Estudo testa composto natural encontrado no orégano para combater carrapato do boi

Patrícia Santos Dumont
04/01/2019 às 14:43.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:52
 (Divulgação)

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Alternativa natural, menos agressiva ao meio ambiente, um derivado do óleo essencial extraído de plantas como o orégano pode se tornar uma nova arma de combate ao carrapato do boi. Trabalho conduzido na Universidade Federal de Lavras (Ufla), no Sul de Minas, investiga as propriedades do composto na eliminação e na redução das taxas reprodutivas do parasita. 

Pesquisadora responsável pelo projeto, a veterinária Raquel Romano explica que a primeira fase do estudo consiste em realizar testes in-vitro com exemplares do carrapato. Nessa etapa, o objetivo da pesquisa é entender que concentrações do composto são necessárias para combater os parasitas. A substância deve ser capaz de matar somente metade dos carrapatos e não de exterminar completamente a espécie.

Prevista para ser concluída nos próximos meses, a segunda fase de testes, por sua vez, irá analisar a capacidade do composto de reduzir a taxa reprodutiva do carrapato do boi – tipo mais incidente nos bovinos brasileiros. A expectativa, de acordo com a pesquisadora mineira, é de que os resultados finais sejam obtidos no segundo semestre deste ano. 

“Já existem na literatura estudos que demonstram os efeitos do carvacrol como anti-fungicida e como conservante na indústria alimentícia, por exemplo. O que fizemos foi ir além e transformá-lo numa molécula ainda mais potente, o acetilcarvacrol, para, então, observar a nova atividade no combate ao carrapato do boi”, detalha.

A pesquisa realizada em Lavras é orientada pelos professores Ana Paula Peconick, do Departamento de Medicina Veterinária, e Rafael Neodini Remedio, do Departamento de Ciências da Saúde. Também colaborou o professor Sérgio Scherrer Thomasi, do Departamento de Química da universidade.Divulgação

Infestações causam de redução do leite do animal à baixa qualidade do couro

900 espécies de carrapatos existentes no mundo inteiro, conforme mapeamento realizado pela Embrapa

Menos danos

Menos agressivo para o meio ambiente, para o hospedeiro e até para o produtor rural, o composto testado em laboratório pode se mostrar uma alternativa mais viável de combate a uma das pragas mais comuns na bovinocultura brasileira. 

“Atualmente, maior parte dos remédios usados no combate do parasita são químicos e sintéticos. São agrotóxicos que fazem mal ao meio ambiente e que geram danos também à saúde de quem tem contato com o produto. Além disso, resíduos presentes na carne também podem impactar na nossa saúde. O objetivo da pesquisa é viabilizar uma ferramenta mais natural e que, no futuro, não interfira nem na saúde do homem nem na natureza”, justifica Raquel Romano.

Parasita impacta na saúde do animal e gera prejuízo

Um dos maiores inimigos da pecuária brasileira, o carrapato do boi gera prejuízos financeiros ao país, além de impactar na qualidade do couro que é comercializado e até exportado e de colocar em risco a saúde dos animais. 

De acordo com a veterinária Cinthya Leite Madureira de Oliveira, dentre os impactos negativos gerados pelo parasita estão a transmissão de doenças como babesiose e anaplasmose (tristeza parasitária), redução da produção de carne e leite e risco de morte dos animais. 

Bastante comum nos rebanhos brasileiros, em função principalmente do clima quente, a infestação também gera custos extras, mas evitáveis, aos pecuaristas. “Muitos produtores acham que basta chegar à loja e pedir um remédio qualquer, mas isso muitas vezes é caro e não funciona. O custo para combater o carrapato do boi é realmente alto, mas poderia ser melhor calculado”, enfatiza a extensionista da Emater-MG.

De acordo com a profissional, o combate adequado da infestação passa por testes de sensibilidade do parasita aos carrapaticidas disponíveis no mercado. O exame é semelhante ao que é feito nos casos de infecções bacterianas em humanos. A avaliação nos bovinos consiste em determinar o produto mais apropriado para combater o carrapato presente em cada propriedade. 

Em busca de antígenos mais eficazes contra o parasita, pesquisadores da Embrapa mapearam o genoma do artrópode e identificaram que a sequência genética dele é duas vezes maior que a dos humanos

A conduta adequada garante economia de recursos e de mão de obra, além de desacelerar o processo de resistência dos parasitas e de agredir menos o meio ambiente. “Alguns passos e determinações precisam ser seguidos para a eficácia e o combate esperado”, alerta a veterinária. 

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o carrapato do boi – Rhipicephalus (Boophilus) microplus – é o mais prevalecente nos rebanhos brasileiros e ocasiona, por ano, prejuízo estimado em R$ 7,62 bilhões.

Pesquisas também mostram que animais com infestação moderada pelo parasita podem perder, por ano, uma arroba, o equivalente a 15 quilos.Divulgação

Óleo testado em laboratório é extraído de diferentes plantas, dentre elas o orégano; espécie de carrapato utilizada é a de maior incidência no Brasil

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