Falta carne, sobra sabor: festival permite encontro entre pratos veganos e vegetarianos

Patrícia Santos Dumont
pdumont@hojeemdia.com.br
13/09/2018 às 08:51.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:25
 (Débora Campos/Divulgação)

(Débora Campos/Divulgação)

Moqueca sem peixe ou frutos do mar, cachorro-quente sem salsicha, carne de sol “de mentirinha”. Não se espante! Pratos tradicionais na cozinha nossa de cada dia podem ser perfeitamente reinventados para agradar um outro tipo de paladar: o dos que riscaram do cardápio a proteína ou demais ingredientes de origem animal. Parcela cada vez mais significativa da população do mundo inteiro, vegetarianos e veganos terão, em Belo Horizonte, um festival para chamar de seu.

VegExperience, como foi batizado, desembarca na capital mineira no próximo dia 4 e tem como objetivo incluir adeptos dos dois estilos de vida e democratizar a “culinária sem carne”. Idealizado pela influenciadora digital Débora Campos, do blog Viverdequê?, o festival reúne 12 estabelecimentos (de BH e Nova Lima), que criaram pratos vegetarianos (sem carne) e/ou veganos (sem nada de origem animal, como leite) especialmente para o evento, que vai até 4 de novembro (leia mais no fim da matéria).

Chef de cozinha no Wäls Gastropub, na região da Savassi (Centro-Sul), Zito Cavalcante apostou num inusitado “not dog” – versão do clássico hot dog – para agradar a nova clientela. No sanduíche, a estrela será uma salsicha feita à base de vegetais, dentre eles beterraba. 

Zito ressalta, porém, que o objetivo não é simplesmente replicar o cachorro-quente da forma como conhecemos. “É uma brincadeira. Quem come não pode querer experimentar a mesma coisa. Formatamos da mesma maneira, caprichamos no tempero, mas reproduzir a textura é bem difícil”, avisa. 

Outra criação da casa que promete chamar atenção é o brigadeiro Petroleum. Tradição entre os brasileiros, o docinho leva só leite condensado (sendo, portanto, vegetariano) e um dos rótulos mais apreciados da cervejaria belo-horizontina (Petroleum), uma stout com aromas de chocolate, café e caramelo.Débora Campos/DivulgaçãoWÄLS GASTROPUB
Versão vegana do tradicional cachorro-quente, not dog tem salsicha feita de vegetais servida no pão de sal, acompanhada por molho de tomate e cebolas fritas


Criação

Outro que aceitou se aventurar nesse universo, ainda pouco explorado nos restaurantes brasileiros, foi o proprietário do Único Pampulha, na região de mesmo nome, também na capital. “Carne de sol” de cebola foi a criação do chef Leandro Garandy para o guisado Guimarães Rosa. “A cebola é cortada fininha para remeter à aparência da carne de sol, e frita. Desmancha na boca. Por cima, vai um molho de cachaça, café e rapadura”, detalha. 

Para o chef, que tem no cardápio da casa a opção de prato vegano, à escolha de cada cliente, não podem faltar numa cozinha sem produtos de origem animal cogumelos frescos. “É o carro-chefe”, afirma.

Chef e proprietário do Patuscada, no Funcionários, e vegano, diga-se de passagem, Diego Viana vai de moqueca de couve-flor com banana-da-terra. No prato, servido com pirão e arroz com ervas, vão ingredientes tradicionais do clássico baiano: leite de coco, pimentões vermelho e amarelo, coentro e azeite de dendê. Diego Viana/Divulgação

PATUSCADA
Restaurante tem moqueca de couve-flor e banana. Prato, que não leva nenhum ingrediente de origem animal, é preparado com leite de coco, coentro e azeite de dendê

A sobremesa do estabelecimento também promete arrancar suspiros. “O bolinho tradicional leva bastante ovo e manteiga, que, aqui, substituímos por linhaça. A consistência não é idêntica, mas o sabor, garantimos”, promete o chef de cozinha. 

Cozinha sem carne é laboratório para boas ideias e exercício de criatividade

Estudante de gastronomia, influenciadora digital (autora do blog Viverdequê?) e idealizadora do festival em BH, Débora Campos diz que as culinárias vegana e vegetariana não precisam, necessariamente, ser baseadas em releituras de pratos tradicionais. Segundo ela, é possível cozinhar sem carne ou outros ingredientes de origem animal abusando de criatividade e explorando combinações. 

“Normalmente, descobrimos outros alimentos. Acaba sendo um processo criativo, já que usamos uma gama grande de verduras e legumes antes não explorados. O mais interessante é testar, ver o que fica e o que não fica bom. Assim, criamos receitas novas. É um laboratório”, comenta Débora, vegetariana há 13 anos.

Antes de definir os cardápios, os estabelecimentos participantes desta edição do VegExperience fizeram uma espécie de consultoria com a idealizadora do evento. O objetivo foi orientar os chefs não só quanto ao uso de ingredientes e substituições possíveis em pratos clássicos, como abordar as filosofias de vida por traz das escolhas dos dois grupos alimentares. 

