Corpo e mente como reféns: terror cotidiano afeta saúde; mas há como driblá-lo

Patrícia Santos Dumont
21/03/2019 às 10:45.
Atualizado em 05/09/2021 às 17:54
 (Divulgação)

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Noticiário pesado. Tentativas de golpe cada vez mais elaboradas. Tiroteios dentro das escolas. Tragédias ambientais e humanas. A avalanche de episódios negativos – muitos deles catastróficos – não somente assusta. Impõe quase um estado de alerta constante, desencadeando estresse, ansiedade e ainda alimentando pensamentos e sentimentos que adoecem a mente e o corpo.

Otorrinolaringologista com abordagem sistêmica do paciente, Dário Antunes Martins diz que a angústia é o principal fator de adoecimento humano. “Favorece a liberação do hormônio do estresse, o cortisol, que leva à queda da imunidade, sujeitando o corpo a infecções, tumores e a uma série de outras doenças”, alerta.

No coração, principal órgão do corpo humano, os reflexos são o aumento dos batimentos cardíacos. No intestino, onde é produzido 90% da serotonina – neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e prazer – pode haver diarreia ou constipação. Fragilizado, o estômago também sofre com a redução da capacidade de proteger-se contra o suco gástrico. Resultado: gastrite.

“Interessante é que a percepção individual do corpo sobre cansaço ou estados de depressão é diferente da observação do outro. Normalmente, a pessoa não sente que está adoecendo, o que aumenta a responsabilidade de familiares e também dos amigos”, observa o médico.

“A gente acha que o que está acontecendo é normal, mas estamos todos adoecidos, deprimidos, tomando remédio. Seguimos numa enxurrada, na mesma direção” - Dário Antunes Martins, otorrinolaringologista na Santa casa e no Hospital Madre Teresa

Isolamento e depressão

Doutora em medicina molecular, a psicóloga Mayra Brancaglion, da clínica Sentir Mulher, em Belo Horizonte, explica que sentimentos negativos podem levar a um estado de desconfiança generalizada, que, por sua vez, desencadeia isolamento e, consequentemente, depressão. 

“Uma pessoa triste, deprimida, terá pouca energia para criar vínculos com outra. Nesses quadros, é comum o isolamento e a ocorrência, inclusive, de uma falta de empatia não proposital”, comenta. 

Terapeuta ayurvédico, co-fundador do Instituto EntreSer, em Belo Horizonte, Marcus Fonseca vai além. Professor de yoga, meditação e filosofia, diz que o segredo está numa mudança de chave. 

“O mundo está melhorando ou piorando? Às vezes parece uma coisa, às vezes, outra. No fundo, é uma questão de como o percebemos. Mudar o foco do ruim influencia bastante. Precisamos tomar consciência do poder das nossas ações”, enfatiza.

Coach e terapeuta de saúde emocional, Xanda Fogaça compartilha da opinião. Terapeuta ayurvédica, reforça que o corpo está totalmente interligado e que, portanto, é impossível dissociar o que pensamos e sentimos do que expressamos fisicamente. 

“Existem emoções que não são digeridas. Isso traz consequências emocionais e físicas para mente e corpo. Se não cuidamos desse contexto, automaticamente nossos processos emocionais ficam comprometidos, assim como nossa saúde”, detalha.

Além disso:

O otorrinolaringologista Dário Antunes diz que é preciso nos adaptarmos à rotina moderna para evitarmos a somatização, no corpo, de sentimentos ruins que experimentamos no dia a dia. A “receita”, segundo ele, inclui prática de atividade aeróbica e de exercícios de terapia ocupacional.

“Uma corrida ou caminhada geram sofrimento, dor física e ajudam na liberação de endorfina, dopamina e serotonina. Por outro lado, atividades como pedalar em grupo, tocar violão, dançar, pintar ou fazer artesanato promovem uma espécie de limpeza cerebral. São atividades que fazemos sem compromisso com resultado e que ajudam a nos desligar”, explica.

Cada pessoa pode manifestar tensões emocionais de diferentes formas no corpo físico. Alguns sintomas recorrentes de doenças psicossomáticas são dor e queimação estomacal, irritações e inflamações de garganta, dores musculares, alergias de pele sem motivação aparente, dores de cabeça, alteração do equilíbrio e formigamentos.

“Se trabalhamos a consciência e entendemos nossos processos emocionais, ficamos aptos a fazer associações conscientes e tomamos as melhores decisões. Do contrário, deixamos para o inconsciente resolver. O que ele não é capaz, joga para o corpo como forma de extravasar uma pulsão. É a somatização” - Xanda Fogaça, coach, terapeuta ayurvédica e de saúde emocional

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