Desenho e som na pele: técnica criada nos EUA permite nova experiência com tatuagens

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
13/09/2018 às 15:43.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:26
 (Skin Motion/Divulgação)

(Skin Motion/Divulgação)

Gravar um som na pele parece coisa dos filmes de ficção científica, mas já é possível ter no corpo desenhos que podem ser ouvidos. Espécie de carimbo de um fragmento de áudio, as soundwave tattoos (tatuagens de ondas sonoras, em português) vão além das figuras até hoje usadas para eternizar passagens marcantes da vida, passar certo ar de rebeldia, revelar ideologias ou ficar na moda. 

A novidade surgiu nos Estados Unidos, onde um tatuador deixou em segundo plano o papel original dos desenhos feitos com agulha e tinta (o visual) para propor essa memória extra ao cliente. “É uma combinação entre processamento de áudio, reconhecimento de imagem, visão computacional e computação em nuvem, que cria uma experiência de realidade mista”, detalha Nate Siggard, inventor da técnica, que deu origem também a um aplicativo para ser baixado no celular. 

Inventor da técnica, Nate não menciona tamanhos máximos para cada desenho; usualmente, no entanto, as tatuagens têm cerca de 20 centímetros

Passo a passo

Na prática, a ferramenta funciona da seguinte forma. O cliente escolhe um trecho de som – pode ser música, a voz de uma pessoa querida ou até mesmo o latido do cachorro de estimação –, que é transformado em ondas sonoras “desenháveis” e, então, reproduzido na pele. 

Para que a tatuagem funcione para sempre, é importante que o traço seja preciso e reproduzido na área mais plana possível do corpo –a parte interna do antebraço é a mais indicada pelo profissional. “Tatuagens sonoras curvas não funcionam”, alerta o profissional, que, agora, procura parceiros para multiplicar a ideia ao redor do mundo.

Por enquanto, somente Nate tem a expertise para reproduzir as ondas sonoras na pele dos t atuados. Para completar o “serviço”, ele também desenvolveu um aplicativo de leitura das imagens, o Skin Motion®, que pode ser baixado no celular, permitindo, assim, ouvir o registro. 

Inicialmente, o cliente paga US$ 39,99 (aproximadamente R$ 166) para “ativar” o som na ferramenta. A partir daí, uma vez por ano, paga uma espécie de aluguel pela manutenção do serviço, ao custo de US$ 9,99 (cerca de R$ 41). O tatuador garante aos clientes o funcionamento de todos os trabalhos que faz.

Tatuagens existem há mais de 3,5 mil anos; povos primitivos usavam a pele para registrar importantes momentos da própria vida

Experiências

No site do Skin Motion é possível testemunhar experiências que deram certo. Em uma delas, uma moça escolheu eternizar na pele do braço o som emitido pela cachorrinha de estimação. Em outra, um casal reproduziu o “eu te amo” dito um ao outro nos respectivos bíceps. 

Nate Siggard explica que é possível não só personalizar o desenho escolhido, preenchendo todo o interior do estêncil (modelo que é feito, antes, no papel) ou fazendo só o contorno, por exemplo, mas tatuar mais de uma onda sonora no corpo. 

Pré-requisito, no entanto, é que as imagens sejam aplicadas em partes diferentes da pele e nunca lado a lado. “Considere colocá-los em diferentes áreas do corpo para que não haja duas ondas sonoras aparecendo juntas na tela do app”, justifica. Skin Motion/DivulgaçãoLEMBRANÇA SONORA
Método criado por norte-americano permite replicar na pele trecho de som escolhido pelo tatuado. Na foto, cliente que reproduziu no antebraço (parte do corpo mais indicado para o trabalho) o ruído da cadelinha, Baci. Confira, no fim da matéria, o vídeo do momento em que ela ouve o áudio


Método ancestral emprega cristal de quartzo para promover ritual de limpeza energética

Mais do que um registro perene na pele, a tatuagem desenvolvida pela artista gaúcha Paola Alfamor, de 28 anos, é um rito sagrado. Construídos ponto a ponto por meio da técnica hand poked – um método ancestral, totalmente manual –, os desenhos dela são delineados por um agrupamento de agulhas fixados em um cristal. 

