Cura em movimento: danças circulares estimulam sensibilidade e conexão com o outro

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
11/01/2018 às 09:19.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:42
 (Amanda Mello/Divulgação)

(Amanda Mello/Divulgação)

Interligadas pelas mãos, pela energia de uma mesma música e de uma coreografia que desperta a cooperação, a alegria e a integralidade, participantes da dança circular se beneficiam de uma verdadeira terapia em grupo que faz bem ao corpo e à alma. 

Difundida por um polonês mais de 40 anos atrás e consolidada no Brasil (país que concentra um dos mais expressivos números de adeptos do mundo) no início da década de 1990, a prática é um poderoso instrumento de crescimento pessoal, educação da sensibilidade e conexão com o outro. 

Praticadas em quaisquer tipos de espaço, as rodas, formadas por dançantes (como são chamados) de mãos dadas, invocam a comunhão e a integração. Focalizadora (como são chamados os professores) há 24 anos, a bailarina mineira Cristiana Menezes explica que o movimento remonta às músicas e danças étnicas e folclóricas, mas que, atualmente, engloba uma variada gama de ritmos, inclusive brasileiros.

“A experiência de dançar em círculo nos conecta com a energia de todos os povos e proporciona a vivência da fraternidade, da partilha, da amorosidade, da alegria, da cooperação e o contato com o ‘sagrado’ que existe em cada um nós”, define. 

Transformações

Psicóloga, focalizadora de dança circular e escritora, Deborah Dubner relata ter experimentado profundas transformações pessoais a partir da prática e observado mudanças nas pessoas com as quais trabalha, incluindo crianças e adultos. Para ela, um dos mais importantes resultados obtidos é a leveza que proporciona à vida. “Acredito muito nela, que não é uma terapia, mas uma prática terapêutica”, acrescenta. 

Autora de livros sobre o tema, Deborah reforça que experimentar as músicas, os gestos, ritmos e passos variados faz com que os dançantes entrem em um mesmo campo vibracional de aprendizagem, inspiração e desafios. 

“É também um convite para conhecer outras culturas e histórias, diminuindo fronteiras e estimulando os integrantes a se respeitarem, aceitarem e honrarem as diversidades”, ressalta. 

Antes de iniciar a prática, o focalizador ensina o passo a passo, treinando com os dançantes da roda. Em seguida, dança-se aos poucos, estimulando a internalização das coreografias, que duram cerca de dois minutos cada uma e em média 1h30 no total

Como a dança circular não é uma atividade institucionalizada, isto é, não há uma escola ou faculdade onde os conhecimentos são ensinados, é preciso buscar focalizadores com experiência sólida.

Atividade é uma das práticas integrativas oferecidas pelo SUS

Ao lado de fitoterapia, acupuntura, homeopatia, meditação, reiki e yoga, a dança circular é uma das 20 prática integrativas e complementares oferecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Capaz de unir pessoas totalmente desconhecidas muito mais do que física, espiritual e emocionalmente, a prática é uma técnica de auto-cuidado. 

Na rede pública de saúde é voltada para a internalização dos movimentos, liberação da mente, do coração, do corpo e do espírito. Além disso, conforme o Ministério da Saúde, a prática, trazida para o Brasil no fim da década de 1980, estimula os integrantes da roda a respeitarem, aceitarem e honrarem as diversidades.

Em Belo Horizonte, há 23 anos, são formadas rodas mensais gratuitas no Parque Rosinha Cadar, no bairro Santo Agostinho, Zona Sul da capital. Em contato com a natureza, os dançantes são convidados a conectar-se a si mesmo, ao outro e ao todo.

Focalizadora e integrante da roda no parque desde 1995, Maria Inêz Soares destaca como principais benefícios o centramento e o resgate da alegria. Segundo ela, o círculo formado representa a trajetória da vida. “De mãos dadas, as pessoas representam a vida e o movimento que ela faz, ora para frente, ora para trás. Ninguém tem obrigação de nada, mas tudo flui naturalmente. Assim como a vida”, diz.  

