequim Sapucaí, na rua de mesmo nome, no bairro Floresta, Zona Leste da capital mineira, Alfredo Lanna mal sabia o que fazer com o apartamento – no mesmo endereço – pelo qual se apaixonou à primeira vista. Sede da Panorama Pizzaria, cuja ideia nasceu depois do contrato fechado, o imóvel da década de 1940 foi praticamente todo preservado. Quem conhece o lugar, percebe de imediato!

No banheiro, nada de mármore ou granito – preferidos de quem escolhe reformar tudo. Embora precisassem de cuidados, os ladrilhos foram mantidos. “Um dos banheiros estava meio Frankstein, então completamos o revestimento de um deles e, no outro, usamos uma cerâmica neutra porque não tinha jeito mesmo”, detalha o empresário, que é também arquiteto. 

Em um dos salões do estabelecimento, o piso vinílico instalado pelo antigo morador saiu de cena para revelar o ladrilho estampadinho de rosa com verde. E no ambiente principal da casa, atenção especial para o taco todo trabalhado em duas cores. 

Os banheiros do restaurante também são uma história à parte – literalmente! Pia, vaso sanitário e banheira foram mantidos. Sem utilidade em um ambiente comercial, a última peça foi transformada num charmoso jardim. 

“A gente tem muito a ideia de que tudo tem que ser trocado o tempo todo. Mas entendo que recuperar e resgatar a memória afetiva de um lugar é muito importante. Não precisamos ficar recomeçando. O mais legal é reconstruir a vida a partir do passado”, opina o dono do estabelecimento.

Maurício Vieira

DO MESMO JEITINHO - Localizada na Rua Sapucaí, no bairro Floresta, a Panorama Pizzaria ostenta mais que receitas saborosas, uma arquitetura de arrancar suspiros. Num dos salões, taco bicolor todo trabalhadoFotos Maurício Vieira

Os banheiros do restaurante também foram preservados. Em outro ambiente, ladrilhos com estampa floral

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