O objetivo, explica a tatuadora, que vive atualmente em São Paulo, é criar uma atmosfera propícia para um ritual completo de limpeza energética, tanto do ambiente quanto dos envolvidos no processo. “Sem o ruído da máquina (elétrica, a convencional), crio outro ambiente, muito mais especial”, diz. 

O uso do cristal, segundo ela, está ligado à energia que é capaz de transmutar. “Fixo a agulha em um cristal de quartzo porque acredito nas propriedades que tem, no poder de cura e de limpeza energética dos corpos físico e espiritual. Dessa forma, a agulha funciona como condutora de energia, emanando vibrações canalizadas no cristal e expandidas enquanto a tatuagem é feita”, detalha. 

Para ela, tatuagem é mais que uma marca externa, surge da vontade e da intenção por trás do desenho. “É um processo que merece atenção e respeito, é como um portal visual na pele, um símbolo de poder”, acrescenta Paola.

A maquininha elétrica que conhecemos foi patenteada nos Estados Unidos em 1891, baseada em uma criação de Thomas Edison

Limpeza

Não somente a agulha é esterilizada. O cristal usado na tatuagem também passa por banhos com sal, fica em contato com a selenita (cristal que favorece a espiritualidade) e ainda é lavado com água corrente. A ideia é promover uma descarga das energias acumuladas nos trabalhos anteriores. Reenergizada sob a luz da lua ou do sol, a peça é “reprogramada” a cada novo trabalho. “Só tatuo artes minhas e uso muita meditação para me concentrar e receber as inspirações para cada indivíduo”, acrescenta.

Delicado

Mais delicada e, portanto, menos invasiva, a técnica hand poked utiliza somente a força da mão para imprimir o desenho na pele. Por este motivo, segundo Paola Alfamor, é também menos dolorosa e promove uma cicatrização mais uniforme e rápida. “Não é tão agressiva como a maquininha, que ‘rasga’ a pele. Como o desenho é feito ponto a ponto não há tanta irritação e praticamente não há sangue”, detalha a tatuadora. 
 Paola Alfamor/DivulgaçãoRITUALPaola Alfamor considera o processo uma “terapia de transmissão de energia”, pois leva em conta o desejo de quem quer tatuar e a intenção do tatuador

ALÉM DISSO:

Bastante popular nas redes sociais, com mais de 90 mil seguidores só no Instagram, a tatuadora curitibana Verônica Alves transformou a arte de marcar a pele com tinta em verdadeiros rituais. À frente do estúdio Houhou (leia-se rurrú – onomatopeia do som emitido pelas corujas), ela classifica as tatuagens como amuletos. “Os amuletos que tatuo são criados por mim, em um processo intuitivo no qual me sintonizo com o propósito apresentado pelo cliente. No dia do ritual, o processo criativo é explicado olho a olho, coração a coração!”, detalha.

Para ter a oportunidade de ter a pele desenhada por ela é preciso encontrar uma vaga na concorrida agenda. As marcações para rituais em outubro, novembro e dezembro estarão disponíveis a partir deste sábado (15). Avessa a réplicas, a curitibana só reproduz no corpo do cliente aquilo que foi criado por ela e para ele. “Os amuletos são criados intuitivamente e com exclusividade pra cada ritual. Não repito artes e só tatuo criações próprias. Priorizo quem me dá liberdade criativa pois meu servir é criar”, reforça nas publicações no Instagram.

Verônica Alves é adepta da tatuagem ancestral ou hand poked, que dispensa a maquininha elétrica, mais popular entre os tatuadores, e “constrói” a arte ponto a ponto, manualmente. Para reforçar o caráter exclusivo do trabalho que faz, ela utiliza cristais pelo poder de cura que apresentam. 

Confira vídeos de clientes do tatuador norte-americano Nate Siggard, que aderiram às tatuagens sonoras:

Ruído da cadelinha de estimação:

"Eu te amo" de um casal:

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