As rodas acontecem todo primeiro domingo do mês no espaço público, a partir das 16h. Além de Inêz, Alda Maria Rocha e Ana Maria Cassimiro também são focalizadoras. Para participar, é só estar presente no local, de preferência com roupas leves.

Autodescoberta

Criadora da Educação Harmônica, iniciativa de apoio a pessoas e organizações nos processos de transformação e autodescoberta, Ana Charnizon utiliza as danças circulares nos processos de capacitação e autodesenvolvimento. Segundo ela, as manifestações em roda ajudam a extrair a simplicidade do ser humano, a universalidade, a alegria, o movimento, a comunhão e despertar a sensação de pertencimento.

“Costumo dizer que é como se a gente (Educação Harmônica) fosse aquele pezinho que damos para que as pessoas consigam pular de fase. Trabalhos as questões socioemocionais e muito conteúdo de auto-desenvolvimento. Por meio das danças, experimentamos o círculo da nossa vida. É uma forma arquetípica de nascer, viver e morrer. E isso nos traz um pertencimento universal”, define. 

Ela defende ainda que a beleza da dança não está na individualização dos movimentos, mas em conseguir fazer junto e tecer um campo coletivo, que seja de comunhão e alegria.

As danças podem ser simples e fáceis, não sendo necessário experiência anterior, ou mais sofisticadas. As músicas, por sua vez, incluem ritmos de diversos países, dentre eles o Brasil, e as coreografias podem ser tradicionais, regionais, folclóricas ou contemporâneas

 Amanda Mello/Divulgação

Posição das mãos, com palmas viradas para cima e para baixo, representa equilíbrio entre dar e receber

Além disso:

Curiosidades sobre a dança circular:

– Sistematizadas e propagadas pelo dançarino polonês Bernhard Wosien, a partir de 1976, as danças circulares contemplam todos os povos e ritmos e tem repertório variado, indo desde as músicas tradicionais, mais antigas, como celtas e judaicas, às contemporâneas, coreografadas com liberdade por cada focalizador (instrutor). 

– Qualquer pessoa, de qualquer idade e condição física pode participar de uma roda de dança circular, não sendo necessário experiência anterior nem intimidade com a dança ou com os ritmos. 

– Líder da roda, o focalizador cuida do foco do grupo e ensina a coreografia. Não sendo necessário que ele seja dançarino ou bailarino. Existem focalizadores das mais diversas profissões, de funcionário público e psicólogo a enfermeiro. 

– Algumas rodas orientam os dançantes a colocar a palma da mão direita para cima e a da esquerda para baixo. Simbolicamente, a posição representa o equilíbrio entre dar e receber. Alguns focalizadores, porém, orientam que a posição mude conforme o sentido em que a roda gira. 

– Referência dos dançantes, o centro das rodas chama a atenção pela beleza. Ele pode ser ocupado por flores, velas, incensos ou outros materiais que demonstram o cuidado e o carinho com aquela manifestação. 

Livros sobre o assunto:

O Poder da Dança Circular - Terapêutico e Integrativo (De Deborah Dubner)
Danças Circulares na Formação de Professores - A inteireza de ser na roda (De Luciana Esmeralda Ostetto)
Dançando a Vida - Jornada de aprendizagem nas rodas de dança circular sagrada (De Deborah Dubner)
Dançando o Caminho Sagrado (De Anna Barton)
Dança - Um Caminho para a Totalidade (De Bernhard Wosien)
Danças Circulares Sagradas: uma proposta de educação e cura
Dança Sagrada - Deuses, Mitos e Ciclos (De Maria-Gabriele Wosien)
Dança Circular Sagrada e os Sete Raios (De Richard Bryant-Jefferies e Lynn Frances)
Espírito da Dança - Vol.1 e Vol.2 (Anna Barton)

Onde dançar:

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