Pesquisa encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira e realizada pelo Ibope este ano, mostrou que o total de brasileiros que cortaram a carne do cardápio soma 30 milhões de pessoas ou 14% da população do país. Débora Campos/DivulgaçãoÚNICO PAMPULHA
Menu tem “carne de sol” feita com cebola. Guisado Guimarães Rosa leva mandioca folhada no azeite de urucum, feijão de corda e farofa com banana caturra

Além disso:

A segunda edição do VegExperience acontece em estabelecimentos de Belo Horizonte e Nova Lima, na Grande BH, entre os dias 4 de outubro e 4 de novembro. O evento irá reunir 12 estabelecimentos, dentre restaurantes e lanchonetes, com o propósito de atender adeptos de alimentação vegana e vegetariana. No veganismo, nenhum ingrediente de origem animal é consumido. Já no vegetarianismo, a restrição vale para todos os tipos de carnes.

Os participantes puderam escolher entre participar criando pratos vegeterarianos e/ou veganos. Dentre os 12 locais, apenas um escolheu receitas somente vegeterianas, quatro optaram por veganas e o restante (7) irá servir pratos para adeptos dos dois estilos de alimentação.

Ponto a ponto:

O menu completo de todos os estabelecimentos participantes e os horários de funcionamento podem ser conferidos clicando aqui.

Conheça os 12 restaurantes integrantes do festival. 

1. Camaradería Gastrobar
Rua Cláudio Manoel, 555 – Funcionários (BH)

2. Duke’n’Duke 
Buritis: Rua Henrique Badaró Portugal, 147 (BH)
Savassi: Rua Alagoas, 1470 (BH)
Vila da Serra: Alameda Oscar Niemeyer, 1033/loja 18 (Nova Lima)

3. Est! Est! Est! 
Funcionários: Avenida Getúlio Vargas, 107 (BH)
Alphaville: Centro Comercial Alphaville – Center IV: lojas 112 e 113 (Nova Lima)

4. Namah Bistrô
Rua Tomás Gonzaga, 531 – Lourdes (BH)

5. Patuscada
Avenida Bernardo Monteiro, 154 – Funcionários (BH)

6. Pellegrino
Rua Laranjal, 459 – Anchieta (BH)

7. Pinguim
Rua Grão Mogol, 157 – Sion (BH)

8. Primeli Bistrô
Rua Alabastro, 49 – Horto (BH)

9. Trindade
Rua Alvarenga Peixoto, 388 – Lourdes (BH)

10. Único Pampulha
Avenida Coronel José Dias Bicalho, 547 – Pampulha (BH)

11. Villa Celimontana
Avenida Coronel José Dias Bicalho, 1091 – Pampulha (BH)

12. Wälls Gastropub
Rua Levindo Lopes, 358 – Savassi (BH)

Mais fotos! Delicie-se com fotos de alguns pratos que serão servidos no VegExperience:Débora Campos/Divulgação

VILLA CELIMONTANA
Típico italiano no coração da Pampulha, restaurante tem releitura da parmegiana tradicional, feita com berinjela; prato custa R$ 21 com passaporteDébora Campos/Divulgação

PINGUIM
Restaurante tradicional no Sion preparou risoto de moranga ao leite de coco que, com passaporte do festival, sai por R$ 19,50 (metade do preço cheio); estabelecimento também irá servir espaguete de legumes à provençalDébora Campos/Divulgação

TRINDADE
Restaurante de cozinha brasileira vai servir pratos vegetarianos e veganos. Um deles é a moqueca de banana com arroz de castanhas e farofa. Também tem risoto de arroz negro, castanhas e frutas secasE. Anderly/DivulgaçãoPRIMELI BISTRÔ
Estabelecimento preparou pappardelle (massa cortada em tiras largas) de cogumelos (foto) e risoto de rúcula com tomate seco. Receitas atendem aos dois públicosDébora Campos/DivulgaçãoPELLEGRINO
Restaurante criou duas entradas, dois pratos principais e duas sobremesas. Um dos destaques é o trio de espaguetes: de pupunha, cenoura e abobrinha, com molho ao pesto e mediterrâneo (foto)Renata Melo/Divulgação

NAMAH BISTRÔ
Prato principal do espaço, que é originalmente voltado para o público vegano, é nhoque de banana da terra com molho cremoso de curry e sementes de abóbora Débora Campos/Divulgação

EST! EST! EST! 
Restaurante do chef italiano Simone Biondi incluiu no menu sobremesa típica, a panacota, que nessa versão, leva calda de chocolate. Restaurante também vai servir ravioli de ricota e maltagliati ao funghi. Estabelecimento preparou receitas veganas e vegetarianasDébora Gabrich/DivulgaçãoDUKE'N'DUKE
Opção de entrada da casa são os nachos veganos – tortilhas de milho crocantes acompanhadas por guacamole, salsa de tomate e especiarias e pimenta jalapeño (acima). Os pratos principais são dois hambúrgueres: um à base de quinoa e outro, vegetariano, com abobrinha, batata e cenouraBruno Faria/Divulgação

CAMARADERÍA GASTROBAR
Especialista em culinária vegana, estabelecimento tem risoto de shitake com aspargos, tomate cereja e “parmesão” de castanhas (acima), além de hambúrguer de cogumelos com maionese de castanha de caju

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